13 Julio, 2021 APF Alentejo ajuda trabalhadorxs do sexo, migrantes e pessoas LGBTI+
Mais uma reportagem do Especial Associações que prestam apoio a trabalhadorxs do sexo.
A delegação do Alentejo da Associação para o Planeamento da Família é a associação em destaque, neste mês de julho, no âmbito do Especial Associações que prestam apoio a trabalhadorxs do sexo. Vem descobrir como esta IPSS ajuda quem faz Trabalho Sexual.
A Associação para o Planeamento da Família (APF) foi fundada em 1967 e tem delegações em vários pontos do país.
O espaço da APF Alentejo situa-se perto do centro histórico de Évora e a sua principal missão é ajudar pessoas migrantes e trabalhadorxs do sexo (TS).
Através do Projeto Proximus Litoral VI, a delegação atua no litoral alentejano, nos concelhos de Grândola, Alcácer do Sal, Sines, Santiago do Cacém e Odemira. Além de apoiar migrantes e TS, também ajuda populações mais desfavorecidas e minorias étnicas.
Este projeto é financiado pela Direção Geral de Saúde (DGS) e permite fazer testes rápidos de diagnóstico ao VIH, às Hepatite B e C e à Sífilis.
Esses rastreios são feitos numa Unidade de Saúde Móvel que é "facilitadora" do contacto com a população de trabalhadorxs do sexo, como explica ao Classificados X a coordenadora regional da delegação do Alentejo da APF, Cláudia Rodrigues.
A responsável da APF Alentejo destaca que é "sempre preciso gerir" a questão da "confidencialidade", pois as pessoas não querem ser sinalizadas pela população local como TS.
Mas a associação tem muita sensibilidade a esse nível, nomeadamente aquando do contacto direto com bares de alterne e casas onde trabalhem pessoas que se dedicam ao Trabalho Sexual.
Atualmente, esse contacto está facilitado, fruto do trabalho feito no terreno ao longo destes anos de intervenção na região. Foi "um trabalho de conquista, aos poucos", como salienta Cláudia Rodrigues.
Assim, já existe a "facilidade de contactar A, B ou C", explica a coordenadora. E há pessoas que procuram a APF Alentejo, por iniciativa própria, quando mudam de bar, por exemplo. "A pessoa que já nos conhecia de um outro bar acaba por nos abrir a porta para mais um espaço onde podemos ir", salienta ainda Cláudia Rodrigues.
"Muita gente também vem ter connosco para os rastreios e o material preventivo", refere a líder da APF Alentejo, notando a distribuição de preservativos e de gel lubrificante como outras das ações procuradas pela população.
Pandemia obriga a "reconquistar confiança"
Além disso, a APF Alentejo também presta aconselhamento psicossocial e faz ações de informação sobre Saúde Sexual e métodos contracetivos.
Por outro lado, a delegação ainda garante a referenciação para os cuidados de saúde, nomeadamente dos casos de pessoas com testes positivos a Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como o VIH.
No âmbito do VIH/SIDA, aconselha e encaminha as pessoas para as consultas de Profilaxia Pós-Exposição (PPE) e Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) nos hospitais da zona. As duas terapêuticas são essenciais para reduzir o número de infeções, pois ajudam a prevenir o contágio.
A pandemia veio complicar a intervenção da delegação, como aconteceu um pouco com a maioria das associações que atuam junto de populações vulneráveis.
Assim, a APF Alentejo foi obrigada a cancelar algumas atividades durante as fases mais complicadas da crise de saúde provocada pela covid-19.
"Sentimos uma grande quebra ao nível da procura", destaca Cláudia Rodrigues ao Classificados X, frisando que a associação é, sobretudo, procurada por TS mulheres. Algumas delas vão "trabalhar ocasionalmente" para a região alentejana, mas, mesmo assim, mantêm esse contacto regular com a APF Alentejo.
Contudo, essa "quebra" motivada pela pandemia obriga a um "reconquistar da confiança" e a fazer um "grande investimento nestes contactos mais de proximidade", como analisa Cláudia Rodrigues. O objetivo é fazer com que xs trabalhadorxs do sexo voltem a procurar a associação com a mesma afluência de antes.
Mas, por esta altura, a Unidade de Saúde Móvel continua a funcionar e a fazer rastreios "nos concelhos onde não há limitações", segundo nota Cláudia Rodrigues.
Nas idas às casas, por exemplo para a realização de rastreios no local e a entrega de material preventivo, é feito um contacto prévio para estarem "a contar connosco", segundo destaca ainda a líder da APF Alentejo.
Equipa especial para apoiar vítimas de tráfico
Uma das valências da APF, instalada de norte a sul do país, incluindo no Alentejo, é a chamada EME TSH, ou seja, uma Equipa Multidisciplinar para a Assistência a Vítimas de Tráfico de Seres Humanos.
"Sempre que há uma sinalização, uma equipa é destacada para fazer o acompanhamento dessa situação", refere Cláudia Rodrigues ao Classificados X sobre o funcionamento da EME TSH.
Após essa sinalização, as vítimas são acompanhadas, num "contacto direto com a associação e não com a polícia", realça a coordenadora da APF Alentejo. Esse detalhe pode fazer toda a diferença, pois as vítimas sentem-se, habitualmente, mais receosas por terem de falar com agentes policiais.
Mas é preciso dizer que a EME TSH do Alentejo tem trabalhado, sobretudo, com vítimas de exploração laboral, sobretudo relacionadas com produções agrícolas, pois o Alentejo é uma zona onde há muitos migrantes que trabalham em grandes estufas e propriedades.
Consultas de Psicologia para pessoas LGBTI+
A APF Alentejo também disponibiliza consultas de Psicologia através de um serviço pago. Mas, nesse caso, o foco é sobretudo em pessoas e famílias LGBTI+ que, por vezes, se sentem "angustiadas" e que "não tinham nenhum recurso" para as ajudar na região, como destaca Cláudia Rodrigues ao Classificados X.
Era, assim, importante criar condições para que pudessem contactar com alguém que "soubesse falar com elas", acrescenta a coordenadora.
Noutro âmbito, há jovens voluntários que dinamizam atividades através da APF Alentejo nas áreas da sexualidade e da saúde reprodutiva.
Objetivo é "alargar a intervenção" com trabalhadorxs do sexo
As metas da APF Alentejo para o futuro próximo passam por "alargar a intervenção" com trabalhadorxs do sexo, "não só o trabalho ao nível da saúde sexual e reprodutiva, mas também os rastreios", aponta Cláudia Rodrigues.
A associação pretende ainda "trabalhar as questões das legalizações", notando as complicações que surgem quando há "testes reativos [a uma IST] com uma pessoa que está ilegal". Aí tudo se torna "mais complexo", apesar de haver "uma rede que funciona" e que permite que "a pessoa seja referenciada para o Serviço Nacional de Saúde", acrescenta a coordenadora.
Além disso, há ainda vontade de ampliar a intervenção na área do apoio social.
Por outro lado, seria interessante poder divulgar mais o trabalho da associação no âmbito do apoio a pessoas LGBTI+ e às suas famílias, para que "soubessem que a APF Alentejo é um espaço seguro, onde podem vir e podem falar" e obter "ajuda no que seja necessário", constata Cláudia Rodrigues.
Contactos da APF Alentejo
Morada: Rua Serpa Pinto nº 111, 7000-537 Évora
Telefones: 914 327 339 (para rastreios) / 912 950 609 (informação geral) / 266 785 018
Email: apfalentejo@sapo.pt
Site: http://www.apf.pt/quem-somos/delegacoes/apf-alentejo
Facebook: https://www.facebook.com/apfalentejo
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Especial Associações - Anda conhecer melhor quem apoia trabalhadorxs do sexo:
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)