08 February, 2025 Paragem no tempo
Vou falar de um homem que já passou por 2034 tratamentos.
No outro dia, estava a pensar novamente num ex-paciente meu. O homem tem andado aos gritos, a exigir que o vão ver ao hospital. Os meus dedos começaram a mexer e comecei a escrever uma resposta à gritaria, mas acabei por eliminá-la antes mesmo de enviar.
![Paragem no tempo](https://www.classificadosx.net/media/zoo/images/Paragem-no-tempo_395e9658623604217ac5442a786a93fa.jpg)
É que agora, desde há uns tempos para cá, tenho uma nova voz / consciência na minha cabeça, que me diz:
"Não faças isso... Agora já não podes fazer mais isso..."
A vida, por vezes, sofre alterações e então, temos de começar a portar-nos de outra forma, alterando o padrão de comportamento.
Mas voltando ao caso dele, estou a falar de um homem que já passou por 2034 tratamentos. Já correu os centros todos de tratamento. Já teve tantos conselheiros, mas por alguma razão, só fala de mim.
Quando me vê parece que vê Deus! E lá vem tipo flecha para ao pé de mim, todo eufórico! A minha resposta é sempre a mesma: "shiuuuuu... Já estás a fazer muito barulho para o meu cérebro." Ele ri-se e avança pelo caminho.
Ainda assim, não vai sem antes me tentar pedir um cigarro, ao que eu respondo: "Siga, arranca e não faças pó! Durante estes ano, já teve dinheiro suficiente para comprar uma tabaqueira, e eu nem fumo esses cigarros..."
Mas aqui é que está o gato!
Quando está em recuperação, passa a vida a falar da mãe e da infância dele - e já são muitos anos a falar do mesmo. Na altura em que era terapeuta dele, não comprei o "filme" e agora muito menos, porque descobri que o falar da infância é para manipular os outros!
Quer que tenham pena dele. É quase uma pré-autorização para justificar os comportamentos que vêm a seguir, como andar a roubar, a exigir boleias, para lhe pagarem e darem coisas. Ou seja, está sempre a pedir qualquer coisa.
Ora bem, não há mal nenhum em pedir, se for de vez em quando e justificável. Mas, neste caso, é uma forma de não se responsabilizar pela sua vida e de continuarem com pensamentos manipuladores.
Para além do mais, já está institucionalizado. Cada tratamento é uma substituição familiar: os terapeutas tornam-se os pais e os colegas os irmãozinhos.
Mas até que ponto a culpa é dele?
50% apenas! Os outros 50% são de quem engole e alimenta isto.
Eu digo-vos uma coisa: se ele me viesse novamente parar às mãos seria assim...
- Ai a minha mãe a minha realidade...
- Eu diria: Quem és tu?
- Então, sou fulano de tal...
- Eu: Pronto, então fala-me de ti.
- Como sei como ele é, diria logo que estava a falar dele e blá blá blá...
- Eu: Então, e como te sentes por ter "cegado"? E como te sentes de já teres feito 2030 tratamentos?
- E continuaria: Vamos fazer o seguinte... Durante uma semana, só vais falar de ti, caso isso não aconteça, fazes as malas e dás lugar a outro. Não irás fazer nenhuma tarefa nesta casa, e estás proibido de pedir alguma coisa, nem que seja uma migalha.
Isto pode parecer estranho, mas ele falando somente dele, iria entrar em contacto com ele novamente. E ao fim de uma semana, eu fazia-lhe psicodrama.
Sentava-o de frente para uma cadeira vazia e fazia-o despedir-se do seu VELHO EU, como se ele tivesse uma réplica de ele próprio naquela cadeira vazia.
Fazer o luto
Pode parecer assustador largar velhas crenças, hábitos e comportamentos. Quem não tem medo do desconhecido? Eu tenho sempre, mas mando-me de cabeça porque vim a verificar e a compreender que quando largo algo, não morro - a única coisa que acontece é entrar em luto.
Entra-se em luto e abre-se uma nova porta, uma nova consciência que trás paz, auto estima e melhor que tudo – sabedoria / inteligência emocional.
Dor, por vezes, significa crescimento, e eu prefiro esta dor do que ser insana – cometer os mesmos erros à espera de resultados diferentes. Insanidade é não sair do mesmo estado emocional.
Agora imaginem se alguém se recusou a sair do mesmo estado emocional aos 15 anos?
Eu tenho um amigo que tem quase 55 anos, e comporta-se como se tivesse 15 anos, devido a esta recusa, e eu vejo a degradação que se dá no cérebro dele.
É muito a isto que as pessoas têm de ter atenção, pois à medida que envelhecem, torna-se muito pior - ao ponto de ficarem totalmente descompensadas e de já não conseguirem esconder tão bem como no passado.
Tornam-se mais óbvias para os seus pares e para as pessoas que os rodeiam, chegando ao ponto de não ser desejada a sua presença!
Mas isto faz algum sentido? Para mim não faz nenhum!
Não me faz sentido haver pessoas que se tratam tão mal a elas mesmas, que são tão sádicas com elas mesmas, e que em vez de pararem, não - culpam os outros e a infância, e não saem deste ciclo.
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