02 novembro, 2024 A saga no sistema de saúde
Vou-vos contar a minha história com o sistema de saúde para lutarem por respeito e dignidade.
Escrevo este artigo como um abre olhos dos deveres e direitos dos utentes neste famoso Portugal, que até tem turismo de saúde, até tem cunhas e mais cunhas. Também escrevo este artigo pelo respeito que aprendi a ter pelos doentes oncológicos.
Muitos deles têm que ir a correr para o privado, gastam tudo o que têm para poderem salvar as suas vidas!
Muitas pessoas que estão aqui, possivelmente, têm seguros de saúde a preços cruéis porque sentiram que talvez o privado fosse melhor. Muitos, talvez, já chegaram à conclusão de que não se trata de público ou privado, mas sim do ser humano que é escolhido para cuidar de nós!
Também muitos de nós já se depararam, ao entrar pelos gabinetes de Psiquiatria ou Psicologia adentro, com uma data de estagiários com o médico. Ou seja, toda aquela gente tem que ouvir a sua história, e, por vezes, essa história trás tanta vergonha.
Se já temos vergonha de contar a um, imaginem ter que contar a cinco! Mas como precisamos, acabamos por fechar os olhos, engolimos a vergonha, e acabamos por ignorar que somos usados como "cobaias"!
Já não basta o abuso que sofremos e pelo qual nos vamos tratar, e quando se dá conta, acaba-se num gabinete a ser-se usado mais uma vez... É só mais e mais... Nada de novo!
Nesta semana, estava a falar com uma alta patente da PSP que conheço há 8 anos e, em brincadeira, disse-lhe:
- Quando tiver uma multa de trânsito - nunca tive! -, tu vais lá e tiras...
Ele respondeu-me:
- Impossível! Sou muito integro.
Adorei a palavra INTEGRIDADE, para além de ter pensado: este homem agrada-me! LOL Infelizmente, haveria disponibilidade física, mas nunca emocional de ambas as partes. É daquelas coisas em que pensamos: fogo, que pena!
Íntegra é também como eu sou, e não há volta a dar. Sou mesmo assim e tenho um orgulho do tamanho do mundo em sê-lo.
A minha história com o sistema de saúde
A minha história com o sistema de saúde é simples: devido a stress pós-traumático, pedi uma consulta de psiquiatria há dois anos. Foi-me atribuído como médico uma quase celebridade e fiquei contente.
Um dia antes da consulta, ligou-me a assistente dele a dizer que a consulta ia ser dada por telefone. Tudo bem - porque não!
Chegou o dia da consulta telefónica e durou 3 minutos. Fiquei tão perplexa que fui ver a duração da chamada.
Lembro-me de que durante os 3 minutos, ainda murmurei que poderia estar a sofrer de stress pós-traumático, devido a um evento de vida que tive que se arrastou por alguns anos. A resposta dele foi para eu fazer exercício!
No outro dia, batemos de frente. Foi mais ou menos assim:
- Você pensa que está a lidar com quem?! Com jeitinho, ainda sou eu que lhe começo a dar palestras a si, pois você tem um comportamento desviante e muita grandiosidade!
Há uns tempos, fui a um congresso de saúde mental e lá estava ele. Sentei-me na primeira fila, para olhar bem para ele, e lá estive eu entretida a analisar a "coisa".
A minha cabeça disse-me: pedinte, sem paixão! Toda a linguagem corporal dele padecia de falta de paixão!
Entretanto, há uns dias, resolvi, pela primeira vez, ir ver as respostas que tinha dado em exame universitário. Quase que caí da cadeira! Eu nem queria acreditar nas coisas que tinha respondido e como tinha respondido, e ficou claro que, associado ao stress pós-traumático, também devo ter défice de atenção, o que já desconfio desde que vivia na América.
A consulta recusada
Pedi à médica de família para me marcar consulta de psiquiatria para poder ir verificar e foi recusada pelos serviços, pois ele é o diretor. Pronto, neste momento, temos o caldo entornado! Estou curiosa em saber como ele se vai defender.
Será que irá dizer "problemática"? Possivelmente, se for por aí, irá ouvir como resposta: "Pois, por isso pedi consulta de psiquiatria!"
Antes de saber isto, já eu tinha pedido um relatório sobre o que ele tinha escrito sobre mim na consulta de 3 minutos. Maravilhosamente, ele assinou "depressão" diagnosticada em 3 minutos: My God! Eu não falei ao telefone com um psiquiatra, eu falei com Deus!!! Ah ah ah...
A médica de família
Há dois anos, queixei-me dos dedos mindinhos à minha médica de família. Ela olhou para eles e perguntou-me: "O que é isso?" MAU MARIA! A médica a perguntar à utente: My God!
A situação dos dedos agravou-se e voltei lá, e, finalmente, foi descoberta osteoporose depois de fazer exames.
Quando lhe pedi para me mandar para psiquiatria, para saber se tenho ou não défice de atenção, vim depois a saber que o pedido só tinha sido feito há 19 dias - MAU MARIA DUAS VEZES!
Como doente pulmonar, tenho direito ao rastreio do cancro do pulmão, e ela mandou-me ir pedir ao médico de pneumologia – MAU MARIA 3 VEZES! Cartão vermelho directo!
Pedi para mudar de médica e na resposta, veio fazer-se de "coitadinha" a dizer que não é a primeira vez que faço acusações.
A minha resposta foi mais ou menos isto:
"A doente não faz acusações, é simplesmente muito atenta, e apesar dos seus problemas, não consegue esquecer o que lhe foi ensinado. Como utente, sei perfeitamente o que está a ser feito por mim, o que não está a ser feito e o que deveria ser feito. Para concluir, façam o favor de me mudarem de médica."
Ficou nervosinha... Temos pena!
O meu passado e o preconceito contra mim
Há muitos anos, há quase 27 anos, ficou lá um registo meu – coisa básica -, mas que me faz pensar que existe preconceito quando lidam comigo. Não interessa que já tenham passado quase 27 anos, mas é sempre referido em relatórios.
Também sei que para além de mim, há milhões que têm em relatórios a mesma coisa que eu, mas que, por algum motivo, talvez culpa do passado, se tornaram muito submissos perante o mundo. Talvez seja porque todos os dias estão numa sala reunidos a ouvir o passado de outros e a falar do passado deles, alimentando assim essa culpa e vergonha. EU NÃO!
Eu olhei para o meu passado de forma crua e dura! Chorei muito, tomei duches atrás de duches - ainda hoje me lembro da forma como lavava o meu corpo com agressividade, após cada terapia de grupo!
Lembro-me perfeitamente daquela menina de 24 anos, linda de morrer, que entrou naquele sítio. A única coisa que tinha era a roupa que vestia, a beleza, o jogo de cintura, e a vontade enorme que tinha de mudar!
Ninguém me meteu naquele sítio - fui eu que às escondidas de toda a gente, me meti lá! Fui eu que fui vender cachorros quentes para a Expo 98, para ter dinheiro para comprar os livros que me estavam a pedir nesse sítio. E vendi cachorros quentes como ninguém, sempre a sorrir, pois eu estou sempre a sorrir até aos dias de hoje!
Não aceito negligências
Após 25 anos, fui eu que decidi que já não me iria reunir mais com "os grupos", nem ouvir mais falar do passado, e muito menos falar dele, pois começou a parecer que as pessoas falam tão mal delas próprias, perpetuando a crença de que nada valem por causa dos seus passados!
Se foi fácil sair? Não! Até crucificada e chamada de ingrata fui. Mas não sou obrigada a falar do meu passado nunca mais. Posso sempre mostrar um bocadinho dele, pois ele está cá escondido e sempre pronto para que eu permita que venha ao de cima.
Quando tomei a decisão, foi como se dissesse: "Pronto, meu amor, já acabou, já passou. Está pago e devolvido à sociedade, e agora eu e tu, minha criança interior, vamos seguir em frente. OK, meu amor?"
Por isso, não deixo que qualquer pessoa decida por vontade própria, e de forma leviana, tratar-me mal, ou usar-me. Por isso, sou tão aguerrida, quase como uma Deusa de Guerra, quando sinto abuso, ou má fé!
Se eu própria dei importância à minha vida que esteve por um fio diversas vezes, alguma vez entregaria a minha vida à mercê de outros? Era o que faltava! Mais valia, então, comprar um chicote e andar-me a chicotear!
Não aceito negligências, pois depois é um caso sério prová-las em tribunal. Por isso é que atuo logo de imediato.
Não aceito que o sistema de saúde seja para uns e não para outros!
Também não aceito mais que o evento que tive na adolescência esteja descrito em relatórios, e já perguntei à protecção de dados se é possível mandar retirá-lo, Eu não tenho que andar com sombras do passado, mas com luz no presente!
Porque estou a escrever isto?
Porque sei que muitos de vós já passaram, ou estão a passar, pelo mesmo, seja convosco ou com familiares. E á que não ter medo de enfrentar esta gente toda!
Temos que ter voz ativa mesmo quando se fazem de surdos. As coisas só mudam quando um conjunto de pessoas toma consciência dos fatos.
Antes de seres um número, és primeiro um ser humano!
Temos agora uma data de pessoas com doenças oncológicas que não conseguem ser operadas porque há atrasos. Atrasos porquê?!
Por que é que vocês, familiares, estão à espera de ir perguntar o porquê e de meter esta gente toda a trabalhar para salvar vidas?
Se vocês e os vossos familiares têm, hoje em dia, o tratamento para a Hepatite C de graça foi porque um conjunto de amigos meus entrou pelo Parlamento adentro e exigiu!
Infelizmente, um desses amigos, o que entrou mesmo lá dentro aos gritos, já morreu. Mas fica a sua coragem, a sua voz, por ter conseguido que todos os portadores de Hepatite C tivessem acesso gratuito a medicamento que custava 4 mil euros!
Por isso, digo-vos que é possível sermos ouvidos!
Quando o sistema em que acreditamos não funciona, temos que o meter a funcionar. TEMOS QUE SER DUROS!
Não há mala de marca, carro de alta cilindrada que seja melhor do que o direito que nós temos em pedir que nos tratem com respeito e dignidade!
No meu caso, eu não posso mais estar a perder oportunidades para poder vir a "mudar o mundo" para melhor, ou estar sempre a ser chamada à atenção por causa dos erros que cometo nos anúncios e a incomodar as pessoas que têm de me corrigir, por causa do possível défice de atenção.
Se tenho, vai ter que ser diagnosticado, validado e ensinado para saber como lidar com o problema. E talvez um dia me vejam... como deputada...
Ainda assim, enquanto me deixarem, independentemente do que venha ou não a ser, nunca deixarei de escrever aqui, pois foi no Classificados X
que me deram a oportunidade de me erguer novamente, e de voltar a sonhar!
Por isso, sou muito grata a quem me faz o bem – e o diabo para quem me faz o mal! Ah ah ah!
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