03 mai, 2021 Um reencontro - Parte I
Ninguém estranha a forma como lidamos um com o outro...
Passaram-se nove anos desde a última vez que nos tínhamos visto. Ele já estava casado e tinha dois filhos e eu tinha-me juntado com o meu ex, que entretanto deixei novamente. No meio daquele tempo em que nunca mais nos vimos, chegámos a falar uma única vez. A vez em que assumimos um ao outro o que sentíamos, aquilo que nunca teríamos tido coragem de dizer, aquilo que pensávamos que o outro não sentia igual.
É verdade. Amor de primos existe mesmo e esse passou sem deixar marca física, pois nunca tivemos coragem de o assumir enquanto foi tempo, mesmo que não fosse o mais correto.
- A verdade é que eu sempre senti algo por ti, mas achei que tu estavas só na brincadeira comigo, porque nunca ias até ao fim. Acabavas por ir embora. – dizia-me ele naquelas mensagens.
- Sempre acabei por fugir, não ir embora, porque tal como tu também achei que fosse apenas brincadeira da tua parte e coisas da minha cabeça. – dizia-lhe eu.
E foi esta a nossa última conversa.
Passados todos estes anos, a vida voltou a fazer-nos encontrar.
A minha tia, a mãe dele, a que me recebia todos os verões, férias da Páscoa e em todas as alturas que eu lá ia, acabou por falecer de um momento para o outro, sem que nada fizesse adivinhar. E como em todas as tragédias, a família volta a unir-se para se dar força e desta vez não foi diferente.
É parte da família muito importante para mim, estiveram comigo em muitas fases importantes e nada mais eu poderia fazer se não estar presente numa altura como esta, independentemente do tempo que terá passado.
Mesmo sabendo o tanto do tempo que já tinha passado e motivo pelo qual eu lá ia, sentia, ainda assim, um nó na barriga, um nervo miudinho por saber que ia estar de novo com ele. Com ele e com a mulher e com os filhos.
Fui a viagem inteira a pensar.
Acabo de chegar. Saio do carro.
Além da situação em si ser dramática e eu nunca saber lidar bem com estas coisas, porque nunca sei o que fazer, o que dizer, porque sou péssima com as palavras, não sabia também de que forma me iria dirigir a ele. Conheço-o bem e sei que se protege numa concha quando se trata destas coisas de sentimentos menos felizes.
Vejo-o ao longe. Os nervos começam a palpitar-me com mais vantagem.
Começo a chegar cada vez mais perto dele. Vejo que está com uma postura como se não fosse nada com ele. Tal como eu já esperava.
Eis que me vou dirigir a si e o meu coração dispara, mas tento agir com a dita “normalidade”.
Olho-o nos olhos.
- Então? – digo-lhe.
- Olha...
Agarro-o no braço e dou-lhe dois beijos na face e faço-o sentir o meu leve abraço. Aquele braço de quem te quer dar apoio, mas sem pressionar.
Ele olha para mim e sorri.
Eu sorrio-lhe de volta.
Ele pergunta-me com aquele seu sorrisinho no canto dos lábios:
- Como é que tu estás?
Ao que lhe respondo do mesmo jeito, mas com um sorriso menos disfarçado, pois nessas coisas não sei ser tão discreta.
- Estou bem. – e sorrio mais ainda.
Foi a partir daqui que voltámos a relembrar as nossas brincadeiras juntos e com outros primos também.
Percebia que mesmo quando se afastava para falar com outras pessoas, ele ficava sempre de olho aqui na prima e não tardava em voltar para junto de mim.
Perguntei-me naquele momento, muitas vezes, se por algum segundo ele se lembrou da conversa que nós tivemos na última vez em que falámos onde falávamos sobre nós os dois.
A cerimónia terá terminado e voltamos todos para a rua.
Ele vem ao meu encontro.
- O que vais fazer agora? Já te vais embora?
Respondo-lhe:
- Sabes que vim de boleia com os tios. Vou ter que saber primeiro o que eles querem fazer, só depois é que consigo dar-te uma resposta, mas não me digas que me vais pagar o almoço. – rio-me.
Ele ri-se de volta.
- Claro que sim. Vamos todos. Queria que também viesses.
- Deixa-me falar com eles e logo te digo.
Fui à minha vida falar com outras pessoas, estar com outras pessoas e perceber então o que se iria passar a seguir. Ficou combinado então de irmos com eles almoçar.
O meu primo liga-me.
- Onde estás? Foste embora?
- Não meu querido, calma. Ainda estou no mesmo espaço que tu. Isso são tudo saudades? – começo a rir-me.
Ele responde.
- Achas que sim!
- Acho! – digo-lhe – assume! – volto a rir.
Ele ri-se de volta.
- Não assumo nada, tu é que estavas cheia de saudades minhas.
- Sim e até fui eu que não aguentei a espera e liguei para ti não foi? Ahahah!
- Parva!– dá uma gargalhada.
- Fica lá descansado. Podes reservar um lugar para a tua mulher de um lado e para mim do outro, isto SE não aguentares nem um segundo longe agora que estou tão perto. – rio-me.
- Nem acredito que disseste isso! – responde sem conseguir parar de rir.
- É não é! Imagina eu! Também não acredito.
Rimos os dois e passados alguns minutos fui ao seu encontro.
- Então cigana, como é?
Respondo-lhe ao ouvido num tom baixo para que ninguém nos oiça.
- Não sei, ainda não o vi.
Ele olha para mim com um ar super incrédulo com a minha atitude com ele.
Volto a dizer-lhe:
- Desculpa! Não sei o que se passa comigo. Devem ser os nervos.
Rimo-nos em uníssono.
Ele passa a mão no meu cabelo discretamente e diz-me junto à minha face.
- Estás bonita, estás!
Olho para ele, sorrio, mas abstenho-me de lhe dar mais alguma resposta.
Procurava no meio de todas aquelas as pessoas a sua mulher, mas não a encontrava.
- Onde está a Cláudia? – pergunto-lhe.
- Ela está ali atrás com uns amigos nossos do restaurante, porquê?
- Por nada. Só para saber. – respondo-lhe.
Finta-me com aquele seu sorriso maroto como habitual.
Ninguém estranha a forma como lidamos um com o outro, porque sempre fomos assim. Sempre tivemos este tipo de brincadeiras, mesmo diante de família e amigos.
A família junta-se e decide então seguir caminho para o restaurante. Como é habitual quando nos encontramos por motivos deste género acabamos sempre no convívio e a relembrar os velhos tempos. Depois da tragédia, vem sempre a nostalgia e as saudades do que já se foi.
- Vais com os tios e queres vir comigo? – pergunta-me.
- Já vais estar comigo outra vez. Eu vou com os tios para não parecer mal e encontramo-nos lá como combinado. Não fiques já com essa ansiedade toda fofinho. – começo a rir-me.
Ele ri-se.
- Deves ter a mania.
- Se não queres que te responda assim então não me dês motivos para isso. – respondo-lhe.
- Então vá, até já.
- Até já, fica descansado que não me demoro. – rio-me.
Chegámos ao restaurante.
Confusão total.
(continua...)
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...