10 mars, 2021 Crónicas da Lábia: A ditadura do orgasmo
Ter um orgasmo ou não ter um orgasmo. Eis o velho e eterno dilema feminino.
Tempos houve em que o orgasmo feminino era visto como algo pecaminoso que não acontecia às "mulheres de bem". Agora, o grande pecado é não ter um orgasmo! Atualmente, o orgasmo impõe-se às mulheres seguras de si e bem-sucedidas como mais uma prova do seu sucesso.
Ter um orgasmo ou não ter um orgasmo. Eis o velho e eterno dilema feminino. Muitas mulheres gozam quando se masturbam sozinhas, mas têm dificuldades em ter um orgasmo durante o sexo com homens.
Essas que não conseguem vir-se com eles são vistas como "defeituosas", seja por não conhecerem o próprio corpo, nem saberem como explorá-lo, seja por não saberem comunicar aos parceiros do que gostam.
É certo que não conseguir ter orgasmos durante o sexo pode tornar-se frustrante para algumas. Mas desde que não seja um problema, o orgasmo pode ser acessório e irrelevante. Aliás, ter um orgasmo não é necessariamente sinónimo de bom sexo.
Uma mulher pode chegar ao orgasmo com uma rapidinha, sem grandes preliminares e sem manobras imaginativas, numa sessão de sexo de pouco memória. Mas pode também ter uma noite prolongada de sexo, com intensidade e prazer q.b., sem conseguir chegar lá.
O orgasmo feminino é um processo complicado e quanto mais se impõe como algo obrigatório, mais difícil é lá chegar. Isto porque é, sobretudo, cerebral.
Muitas mulheres que têm dificuldade em chegar ao orgasmo com os parceiros, relatam como lhes é complicado "desconectar". Ora, quanto for maior for a pressão para chegar ao orgasmo, mais difícil será chegar lá - a ansiedade é a maior inimiga do prazer (feminino e masculino).
É que não se tem um orgasmo como algo que um parceiro nos dá de bandeja! Aprende-se a tê-lo. Aliás, há especialistas que dizem antes que uma mulher aprende "a permitir-se" um orgasmo.
Assim, é preciso aprender a deixar-se levar, a entregar-se ao corpo e às suas sensações, a sair desse corpo e a ser apenas sensação e prazer. É um processo pessoal e centrado no nosso corpo - o papel do amante é, portanto, secundário. O orgasmo é algo a que uma mulher chega sozinha, mesmo quando acompanhada.
Mas se estás aí toda preocupada em marcar num caderninho ou numa app quantas vezes te vieste nesta semana, deixa-te disso! Esse é o caminho certo para a "tragédia" de não chegares lá. Simplesmente, descontrai e deixa-te ir... Sem pressas, sem metas e sem medos.
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)