17 May, 2021 Nem nos teus sonhos...
Ainda não tinha encontrado ninguém com tal nível de ousadia...
Nos últimos tempos, andava apenas com a mente concentrada no trabalho, demasiado envolvida naquele ambiente, para dar atenção a outras coisas...
Acordar, vestir, sair de casa e três transportes depois chego ao local de trabalho; dez horas depois apanho três transportes, chego a casa, dispo-me e durmo. Todos os dias é esta a minha rotina. A cabeça, mesmo depois de pousar na almofada, não sossega - primeiro pensa como será o dia seguinte no trabalho, o que tem para fazer e o que terá de planear para depois, e depois começam os pensamentos negativos a nível pessoal. Até que passado uns bons tempos me deixo finalmente adormecer.
Não há qualquer interesse no sexo oposto, não ando com pica para tal. Ando demasiado stressada e ansiosa com o meu trabalho.
Uma semana transforma-se em um mês, que depois alcança os dois meses neste tipo de andamento. Estou exausta.
Um dia, após terminar de almoçar, vou ao meu cafezinho habitual. Enquanto estou na fila, o meu olhar prende-se numas calças de bombazine bordô. “Rabo jeitoso”, penso, enquanto o meu olhar investigador começa a percorrer o seu corpo até alcançar o seu rosto. “Ai mãe!”, suspendo o meu olhar durante alguns segundos no sorriso que ele esboça para o rapaz que está atrás do balcão.
Obrigado e até já. – oiço-o a dizer.
Eu vi aquele momento em slow motion. Nossa, como fiquei ofegante! O seu tom de voz derreteu-me. “Mas.. como é que eu nunca o tinha visto antes?” , penso enquanto mexo o açúcar que deitei no meu café.
Como já é costume eu frequentar aquele café, já conheço de vista algumas das pessoas, pois ainda por cima vamos sempre nos mesmos horários. Mas mesmo assim nunca tinha posto a minha vista em cima daquele sorriso tão encantador. “Espero que amanhã o consiga ver”, penso enquanto a minha mente divaga nas ideias escaldantes. A minha libido regressou da terra dos mortos.
O dia passou-se e eu nunca mais lhe meti os meus olhos em cima, pois eu ainda fui tomar mais dois cafés.
No dia seguinte não o vi, nem no outro a seguir.
Estou na habitual fila para tomar café depois de almoço. Olho ao meu redor, numa pequena esperança de o ver. Suspiro.
Ao regressar do café, terminar o resto de horas que me faltam, a minha colega Mariana repara na minha expressão desolada.
- Então colega!? Que cara é essa? – pergunta-me assim que entro na loja.
Não lhe respondo e vou em direcção ao armazém para guardar o meu casaco e a carteira. Fecho-me em copas e concentro-me a fazer o que me compete. Centrar energias no que interessa realmente.
Passados três dias, estou ao balcão do café e quando tento guardar o troco que recebi, uma das moedas cai-me da mão e começa a rolar no chão para trás de mim. Numa forma desajeitada, os meus olhos seguem a moeda enquanto que as mãos tentam colocar as moedas na carteira. Baixo-me para agarrar na moeda, mas ao mesmo tempo alguém o faz também e chocamos de cabeça.
- Desculpe – digo timidamente.
- Desculpe-me a mim. – diz-me.
Fico paralisada durante alguns micro segundos, enquanto tento organizar as ideias.
- Tem aqui. – diz-me novamente aquele homem esbelto enquanto me estica a mão para me dar a moeda que me tinha caído da mão.
- Ah … – digo meio aparvalhadamente – Obrigada.
Silêncio, até que a minha mente foi interrompida.
- Menina, tem aqui o seu café. – diz-me o André, o empregado.
- Bom trabalho. – digo-lhe com um sorriso.
Pego na minha chávena de café e encosto-me numa das pontas do balcão. Olhando para a chávena de café, não resisto em não ouvir o seu pedido.
- Um café para levar. – pede ele.
Do canto do meu olho consigo perceber que ele me mirou umas quantas vezes. Sinto as minhas bochechas a começarem a aquecer. Os meus pensamentos impuros começam a dominar a minha mente.
O gato pega no café e desaparece do meu alcance visual. Bebo o café numa assentada e dirijo-me para a parte exterior do centro comercial.
Enquanto me vou encaminhando para o exterior olho para o maço do tabaco, a ver se consigo tirar um cigarro, quando consigo e olho para ver se consigo um cantinho isolado sem incomodar ninguém sinto um olhar penetrante. Era ele, a olhar-me fixamente, seguindo cada passo que eu dava até encontrar o meu sitio.
Coloco-me num sitio onde consigo apanhar com o sol. Deixa-lo aquecer-me naquele dia tão frio.
Fumo o meu cigarro, mas sinto-me um pouco observada.
A minha mente não consegue sossegar. Aquela cabeçada fez-me mal.
Fico as restantes horas do meu dia a pensar naquele encontro inesperado. “Estás a ficar um bocado para o tola”, penso enquanto organizo o armazém da loja.
Regresso a casa e a minha mente continua a divagar naquele pequeno momento. A imaginar em várias possibilidades de situações que se poderiam desencadear. Faço suposições, divago na minha imaginação enquanto entro na minha rotina de regresso a casa. Transporte em transporte… até repousar a cabeça na minha almofada. “Estou morta”, penso ao colocar a chave na fechadura da porta do meu apartamento.
- Miau! – saúda-me o meu Milú assim que aparece à porta.
- Olá minha coisa boa! – digo-lhe enquanto o pego ao colo.
Na manhã seguinte acordo um pouco para o melancólica, pressinto que o dia não me irá correr grande coisa. Estou meio tristonha.
Ao chegar ao trabalho o meu humor melhora um pouco enquanto vou atendendo os clientes, até que entra na loja o Gato do café. Fico petrificada atrás do balcão. A minha colega Mariana, como está perto da porta, atende-o, eu não consigo movimentar-me, fico a olhá-lo durante alguns momentos. Assim que ele tem oportunidade, olha por cima da Mariana, o seu olhar fixa-se no meu, fica assim alguns momentos até que me pica o olho. As minhas bochechas aquecem e eu só consigo enfiar-me no armazém.
- Obrigado, tenho que pensar melhor no assunto. – oiço-o dizer à Mariana.
- Olhe que a promoção acaba hoje. Vale bastante a pena! – responde-lhe a Mariana na tentativa de conseguir fazer uma venda.
- Sim, percebo. – responde-lhe o galã – Mas tenho que pensar bem.
Assim que o cliente se vai, a minha colega Mariana vem até à porta do armazém e grita-me:
- COLEGA!!! TU VISTE ISTO?!
Eu rio-me.
- Se vi filha!! – respondo-lhe também aos gritos.
Por breves momentos, com o coração meio acelerado, penso “O dia pode ser que afinal não seja assim tão mau”.
Quando tiro a minha hora de refeição, só penso na altura de ir tomar café.
Meio ansiosa, com um nó no estômago, vou andando para o Bistrô. Não o vejo. Bebo o café e como habitualmente faço, vou fumar um cigarro.
Ao atravessar as portas do centro, olho para o fundo do corredor, mas rapidamente parece que levei um murro no estômago, vejo-o. Mas também vejo como fala com uma loira. Os risos que trocam. Fico meio atordoada. Encosto-me num cantinho e deixo que o sol aqueça o meu corpo, não deixo que aquela visão me abale o dia.
Estou com o olhar centrado no visor do meu telemóvel, mas do canto do meu olho vejo que a tal loira se foi embora, mas ele não foi com ela. O meu olhar não sai do visor do telemóvel.
Quando me viro para apagar o cigarro no cinzeiro, sem qualquer intenção, piso o pé de um corpo que surgiu ao meu lado.
- Perdão. – digo sem ter olhado para a pessoa em questão.
- Sem qualquer perdão. – é a resposta que oiço.
Fico atrapalhada com aquela resposta. “Que raio?”, penso.
Olho em direção do emissor daquela afirmação absurda. Estremeço. Aqueço.
Estamos tão perto que sinto o aroma do seu perfume. Deliro.
Ele nota a minha persona toda timidona e procede:
- Posso trocar de contactos contigo?
Estremeço. Não esperava por uma abordagem assim tão arrojada. Desde que trabalho neste centro comercial ainda não tinha encontrado ninguém com tal nível de ousadia. Sinto o meio das minhas pernas a humedecer. “A sério?! Agora?!”, penso enquanto o interior das minhas coxas humedecem.
- Ah, sim claro. O que queres? E-mail, telefone..?
- Podemos começar pelo telefone. – ri-se.
Eu dou-lhe o meu contacto e ele diz-me com um sorriso tão encantador:
- Eu envio-te uma mensagem mais tarde... Liliana.
Sinto-me uma adolescente histérica. Só me apetecia deitar foguetes, gritar, saltar. “Como é possível? Controla-te. Ele diz que envia mas tu não sabes. Por isso acalma-te. Fuma mais um cigarro e vai trabalhar mas é”, penso enquanto tento relaxar a minha frequência cardíaca
Pensei que isto era coisa que apenas se passava nos filmes de comédia ou nos românticos, aqueles momentos que ninguém acredita que aconteçam.
Ao final do dia de expediente, vou consultar o meu telemóvel e vejo que tenho três mensagens do Cláudio. Estremeço. “Mas que raio se passa contigo?!”, pergunto-me a mim mesma num tom autoritário.
Andei meses a trocar mensagens com o Cláudio até que um dia enquanto tomávamos café juntos, reuni a coragem necessária para lhe perguntar:
- Queres vir beber um drink na minha casa?
Ele ia-se engasgando com o café.
- Liliana Sofia a convidar-me para um copo? – diz enquanto tosse.
- Estás bem? – pergunto-lhe a rir – Deixa de ser assim. Queres?
- Claro que sim! Combinamos para sexta-feira?
Era segunda-feira... e ele queria combinar para sexta-feira. O meu interior estremece, mas rapidamente atiro:
- Estava a pensar hoje.
- Hoje... – ele não estava à espera, depois de uma breve pausa acrescenta – Por volta das dez da noite, pode ser?
- Sim, claro.
Naquele dia tive sorte em estar a sair às oito da noite e o transporte que apanho é mais direto. Chego a casa perto das nove e meia da noite. “Banho. Vais tomar um mega banho, mas primeiro abre a garrafa do vinho para ir respirando”, penso enquanto o autocarro chega perto da estação de comboios onde deixei o carro naquele dia.
Pareço o Flash, dez minutos depois estava em casa. Como pensado, assim que chego a casa fui em direcção à dispensa, onde tinha as garrafas de vinho guardadas. Ainda me demoro um bocado enquanto tento escolher o vinho ideal. Estava indecisa.
Finalmente, depois de escolher a garrafa e de a abrir, corro para a casa de banho. Olho para o relógio, cinco minutos para as dez da noite. Vejo o visor do meu telemóvel e não tenho qualquer sinal do Cláudio.
Demorei o tempo que achei necessário. Hidratei bem o meu corpo, relaxei-o sobre o jacto de água quente que sai do chuveiro. “Bem merecido”, penso.
Quando saio do banho tenho duas mensagens do Cláudio. A primeira enviada às dez da noite.
“Atrasei-me no trabalho.”
Dez minutos depois uma nova mensagem:
“Apanhei trânsito. Mais vinte minutos, estou perto de ti.”
Não lhe respondo. Deixo o telemóvel no mesmo sitio e deixo que a música ecoe pelo apartamento.
Visto uma roupa bem confortável e demoro ainda um bom bocado a secar o cabelo.
São já perto das onze da noite quando o meu telefone toca. Era o Cláudio. Atendo.
- Sim?
- Cheguei Lili!
- Sobe então. Vou agora abrir a porta. Quarto andar. Até já.
Abro-lhe a porta do prédio e a de entrada. Dirijo-me para a cozinha para começar encher os copos.
- Oi? – diz ao entrar dentro do apartamento – Posso?
- Entra, entra! – respondo-lhe da cozinha.
- Ah! Estás aí! – diz-me do corredor.
Quando o vejo encostado à ombreira da porta da cozinha, tão elegante, tão sedutor, com um sorriso tão arrebatador, as minhas coxas vibram.
- Estavas ai há muito tempo?
- O suficiente para te tirar as medidas todas. – um sorriso travesso surge na sua face.
Ele estava vestido de uma maneira tão elegante e eu estava vestida de uma forma mais descontraída: um top sem usar qualquer sutiã e umas calças de fato de treino.
Fomos até à sala.
Quando demos por nós, a garrafa já ia no fim e eu com as minhas pernas em cima do seu colo. O seu rosto cada vez mais perto do meu.
- Que me dizes de eu abrir outra? – pergunto-lhe enquanto lhe abro um dos botões da camisa.
- Se quiseres acompanho-te. – responde-me enquanto faz pequenos círculos no meu peito – Mas eu estava com outras coisas em mente.
- Como por exemplo? – pergunto-lhe.
Agarra-me no pescoço e dá-me um beijo escaldante, tanto que me deixou mais em brasa do que o vinho que tínhamos estado a beber. Entrelaçamos os nossos corpos no sofá, mas não resistimos à tentação e tivemos que continuar no quarto.
O Cláudio tratou de mim como um homem bastante envolvido no momento, não deixou nem um centímetro de pele por ser tocada. Que homem delicado e dedicado. Foi-me endoidecendo aos poucos. Mal aguentava a tesão. Queria senti-lo dentro de mim. O seu calor, a sua pele sobre a minha... estava a começar a ficar cada vez mais endiabrada...
A madrugada transformou-se em alvorada. Não demos pela passagem das horas.
Eram já perto das sete da manhã quando ainda os nossos corpos não se tinham deixado de tocar. Puxo-o pelo braço e faço força, num acto de “por favor, não vás”.
- Tenho que me vestir bonequinha. – diz-me num tom doce, deposita-me um beijo na ponta do nariz.
- Regressas? – pergunto-lhe.
- Assim que me despachar regresso para os teus braços. – dá-me um beijo na barriga, o que faz com que eu comece a rir às gargalhadas. – Olha aí o barulho, ainda acordas a vizinhança. – diz com um sorriso.
Mas eu não consigo parar de me rir. A zona perto do umbigo é bastante sensível e faz-me sempre rir.
Oiço-o a fechar a porta.
Deixo-me ficar na cama por mais umas duas horas, antes de voltar à minha realidade. Fico embrulhada nos lençóis, olhando a vista sobre o rio Tejo, com um mega sorriso rasgado e a pensar que possivelmente a sorte me bateu à porta.
Alexa
Uma mulher com imaginação para dar e vender.
Sempre gostei de escrever, mas coisas eróticas... isso gosto mais. Levar um homem à loucura através de palavras e da sua própria imaginação. Como adoro...