27 fevereiro, 2019 Um ensaio sobre a bissexualidade

Muitas pessoas me perguntam como eu “tornei-me” bissexual...

Desde a mais tenra idade eu sempre gostei de meninas. É claro que quando criança eu não tinha noção nenhuma sobre sexualidade, e só fui compreender a atração que eu sentia por minhas amigas depois de muitos anos de várias e várias autoanálises.

Muitas pessoas me perguntam como eu “tornei-me” bissexual, como se isso fosse uma escolha. Acredito que a pergunta mais correta seria como eu “descobri-me” como bissexual, afinal, ninguém acorda um dia de manhã e sem mais nem menos tem vontade de se relacionar com alguém do mesmo sexo.

Como disse acima, foi um processo de autoanálise que levou muito tempo, entretanto posso dizer com seguridade que o momento em que eu resolvi espreitar o que tinha fora do armário foi o mais importante, pois tratava-se não apenas de experimentar algo novo, mas de quebrar um tabu imposto pela nossa sociedade heteronormativa.

Mas não pensem que isto foi uma tarefa fácil, já que a bissexualidade é vista pela maioria, até mesmo pelos LGBTQI+, como indecisão, como se eu não soubesse do que gosto, que é uma fase porque ainda não decidi se serei hétero ou gay. E sim! Eu sei quem sou, do que gosto, não estou e nem sou indecisa!

A questão não está somente em se apaixonar por um homem ou uma mulher, eu me apaixono por pessoas, não apenas pelo órgão genital delas. Existe muito mais nas pessoas do que o órgão genital, me apaixono pelo jeito de olhar, pelo cheiro, pelo gestual, pelo jeito de falar, pela personalidade, me apaixono pelo ser complexo que aquela pessoa é, seria muito simplista se fosse de outra forma.

É claro que o sexo com cada uma delas é diferente, fisicamente e anatomicamente falando, mas se for parar para pensar bem, mesmo nas relações que tive só com homens e só com mulheres, o sexo nunca foi igual ou parecido, já que cada indivíduo tinha sua própria particularidade.

Alguns acham que o fato de ser bissexual me abre um leque de opções e nunca estarei sozinha, porém sofro muito preconceito vindo de todos os lados, já fui julgada infiel, já me disseram que bissexuais são bígamos ou poligâmicos porque não se apaixonam de verdade, ainda quando se trata de ser mulher, quantas vezes fetichizam minha sexualidade e acham que estou sempre disponível para um ménage.

Acredito que para um bissexual, sair do armário deve ser tão ou mais difícil do que para um gay, digo isso por conta de todos os preconceitos que citei acima e pelo fato de nossa sexualidade ser anulada pela sociedade.

É difícil se abrir para alguém e dizer “Sou bissexual”, nós nunca sabemos qual será a reação da outra pessoa, até mesmo pra alguém da própria família, às vezes a pessoa mais compreensiva vai dizer “é só uma fase” e lá está nossa sexualidade anulada mais uma vez.

Para os outros, quase no geral, se nos relacionamos com uma pessoa do mesmo sexo somos gays, quando é do sexo oposto somos héteros, quase ninguém lembra que existe algo no meio chamado bissexualidade, por isso, muitas vezes mantemos nossa sexualidade em segredo.

Apesar dos pesares, de uma coisa não posso reclamar,o prazer de aceitar-me como sou realmente e não ter vergonha disso, é imenso!

Beijos e até a próxima publicação!

Suzana F.

Saúde & Vida Sexual