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21 Abril, 2022 O seguro morreu de velho...

As redes sociais são um ótimo recurso, porém é preciso ter algum cuidado.

Com o crescimento das redes sociais para venda de conteúdo e divulgação de trabalho sexual, muitas trabalhadoras do sexo veem a necessidade de praticamente tornarem-se digital influencers para poderem ter mais seguidores e com isto aumentarem a sua visibilidade. Para quem tem vocação - e paciência, para isto, as redes sociais são um ótimo recurso, porém é preciso ter algum cuidado.

O seguro morreu de velho...

Eu não sei se é uma tendência da geração Z, pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010, mas vejo uma certa despreocupação com cuidados básicos de segurança na Internet que, sinceramente, preocupam-me, principalmente quando trata-se de trabalho sexual online.

E não refiro-me apenas a não terem preocupação nenhuma a mostrarem a cara em vídeos, fotos, videochamadas, mas o quanto partilham de suas vidas pessoais nas redes sociais para poderem ter mais credibilidade com os clientes, porém, sem perceberem o quanto isso pode ser perigoso.

Apesar do trabalho na internet oferecer uma certa “segurança”, por não haver contacto físico com os clientes, há outros riscos que devem ser levados em conta.

Um exemplo disto foi uma criadora de conteúdo americana que teve a sua casa invadida por um fã, que passou dias escondido no sótão da casa dela e ainda chegou a tirar-lhe fotos enquanto dormia. Podem ler mais sobre este caso clicando aqui.

Agora devem estar a pensar:

“Mas Suzana, isto foi nos EUA, Portugal não é assim!

Infelizmente terei de discordar.

Eu tenho contacto com outras camgirls e criadoras de conteúdo adulto e sei de histórias de meninas que foram abordadas por clientes na rua, algumas foram seguidas e há quem até já recebeu ameaças.

Vou dar um exemplo de algo que aconteceu este ano: em janeiro, uma colega foi ameaçada fisicamente e extorquida por um rapaz que não só sabia, mas também deu as indicações exactas de onde ela morava, onde trabalhava e quais os lugares e horários por onde ela andava. Este rapaz só conseguiu todas essas informações acerca dela, porque ela partilhava a sua localização nas redes sociais.

Se pessoas comuns já têm que ter um certo cuidado com as informações que partilham na internet, nós como trabalhadoras sexuais online, precisamos ter este cuidado ainda maior, principalmente quando trabalhamos apenas na internet, ou seja, não fazemos encontros presenciais. Afinal, nunca sabemos com quem estamos de facto a lidar e do que aquela pessoa é capaz.

O ser humano não vem com uma estampa na testa a dizer que tem má índole ou algum desvio de caráter. Às vezes, o cliente mais amável e educado pode mostrar-se um verdadeiro psicopata de uma hora para outra.

Dicas para trabalhar em segurança online

  • Se não quer ser reconhecida e abordada por algum cliente na rua, evite mostrar a cara em videochamadas, fotos e vídeos.
  • Se um cliente quiser oferecer-te alguma prenda, crie uma conta na Amazon e uma lista pública para que eles possam enviar diretamente para si, sem saber a sua localização exata, no máximo saberão o seu código postal. Uma outra alternativa, caso receba prendas de clientes com frequência, é alugar um apartado nos CTT, desta forma receberá suas prendas na mesma sem precisar expor sua morada.
  • Se vende itens usados como cuecas, meias, collants, etc., tenha sempre atenção ao preencher a morada do cliente e faça o envio registado para acompanhar a entrega, mas nunca coloque a sua morada exata no pacote.
  • Faça os seus conteúdos sempre com a localização do telemóvel desativada.
  • Não use seu telemóvel em redes de wi-fi abertas.
  • Cubra sua câmara do computador ou do telemóvel quando não estiver a usar.
  • Se quiser uma proteção adicional, contrate um serviço de VPN. Este serviço vai ocultar o seu número de IP original, além de oferecer outros tipos de proteção e pode ser usado em vários dispositivos. Custa em média 10€ por mês em planos mensais e 80€ em planos anuais.

Pode até parecer que estou a exagerar, mas como diz a minha mãe:

“O seguro morreu de velho e o desconfiado ainda está vivo.”

Prefiro, muitas vezes, pecar pelo excesso do que pela falta de cuidado com a minha vida pessoal fora da web e com minha integridade física. Infelizmente, existe muito julgamento acerca do trabalho sexual, e nós, como webcam girls e criadoras de conteúdo, não estamos livres de sermos julgadas pelo nosso trabalho.

No primeiro momento que precisarmos recorrer à polícia por causa de algo que nos acontecer, certamente o julgamento baterá sobre nossas cabeças e seremos culpabilizadas, mesmo sendo vítimas de algum incidente.

Diferente de algumas pessoas, eu não vejo o trabalho sexual como algo mau, pode ser muito prazeroso, tem uma boa rentabilidade e oferece uma flexibilidade de horários que a maioria dos trabalhos não têm. Mas não é um trabalho fácil, justamente por todo tipo de gente que temos de lidar e por várias outras coisas a que estamos muito mais expostas.

Por isso, caras colegas, usem todos os recursos possíveis que possam ter acesso para protegerem-se. Afinal, cuidado nunca é demais.

Com amor,

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F. é mente aberta, observadora e crítica por natureza. Apaixonada por literatura, ama ler e escrever sobre sexo. 

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