20 novembre, 2016 A força das palavras no sexo
O “dirty talk” nunca deve ser clean.
Para além do envolvimento físico obrigatório entre duas (ou mais!) pessoas no contexto horizontal de uma cama que não seja dormir, a verbalização de certos termos durante o acto tem um papel fundamental na elevação das sensações.
Trocando por miúdos, deixar a língua solta durante uma foda pode transformar a mesma em algo mais que um mero descarregar de vontades líquidas de parte a parte. Para o chamado “dirty talk” funcionar, convém existir previamente um conhecimento mútuo do que é que mexe com cada um, para que não se dê tiros na própria picha. O que para mim ou para o leitor poderá ser, de facto, uma palavra, termo ou ordem excitante, para a receptora pode ser meio caminho andado para ela fechar as pernas e virar-se a pedir explicações.
O que é uma merda, porque as nossas intenções até eram bastante boas e fomos mal interpretados.
Por outro lado, se o receio de chocar é uma constante no nosso pensamento e tentamos suavizar a coisa empregando sinónimos dignos de uma consulta de ginecologia, corremos o risco da receptora fechar as pernas e pedir explicações a rir do que caralho é que estamos para ali a dizer.
Até hoje, e corrijam-me se estiver enganado, “você está a gostar do meu pénis, não está, sua marota?” nunca ajudou ninguém a não ser um gajo que escreve artigos de teor sexual com um toque humorístico para o mesmo estabelecer um termo de comparação. Por outro lado, “sua cabra de merda, gostas mesmo de levar com ele bem fundo, não gostas?” já me parece mais provável de ter sido dito por outrem e apreciado por outro outrem. Ou não. Porque também pode ter dado azo a “mas estás a chamar cabra a quem, seu cabrão de merda?”. É fodido. Dar tiros no escuro no “dirty talk” tem tanto de emocionante como de arriscado, porque se a coisa for espontânea e bem recebida do outro lado, dá uma tesão do caralho e parabéns a todos os envolvidos na questão.
Nisto temos de dar a mão à palmatória às meninas, pois costumam sentir-se mais à vontade para soltar a “inner slut” para enaltecerem mais a experiência e, com isso, darem “carta verde” ao parceiro para continuar o “diálogo” dentro dos mesmos trâmites. Mas ainda é preciso ter cuidado depois deste ponto, porque se uma gaja fala em “caralhos” e o outro em “vaginas” está a ocorrer aqui uma falha grave de comunicação sexual. No “dirty talk” não deve haver barreiras, por isso, ou estamos à vontade para o fazer ou não o fazemos sequer. Transformar qualquer foda num interrogatório policial também se pode revelar chato para um dos lados e há que usar os “estás mesmo a gostar, não estás?”, “de quem é esse caralho.. DIZ!” e os “gostas mesmo de o meter fundo, não gostas?” com alguma contenção. No fundo, a conversa durante o acto serve para estimular a mente mais além e não fazer que uma pessoa pare para pensar no que deve dizer. Deve ser um diálogo livre e espontaneo sem amarras em que desejos, gostos e adjectivos são trocados de parte a parte.
Monólogos também podem ser chatos, mas há quem goste.
Pessoalmente, se alguém está a falar comigo mesmo que esteja de cu virado para mim, o mínimo que a boa educação me ensinou é que é de bom tom responder mesmo que seja a chamá-la de tudo menos santa. Adaptar a nossa linguagem à da parceira é uma boa prática, porque nem todas são porno stars, assim como nem todas são meninas de bem e ambas podem gostar de palavreado forte a levar com ele. Talvez seja arriscado fazer uso do “dirty talk” na primeira foda, talvez não. Talvez a beleza seja mesmo essa, a de pressentir que aquela pessoa vai gostar de ouvir aquilo naquele preciso momento e no timing perfeito há que soltar aquela frase perfeita junto ao ouvido enquanto se agarra nos cabelos e nas ancas.
Fodam para aí.
Até quarta e boas fodas.
Noé
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.