04 Febrero, 2015 Sim, nós (os deficientes), fodemos!
Também acha que sexo e deficiência não combinam? É hora de mudar de ideias...
"Sim, nós fodemos!" É, desta forma despudorada, que se vai falar da sexualidade dos deficientes nos Maus Hábitos, no Porto, no próximo dia 14 de Fevereiro. Uma conferência que pretende desmistificar um tema tabu, porque, afinal, no sexo somos todos iguais.
Falar de sexo na deficiência sem tabus
A primeira conferência "Sim, Nós Fodemos", organizada pelo movimento com o mesmo nome, procura tentar normal uma conversa que causa pudor a muitos, sejam eles deficientes ou não. Sexo e deficiência parecem não combinar, nas mentes de certas pessoas.
Mas, a verdade é que as pessoas com incapacidade têm desejos e prazeres sexuais como os demais ditos normais. E há até quem tenha uma vida sexual mais intensa, como é o caso do homem que só tem 81 centímetros por causa de uma doença congénita.
A ideia desta conferência que se realizará de forma deliberada no Dia dos Namorados, no bar Maus Hábitos, junto ao Coliseu do Porto, é tornar esta conversa da sexualidade e da deficiência num tema perfeitamente natural.
Contando com a presença de psicólogos, de sexólogos e de outros especialistas, serão abordados diversos temas em torno desta temática e haverá ainda uma intervenção do actor David Almeida, que sofre de nanismo, sob o tema "As fodas não se medem aos palcos".
David Almeida é conhecido pela sua postura franca e bem humorada, nomeadamente quanto à sua condição de anão e ao sexo. Ora veja um extracto da sua participação no programa "Cinco para a meia noite" da RTP1...
Inspiração no documentário "Yes, We Fuck"
O grupo "Sim, Nós Fodemos" foi criado em 2013 com o intuito de acabar com os preconceitos em torno da sexualidade dos deficientes. Assumiu o nome inspirado pelo documentário espanhol "Yes, We Fuck", um projecto do activista do movimento Vida Independente, Antonio Centeno, e do realizador Raúl de la Morena, que pretende falar do sexo entre pessoas com incapacidades e/ou disfunções físicas sem complexos, sem censuras e sem preconceitos.
Parceiros sexuais substitutos para pessoas incapacitadas
A sociedade continua a olhar para as pessoas com incapacidades, físicas ou mentais, como uma espécie de crianças, independentemente da sua idade. O facto de serem também pessoas sexuais não entra na cabeça de muitos, mas é uma realidade que o movimento "Sim, nós fodemos!" quer evidenciar.
"O sexo ajuda os deficientes a renascer e a recuperar seu aspecto humano", é o que escreve Marcel Nuss, autor do livro "Je veux faire l’amour" [Quero fazer amor] e deficiente profundo desde os 10 meses de idade, por causa de uma amiotrofia espinal.
Neste livro, este homem, totalmente paralisado, fala do sexo com a sua ex-mulher e com acompanhantes, e reclama o direito à sexualidade assistida para todos os deficientes. "Alguém como eu não pode fazer nada sozinho", nota.
Em países como Alemanha, Holanda, Suíça e Dinamarca a existência de parceiros sexuais substitutos para pessoas com incapacidades está legalizada. Mas, é uma realidade que é contestada em muitos outros países, nomeadamente em França, onde se chumbou esta possibilidade, considerando-se que se trataria de um uso "anti-ético" do corpo humano. Isto num país onde a prostituição é legal.
Estes parceiros sexuais substitutos são também chamados de terapeutas sexuais e têm formação específica, de modo a abordarem as circunstâncias das pessoas com disfunções de forma mais sensível e adequada. Assim, aprendem técnicas de relaxamento e de massagem, recebem aconselhamento e apoio de psicólogos, pois está em causa não simplesmente o sexo por si, mas a partilha da intimidade.
Estes terapeutas sexuais podem envolver-se fisicamente com os seus parceiros incapacitados sem manterem relações sexuais, ou fazendo sexo - fica ao critério de cada um.
Dicas para acompanhantes
A melhor forma de encarar qualquer situação é procurando saber mais, nomeadamente quase se quer saber como agir perante um cliente fora do comum. E, no capítulo sexo, nada é melhor, nesse sentido, do que falar com o parceiro. Assim, deve começar por conversar sobre as deficiências da pessoa, sobre o que ela é capaz de fazer, sobre o que a deixa confortável e sobre aquilo que ela gosta e que não gosta.
Tão importante quanto ouvir, será prestar atenção aos sinais físicos que vai recebendo da pessoa.
Depois, é conveniente que tenha em mente que há certas situações, perante determinadas incapacidades, que podem requerer artefactos extra para criar melhores condições de prazer.
As pessoas com lesões na espinal medula, por exemplo, não sentem determinadas partes do seu corpo, pelo que os homens com esta incapacidade poderão precisar de Viagra ou de outros medicamentos para ficarem com uma erecção. Além disso, anéis para o pénis para ajudar a manter a erecção por mais tempo.
A utilização de vibradores ou de outros brinquedos sexuais pode também ajudar a melhorar as sensações.
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)