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20 maio, 2023 Jovem "zero"

É assim que vou chamar a esta jovem para não ser específica.

Caso não haja intervenção rápida, apenas haverá o produto final. Parece-me que o produto final irá ser violentíssimo! As pessoas acham normal, ou tentam dar "normalidade" ao que se passa, comparando-a com outras jovens, ou com a juventude no geral. Mas será que essa comparação é válida?

 

Jovem

Não, não é, pois não se pode comparar uma jovem que não tem referências, nem de pai, nem de mãe, com outras que tiveram.

A ausência de tais referências irá fazer com que a jovem as procure nos sítios errados.

Acham normal a Vodka com morango, os piercings, as tatuagens, o fumar, dizendo alegremente "é a juventude".
Esquecem-se que a genética vai falar mais alto, pois há um progenitor que tem a doença da adição, o que a coloca com uma grande predisposição à adição!

A raiva latente está lá, a vodka e os cigarros são uma anestesia aos sentimentos. As tatuagens são uma linguagem não verbal de quem não se sabe exprimir ao falar de sentimentos. A cabeça raspada é uma automutilação não verbal.

As amigas e amigos da vodka com morango, cigarros e drogas = gangue (conjunto de pessoas que seguem rituais autodestrutivos juntos) = a família.
Esta é a resposta, a ausência de referências fez com que este ser humano fosse à procura de uma família que sentisse de forma semelhante, ou igual a ela.

Agora, a fulana tal é a irmã, o fulano tal é o irmão, a fulana tal é a mãe, o fulano tal é o tio.
Tal e qual como nas prisões, onde há sempre uma mãe, avó, tia, irmã, pois, é assim que se estruturam dentro das prisões.

Cá fora, crianças sem referências e perdidas também o fazem, pois, o ser humano precisa de referências para sobreviver.
A sua cognição social, a perceção, está desconectada e do avesso.

Não se pode exigir a estas crianças que se comportem de forma familiar normal e muito menos a esta criança que teve como família uma instituição, com outras jovens desestruturadas, também sem referências.
Aí aprenderam a adaptar-se ao sistema. Aprenderam a responder ao que os adultos gostam de ouvir.

Uma breve explicação

Quando um jovem é retirado aos pais e colocado numa instituição, entra em modo de sobrevivência de forma imediata.

É assustador o ato de alguém estranho bater à porta, agarrar o jovem e levá-lo para longe de tudo o que conhece. Imaginem o pânico e o desamparo emocional!

Já dentro da instituição, o instinto de sobrevivência ativa, e o jovem começa a olhar para os adultos desconhecidos, analisá-los para conhecê-los e assim se conseguir defender.

Entretanto, esta jovem todos os dias espera que alguém a vá salvar, recolher e levá-la para o que é conhecido, para algum tipo de vínculo amoroso.
Ao longo dos anos, o que recebe é empatia e não compaixão, então...

O vínculo deixa de existir, e muito dificilmente criam vínculo no futuro. Houve sim um desamparo! A verdade é que ninguém a foi buscar/ salvar. Esta é a verdade pura e crua!

Mas agora, a jovem "zero" já com 18 anos, está na "rua", inserida no meio de outros e de outras crianças perdidas que sentem da mesma forma que ela, reagem à dor da mesma forma. O sexo, tabaco, tatuagens e drogas são um alívio imediato de uma linguagem não verbal - são uma forma de dizer como estão zangados e "que são muito maus". A verdade é que estes jovens choram imenso quando em terapia.

Este tipo de terapia com estes jovens não poderá será somente de abordagem humanística, pois terá que ser um meio/equilíbrio entre Freud e Carl Rogers.

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