31 mai, 2015 Revelações sobre o que é ser transexual
Esclareça tudo aquilo que sempre quis perguntar, mas não convém...
A transexualidade é ainda um mistério para muitas pessoas e há quem não consiga evitar fazer as perguntas mais erradas a quem vive com este transtorno de identidade de género. Esclareça aqui as suas dúvidas e veja aquilo que nunca deve perguntar a um transexual. Um vídeo para ver e aprender...
Este vídeo foi feito no âmbito do programa "Free Speech" [algo como Liberdade de discurso] da BBC e inclui vários elementos da comunidade transexual britânica - a saber Paris Lees, Fox Fisher, Veronica Blades, Adeleh Sasansara, Munroe Bergdorf, Dani Gibbison e Harry Taylor.
Estas pessoas foram confrontadas com perguntas inapropriadas que costumam ouvir, relativamente à sua condição de transexuais. São questões que passam pela cabeça de muitos que encerram, de facto, não apenas um desconhecimento muito grande relativamente à condição de transexual, mas uma maior insensibilidade.
Ora fique com algumas dessas perguntas indevidas e com as necessárias explicações dos intervenientes no vídeo...
"Quando é que decidiste tornar-te transexual?"
"Quando é que decidiste ser um ser humano?" É assim que um dos transexuais do vídeo responde.
"Acho que acordei, algures em 2008, e pensei, bem, isto vai ser engraçado!" É o que diz outro transexual reforçando a ideia de que não se trata de uma decisão que se tome de um dia para o outro, mas de uma descoberta que se faz.
Os transexuais sofrem de um transtorno de identidade de género, o que quer dizer que se sentem no corpo errado - alguém que nasce com o sexo masculino, mas se sente mulher, ou que nasce com o sexo feminino, mas se sente homem.
"Toda a minha infância foi, basicamente, tu és um rapaz, não podes brincar com isso; és um rapaz, não podes fazer isso... E, todas as noites, eu ia para a cama e perguntava `Deus, porque é que não consigo perceber isto?` Eu não sou um rapaz."
"És uma drag queen?"
Ser transexual não é o mesmo que ser drag queen ou travesti. Os travestis gostam de se vestir como as pessoas do sexo oposto - os homens que gostam de se vestir de mulheres e as mulheres que gostam de se vestir como homens -, mas não se sentem na pele desse sexo oposto.
"Tens a certeza de que não és simplesmente gay?"
Esta pergunta reporta para dois conceitos que muitas pessoas confundem, a sexualidade e a identidade de género, e que não estão directamente relacionados. E é contrária ao princípio fundamental do direito à identidade de género que assiste às pessoas transexuais.
O género é uma coisa íntrinseca a cada um - nasce-se com órgãos sexuais masculinos ou com órgãos sexuais femininos. Mas a identidade de género não depende apenas da fisionomia e de se ter um pénis ou uma vagina, dependendo de factores genéticos e hormonais, mas também de circunstâncias sociais.
Cientificamente, não é claro o que determina o transtorno de identidade de género e, por isso, não se sabe explicar porque é que uma certa pessoa é transexual. Mas ela tem direito à identidade de género é algo muito prematuro e aparece primeiro do que a orientação sexual.
Antes de as pessoas terem a percepção do outro, da atracção física pelo outro, precisam de ter consciência de si próprios.
"Como é que fazes sexo?" ou "O que é que fazes na cama?"
"Com muita felicidade", eis como um dos transexuais do vídeo responde a estas perguntas que costumam pairar na cabeça de alguns.
Este é aquele tipo de pergunta deveras incomodativa e que não se faz, por exemplo, a alguém heterossexual.
"É uma conversa que eu não quero ter com uma pessoa com quem não esteja a pensar em fazer sexo."
"Eu não vou por aí a fazer perguntas a estranhos sobre o que fazem na cama. Por isso, porque é que pensam que me podem fazer essas perguntas?"
"Que casa de banho é que utilizas, a dos homens ou a das mulheres?"
"A limpa", é outra das respostas à altura que aparecem no vídeo.
Como é evidente, cada transexual deve utilizar a casa de banho do género com que se sente identificado. Porque, efectivamente e para todos os efeitos, essa pessoa é do tal género com que se identifica.
Mas, hoje em dia, é cada mais recorrente a ideia de que é preciso constituir casas de banho públicas transgénero, no respeito à diferença e às condições fisiológicas dos muitos transexuais que não passaram pela efectiva operação cirúrgica de mudança de sexo.
"Já fizeste a operação?"
E a operação é outra das grandes curiosidades que assalta a mente de muitos. Os transexuais do vídeo confirmam que, todos os dias, há quem lhes pergunte isso.
"Eu já fiz várias, a qual é que nos estamos a referir?"
"Quando as pessoas me perguntam, eu digo, eu posso fazê-la amanhã, dá-me o dinheiro!"
Na verdade, este procedimento é muito caro e na maioria dos países é preciso que sejam os visados a custear todo o processo. No Reino Unido, por exemplo, o Sistema Nacional de Saúde comparticipa as despesas inerentes à cirurgia de mudança de sexo.
Mas há transexuais que não sentem necessidade de proceder a esta transformação, considerando que ela não é determinante para a sua identidade de género e para o seu bem-estar sexual, social e físico.
O que é ser transexual?
O Transexualismo, de acordo com o Dicionário da Línga Portuguesa Contemporânea, define-se como a "sensação de inadequação de alguém, em relação ao sexo de que é portador, acompanhada pela vontade de uma intervenção cirúrgica, visando a transformação sexual das características genitais externas."
De uma forma mais concreta e simplista, um transexual masculino "é a mulher que se sente homem, com natureza de homem e quer ser homem" e um transexual feminino "é o homem que se sente mulher, com natureza feminina e quer ser mulher", conforme se explica na página de Internet da Associação Opus Gay.
É evidente que estas definições são sempre muito simplistas face a uma realidade que é muito complexa e cujas origens não estão ainda explicadas cientificamente.
Mas, mais importante do que tudo isso, é aceitar a diferença e as escolhas de cada um. Só isso permitirá que a liberdade individual de todos seja respeitada.
[Se quiser aprofundar este assunto pode ler o artigo "Padrasto de Kim Kardashian assume que é uma mulher", no qual se fala do processo de transformação do antigo atleta olímpico Bruce Jenner, que se assumiu recentemente como transexual.]
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)