25 Junio, 2020 Fode-me primeiro, pergunta-me depois
Desde que nos encontrámos, na noite fatídica, não recebo outra coisa dele senão boas sensações em retroactivo...
Desde a noite fatídica não trocamos uma palavra, a não ser para marcar ao telefone este segundo encontro. E agora estamos juntos há 20 minutos sem que nenhum de nós consiga dizer seja o que for. Silêncios destes costumam marcar, incomodar, mas não neste caso. Nós não queremos falar.
A meio da avenida, que àquelas horas pouca gente tem, vislumbro umas ruínas, um prédio deixado eternamente em construção. A porta é feita de tábuas já violentadas, ou gastas, que a longa ramagem duma trepadeira não tapa por completo.
Não penso mais, empurro-nos lá para dentro.
– Aqui?
– Num lado qualquer.
– Achas?
– Não achas?
– Acho.
Ficamos assim. Demoro demasiado a encostá-la contra uma parede, receoso do que não vejo no escuro, mas mal o faço apresso-me a emperná-la e agarrar-lhe uma mama por cima do broche da empresa, do lenço da empresa, do casaco, da camisa e do soutien da empresa. Teta aprisionada, a pedir liberdade, volumosa sob os meus dedos, que aperto provavelmente com força demais, desajeitado, sôfrego.
Mal a tenho comprimida no meu corpo e um gato passa-me a correr entre as pernas, penso que era um gato, nem tenho coragem de pensar o que seria se não fosse um gato... O susto é de tal ordem que parece que a tesão me cresce para o dobro! As coisas que o medo faz quando se junta à exaltação, os sentidos todos esticados, excitados no limite... Ela também o sente, acho, porque geme ligeiramente, a minha perna enterrada entre as dela, a premir-lhe bem tudo o que está em cima. Não sei exactamente onde o meu caralho está entalado, algures entre pregas íntimas da roupa dela, mas fica bem posto, assim me dizem as sensações que dele recebo.
Aliás, desde que nos encontrámos, na noite fatídica, não recebo outra coisa dele senão boas sensações em retroactivo. Reparem que disse “encontrámos”, não disse “conhecemos”. Porque na realidade não nos conhecemos de lado nenhum. O acaso juntou-nos na mesma festa estúpida, o aborrecimento reuniu-nos ao pé das bebidas, e a bebedeira atirou-nos para uma varanda onde nos comemos como dois animais que nem sabem o nome um do outro. Fodemos, viemo-nos, esquecemo-nos de imediato e nunca mais conseguimos deixar de pensar um no outro, que tal esta equação para um paradoxo?
Se nessa noite dissemos alguma coisa foi merda com certeza, merda ébria, apropriada à circunstância. Talvez umas maledicências entre copos, nada romântico certamente. E no entanto, uma química intrínseca deve ter-se libertado dos nossos organismos, construindo aquela atracção tão espontânea como imprópria que nos pôs a mocar como corpos marcados a caminho do abismo. Esporrei-me dentro dela, trocámos telefones, esquecemo-nos de nos conhecer, lá está. Quando lhe liguei só soube perguntar:
– És tu?
E ela:
– Acho que sim.
E combinámos encontrar à frente do escritório dela.
Mal a reconheci. Foi mais pelo cheiro e por um misterioso sexto-sentido que deve ter ficado armazenado na memória. Mal nos cumprimentámos, também, pusemo-nos logo a andar, sem destino, à procura de um destino. Das primeiras ruínas que reconhecêssemos como compatíveis com a própria ruína de um affair entre duas pessoas casadas e repentinamente cheias de tusa uma pela outra, uma avenida inteira de irracionalidade inevitável.
E cá a tenho, enfim, encostada à parede, apoiado só num pé enquanto lhe tento enfiar o joelho na racha.
Desenvolvo, sem perceber como, quatro mãos, um par extra. É isso o que ela me faz, um mutante com membros a mais. Mas não penso, apalpo-lhe as mamas, apalpo-lhe o cu, puxo-lhe os cabelos, esfrego-lhe a cona, tudo por cima da roupa a mais. Apetece-me rasgar aquilo tudo, impede-mo uma réstia de civilização que antecipa a necessidade de a deixar vestida depois de consumada a foda. Não posso rasgá-la toda e depois irmos a pé para casa. Mas é o que me apetece e de alguma forma ela pressente o desvario crescente que me vai na mente. Então afasta-me à bruta, sobe a saia, baixa as cuecas e desaperta rapidamente os botões da camisa.
– Despe-te!
E de repente toda ela é uma mancha de pele ávida que se oferece entre entremeadas de roupa passada a ferro.
Os dois somos uma pressa única, egoísta. Baixo as calças e as cuecas, invisto contra ela e ao mesmo tempo que lhe enfio um dedo no cu meto-lhe o caralho na fenda pingada. Ela grita. Começo a soluçar com as ancas enquanto escarafuncho no buraco do cu e um cheiro a cona molhada atinge-me no nariz como um soco de um pugilista. Não sei que vapores tem ela na cona que não consigo esquecer aquele cheiro. Ficou-me estampado entre outros volumes inúteis da recordação.
Viro-a ao contrário, ela não se nega. Vou-lhe ao cu, ela não reclama. Somos dois coelhos eléctricos dispostos a disparar um blackout na cidade das mil luzes.
Luzes que tremem quando ela começa a escorrer pelas pernas abaixo. Sim, tem um orgasmo enquanto a enrabo. E então sinto urgência em celebrá-lo, esse orgasmo dela de rabo cheio. Tiro-lho do cu, faço-a ajoelhar à minha frente e enfio-lhe a narça directamente na boca, sem passar pela casa de partida. E deixo aí a minha essência, o meu sangue, as minhas vidas passadas e futuras, com um urro que me faz distender a picha de tal forma que acabo a esporrar-lhe para os olhos.
Ela tem meita nos cabelos quando nos beijamos – acho que pela primeira vez. Percebemos as nossas línguas e afastamo-nos, enojados. Que é esta merda?! Nós não somos de beijar, não somos de falar… Isto não é amor, caralho… Dizemos nós, que é quem tem que saber.
A não ser que a aleatoriedade terrestre nos tenha juntado como partes feéricas duma anedota cósmica com o único de fito demonstrar uma nova dúvida ao universo:
– O amor é fodido… ou o amor é foder?
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com