15 Febrero, 2021 Casal Comum - Parte I
Ele aproveita-se de não estarmos rodeados de mais ninguém e não recua...
Éramos um casal como outro qualquer. Eu, Sofia, ele, o Miguel. Casados fazia 16 anos. Começámos a namorar ainda éramos muito novos. Conhecemo-nos na escola e desde então não estivemos com mais ninguém, pelo menos eu não.
Como qualquer outro casal deixámo-nos cair na rotina do dia-a-dia em que tudo se torna monótono e deixa de ter graça. Não é por mal, mas aquilo que inicialmente nos chamava a atenção um do outro, um dia vira rotina e nem damos por isso. Não me condeno por isso, nem o condeno a ele, realmente é triste, mas é a pura realidade de qualquer casal comum do mundo dos vivos.
Dei por mim cada vez mais entediada com a situação quando me apercebo que todos os homens à minha volta me começavam a chamar mais a atenção do que a pessoa com quem eu dormia, jantava e via a novela das nove. Qualquer um. De repente os homens que me rodeavam pareciam ter algo de especial que chamava a minha atenção quando no fundo era só a minha carência e a minha sede por sentir algo diferente.
Nunca me tinha acontecido nem tão pouco me tinha sequer passado pela cabeça envolver-me com outra pessoa, mas a verdade é que sentir aquela adrenalina, aquele “quase pecado” me fazia sentir algo diferente, como aquelas borboletas na barriga que sentimos quando estamos apaixonadas e tudo aquilo é novo.
Durante uns tempos deixei que aquela situação se arrastasse. Alimentava-me, a mim e ao meu ego. Confesso que chegava a casa até mais bem disposta. O meu marido achava inclusive estranho o meu bom humor. Não que a nossa vida conjugal fosse feita de discussões e caras feias, mas a verdade é que eu agia como se algo muito bom tivesse acontecido, quando na verdade era apenas eu a destilar o meu ego cheio pelos poros.
Não me culpem por isso. Volto a dizer, nunca fiz nada.
Até que… Um dia chego ao meu escritório e sou abordada por um colega de um outro departamento.
- Olá Sofia.
- Olá João.
- Não me leves a mal, mas tu hoje estás…
Estava mortinha para que ele terminasse a frase.
- Estou…?
- Estás… estás … – olha-me de cima a baixo, engole em seco e continua – Estás qualquer coisa tipo, uma cereja no topo do bolo.
- Estou a ver. Sou “tipo” aquela cereja cristalizada, que só faz ficar bonitinho, mas que normalmente ninguém gosta e que acabam por colocá-la à beira do prato.
Ele ri-se e responde-me:
- Toda a gente eu não sei, mas eu adoro.
Sinto-me comprometida com aquele comentário, mas confesso que me faz largar um sorriso e me envaidece.
- Não digas isso João.
- Não digo, porquê? Digo pois! Mereces o elogio e mais uns tantos. Uma mulher que se “esforça naturalmente” para ser assim, tão linda e composta, merece ouvir!
- Olha lá, que eu sou uma mulher casada. – rio-me para quebrar o gelo da minha resposta.
- Sei... Só ainda não percebi se és casada, mas bem casada.
Gelei com o comentário que de facto era uma pergunta.
Ele entendeu na minha expressão que me deixou sem resposta, mas insistiu.
- Se imaginasses sequer a vontade que sinto quando olho para ti. Diz-me, és, ao menos, bem casada?
Não sabia o que lhe responder.
Ele fintou-me com mais um comentário.
- Devo concluir alguma coisa com o teu silêncio?
- João, eu acho que talvez devesses ficar por aí.
- E se eu te disser que acho que deva continuar?
- Eu vou responder-te o mesmo uma vez mais.
- E se eu achar que, no fundo, até estás a gostar?
- Desculpa?!
- É que no fundo dessa expressão de quem se sente comprometida com o que estou a dizer sinto que algures por aí existe uma ponta de satisfação e vaidade e garanto-te que bem podes senti-la, porque eu tenho tanta vontade…
Interrompo-o.
- Por favor João, pára!
- Não quero parar.
Ele começa a aproximar-se de mim. Cada vez mais e mais. Sinto-me encurralada. Física e psicologicamente.
Sei que o que está a acontecer é errado, mesmo que não seja propositado, mas a verdade é que já podia ter virado costas, mas também não o fiz e é exatamente nisso que ele se baseia. Estou a permitir-lhe este comportamento.
Tento que ele não avance mais. Coloco a mão à frente.
- Pára João. Estou a pedir-te.
Ele aproveita-se de não estarmos rodeados de mais ninguém e não recua, pelo contrário. Avança um pouco mais. A minha mão toca no seu peito. Parece pouco, mas é muito para mim.
Quando sinto a minha mão tocar no seu peito, olho para a direção da minha mão, para o seu busto, olho nos seus olhos.
Ele finta-me uma vez mais.
- E agora? Vais dizer que não gostas?
Fecho os olhos e respondo-lhe.
- Isto é tão errado João.
- Diz! Quero ouvir-te dizer. Gostas do que estás a sentir? O que estás a sentir?
- Não me obrigues a falar. Não quero fazê-lo. Não! Pára!
Sinto o calor do seu corpo a aproximar-se cada vez mais do meu corpo, enquanto ainda tenho os olhos fechados.
O momento estava demasiado intenso para mim, eu que nunca tinha ultrapassado a linha da decência e do admissível.
- Não te aproximes de mim assim, por favor.
- Sinto por trás desse por favor uma imensa vontade de seres agarrada. Eu sei que estás ansiosa por sentir algo diferente e que eu estou a fazer-te fugir da linha. Ouço tudo menos quereres que eu pare de verdade. Vá lá. Diz-me a verdade. Eu sinto que respiras cada vez mais rápido.
Não era mentira. Respirava cada vez mais rápido, tal como me sentia cada vez mais excitada, tão excitada.
Subitamente ele agarra-me nos braços, cola-me ao seu corpo e faz-me encará-lo, olhos nos olhos.
- Assume! Estás ansiosa para que eu te jogue, agora mesmo, aqui, contra a parede, te agarre e te beije e te aperte.
Continuo em silêncio.
Ele sacode-me e aproxima o seu rosto perto do meu, a sua boca perto da minha enquanto tenta provocar uma reação minha.
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...