17 junho, 2021 Os sonhos da Xana: Xana desamparada
Ele chega...
Atrasado.
Não me cumprimenta.
Não me pergunta como estou.
Vai direito ao assunto.
Não respeita o meu pudor.
Força a minha intimidade.
Apropria-se de mim.
Faz-me sentir um objecto.
Um corpo de carne.
Que lhe pertence...
Que está ao seu dispor...
Que ele expõe...
Esfrega...
Manuseia...
À sua vontade.
Ele é o homem da casa.
O detentor das chaves.
E impõe-se como tal.
Não lhe importam as queixas.
As aflições.
Os gemidos...
Duma pobre mulher...
Desamparada...
Demasiado ansiosa...
Que ele chegue...
Para a penetrar sem permissão.
Na verdade, ela começa a vir-se...
Pelas pernas abaixo...
Mal ele abre a porta...
E o ouve entrar em casa.
É como se todos os dias...
Fosse uma história diferente...
Mas que é sempre a mesma.
Ele chega...
Atrasado.
Nunca diz nada.
Ataca-me como se fôssemos animais.
Irrompe em mim como se eu fosse pura.
Ama-me como um louco ama...
Alguém que não existe.
Ele chega sempre atrasado.
Eu chego sempre onde quero.
Ele leva-me lá. Ele é o meu marido.
Eu sou a esposa dedicada. Não quero acordar do sonho...
Odeio-o.................
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Xana Pascual
Sou uma mulher divorciada, discreta e sempre tive uma moralidade muito acentuada. Pelo menos, quando estou acordada... Porque, quando adormeço, tudo se altera.
Os sonhos libertam-se – libertam-me! – e as fantasias multiplicam-se num território onde não há reservas, não há pudor e não há limites para a depravação…
Os meus dias são tão normais como os de qualquer outra pessoa. É à noite, no planeta húmido dos meus lençóis, que a verdadeira Xana se revela. E essa, ninguém a pode segurar!
Se quiserem comentar os meus sonhos ou partilhar os vossos, podem fazê-lo neste email: os.sonhos.da.xana@gmail.com
Mas baixinho, para não me acordarem…