04 mars, 2017 Na cabeça de uma pessoa transexual...
Uma curta-metragem ilustra os dilemas do dia-a-dia de quem é trans...
Uma ida ao ginásio, a básica necessidade de ir a uma casa de banho, um telefonema do banco ou uma ida ao ginecologista. Tarefas tão simples que podem ser uma verdadeira dor de cabeça para as pessoas transgénero, como fica patente neste vídeo para alertar consciências.
Intitulado "Headspace", esta pequena curta-metragem demonstra os desconfortos e discriminações que as pessoas transexuais têm que enfrentar no quotidiano. É uma chamada de atenção para a forma como ser transgénero ainda carrega um pesado estigma na nossa sociedade actual.
No filme participam várias figuras transexuais que se destacaram ultimamente entre a comunicada LGBT, respectivamente Laith Ashley, Kieran Moloney, Munroe Bergdorf e Hannah Winterbourne.
Laith Ashley é um modelo de origem dominicana que nasceu mulher em Harlem, Nova Iorque. Aos 17 anos, assumiu-se como lésbica aos pais, mas acabou por descobrir que afinal, é transgénero.
Actualmente com 26 anos e licenciado em psicologia, foi depois de prestar apoio a jovens trans sem-abrigo, num centro comunitário, que resolveu dar início ao seu processo de transição, em Janeiro de 2014. Tomou testosterona durante dois anos até se submeter à cirurgia, em 2015, e hoje diz que se sente realizado na sua pele.
"Houve muito medo, no princípio. Levei seis anos, desde o momento em que me assumi como trans a começar mesmo a minha transição médica. Logo que ultrapassei esse medo, não houve travão para mim. Estou mais confortável do que alguma vez estive. Quando me olho no espelho, sinto-me satisfeito com a imagem. É como quero apresentar-me ao mundo. Isto sou eu."
Kieran Moloney também fez a transição de mulher para homem. Este neo-zelandês de 25 anos, que vive como Kieran desde os 18 anos, diz que se identificou, desde muito cedo, como um homem.
Sujeitou-se a injecções de testosterona e fez várias cirurgias, nomeadamente para reconstruir o peito, mas ainda não teve confiança suficiente para prosseguir com a cirurgia de reconstrução genital.
Da sociedade espera compreensão e pede mais educação a começar desde cedo nas escolas.
"As pessoas trans não precisam de aceitação ou de ganhar a aprovação de ninguém - ninguém precisa. É de compreensão que precisamos. Desde a idade do liceu, devia haver educação sobre identificação de género, transição de género e as diferentes pessoas na sociedade moderna."
Munroe Bergdorf é uma transgénero que nasceu num corpo de homem há 28 anos, no Reino Unido. A DJ e modelo vive como mulher desde os 18 anos, altura em que começou a tomar as hormonas dos amigos trans. Aos 23 anos iniciou, finalmente, o seu processo de transição com acompanhamento médico.
Actualmente, é voz activa na defesa dos direitos das pessoas LGBT e apela ao respeito pela diferença.
"É importante que o mundo perceba e respeite as pessoas transgénero e os direitos que elas merecem ter na sociedade. Sou tão mais feliz agora do que quando estava a crescer. Quero que as pessoas saibam que não há problema em ser diferente e que não devem ter medo de serem a pessoa que são."
A Capitã Hannah Winterbourne é, actualmente, o soldado transgénero britânico de mais alta patente. A militar que nasceu com um corpo de homem e que foi nessa condição para o Afeganistão, em missão no exército, resolveu assumir-se como transexual em 2013.
Até 2000, o exército britânica não permitia a admissão de pessoas LGBT. Mas com a alteração à lei, a Capitã de 29 anos pôde "sair do armário" e assumir o seu eu verdadeiro e, em jeito de mensagem, releva a importância da auto-aceitação.
"Eu sei que sou uma mulher transgénero, sei que tenho características masculinas, sei que sou alta, sei que tenho pés grandes, sei que tenho voz grossa, mas são os meus pés grandes, é a minha voz grossa e é a minha identidade. E estou feliz com ela. Sou transgénero, nunca vou deixar de ser transgénero. Se gostaria de ter nascido mulher em primeiro lugar? Claro. Enfrento restrições. Não posso ter um filho meu, por exemplo. E a sociedade ainda nos vê como menos mulheres."
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
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