03 novembro, 2022 O amor vem de chinelos
Reza o mito que, antes de abrir os olhos, Jerónimo principiou por ver o mundo pelo nariz...
Se há ironias na vida, nenhuma foi tão fabulosa como a de Jerónimo Faustino. Ele, o próprio protagonista, nunca soube se a história era verdadeira ou mais um mito hospitalar, daqueles que se contam nos corredores. Mas quem a contava, contava assim: Jerónimo nasceu no dia em que todos pensavam que tinha morrido…
Para começar, em pleno parto, não queria sair, uma frustração para todos à sua volta. Para a mãe, a quem doía tudo, principalmente o ultraje de estar de pernas abertas, de pintelheira suada e cona dilatada diante de tantos estranhos. E para o pessoal médico, parteiras, enfermeiras e arrumadeiras, que se impacientavam pela teimosia do miúdo que se recusava a nascer.
Como já passava das 7 da tarde, hora a que se picava o ponto, teve que ser o médico a puxá-lo com a força de braços que tinha, e foi nesse gesto, precisamente, que começou tudo...
Como Jerónimo vinha pegajoso e escorregadio, mal o doutor o arrancou da racha maternal, saiu disparado e só não aterrou na laje fria da sala de parto porque um par de chinelos, ali deixado por uma enfermeira com artroses, lhe aparou a queda...
Reza o mito que, antes de abrir os olhos, Jerónimo principiou por ver o mundo pelo nariz. Cheirou ostensivamente o chulé fétido e cansado que emanava do chinelo e, acto contínuo, os seus bracinhos mínimos agarraram o sapato mágico para não mais o largarem.
Quando o apanharam do chão e lhe deram a proverbial estalada no rabo, para ver se estava vivo ou morto, não reagiu. Também não reagiu à segunda chapada, que lhe deixou logo uma marca rosada na nádega direita, mais tarde averbada como sinal de nascença.
À falta de reacção, deram-no como finado. Até que, num acto mais de desespero do que particularmente de ciência médica, um rompante de imaginação mais do que outra coisa, uma enfermeira lhe arrancou o chinelo das mãozinhas incompletas e com ele desferiu violento golpe nas nalgas do bebé... Acordou logo!
Ficaram à espera do som metálico que anuncia a chegada dos seres vivos ao mundo como quem espera o inevitável trovão depois do relâmpago. Mas Jerónimo não chorou... Em vez disso, com uma chaga a ferir-lhe vibrantemente a pele do rabo, sorriu. Foi quando perceberam que era especial.
A influência que este momento teve nos assuntos da sua vida futura, fica bem expressa naquilo em que se tornou. Não seria exagero dizer que, 40 anos depois, os efeitos daquela chinelada vital ainda deixavam marcas profundas no espírito de Jerónimo...
Sem surpresa, fez carreira no sector do calçado, concretamente no ramo das pantufas.
Atingido o sucesso que o tornava, aos olhos da sociedade, um bom partido, decidiu casar. Mas foi romance de pouca dura, talvez, ou muito provavelmente, porque as coisas no quarto nunca funcionaram como era suposto.
Jerónimo era, já se disse, especial. E isso implicava que não fazia muitas coisas como os demais. O sexo era só mais uma delas.
Os caprichos que, em última análise, o satisfaziam não eram entendidos nem atendidos pela esposa que rapidamente o passou a ver como uma aberração.
Quando, volvidos apenas 4 meses, ela entrou com o divórcio, ele não reclamou, pois a verdade é que ambos se sentiram aliviados.
Custou muito a Jerónimo perceber o caminho da sua sexualidade. Mas quando o conseguiu, libertou-se. Nem pensou duas vezes. Se o fazia sentir-se mais completo, não podia estar errado. Foi daí que partiu para a constituição da sua nova "família"...
Ele chamava-se Jorge. Ela chamava-se Rute. E ambos lhe chamavam “filho”, embora estivesse longe de o ser. Aliás, aos 44 anos, Jerónimo era o mais velho dos três.
Mas o casal aceitou a fantasia e juntos acertaram a fórmula. Jerónimo pagava-lhes, de certa forma sustentava-os. E eles mudaram-se lá para casa, conscientes do que lhes era pedido.
Um dia normal começava por volta das 8 da manhã. Antes de sair para o trabalho, Jerónimo descia as escadas e imaginava o que o esperava. Nunca era o mesmo filme, reservavam-lhe o elemento surpresa. Apesar da expectativa, não vinha de pau teso. Sabia saborear o momento, aperfeiçoava-o diariamente.
Lá em baixo, Jorge e Rute aguardavam-no. Os seus novos “pais” adoptivos, adoptados por ele, tinham ambos um ar severo, austero até. Fazia parte do papel.
Ela era a pior, ele o mais brando. Uma espécie de rotina “polícia mau - polícia bom” adaptada às circunstâncias. Rute era sempre quem tomava as rédeas da conversa:
- Ontem à noite foste espiar-nos ao quarto! Confessa!
Jerónimo jurava a tremer que não, não fizera nada.
- Não mintas! A “mamã” estava nua e o “papá” viu-te perfeitamente pela fresta da porta a fazer javardices. É muito feio mentir! É isso que queres ser, um menino feio e javardo?!
Às vezes, Jerónimo ia às lágrimas, mais de alegria que de aflição, por antecipação do castigo.
- Viste o “papá” e a “mamã” a fazerem coisas íntimas, não viste? Diz a verdade! Viste a “mamã” a chupar o pirilau do “papá”, não viste?! Viste o “papá” a dar chapadinhas com o caralho na testa da “mamã”...
Jerónimo teimava que não, que era inocente. Bramava como se tivesse medo. Com o tempo tornara-se um bom actor, dos que chegam a acreditar que aquilo que interpretam é a verdade.
- Viste o “papá” enfiar o pau no buraquinho da “mamã”, não foi?! Admite! Viste o “papá” a esporrar-se em cima das mamas da “mamã”! Tarado! Pervertido! Não foi isso que te ensinámos! Não foi assim que te educámos...!
Por esta altura, Jerónimo começava a sentir a doce intensidade da tumefação.
Tinha um bom caralho, nem muito grande nem muito pequeno, nem muito grosso, nem muito fino. O caralho mais mediano que uma pessoa especial podia ter. E era sensível ao insulto verbal, recebia-o como uma carícia quente sobre a pele. Era das coisas que lhe davam mais tesão.
- Bem, já sabes o castigo. Despe-te!
Rute era tão séria que parecia uma matriarca de verdade, usava um tom que não admitia desculpas. E de bom grado ele fazia o que ela mandava, despia-se todo e ficava nu à frente deles.
- Anda aqui!
E Jerónimo ia deitar-se, obediente, em cima dos joelhos do “pai”, que já baixara entretanto as calçass
A imagem era a de um subjugado, de rabo para o ar, à mercê da mão pesada dos castigadores...
Que não se faziam esperar... Primeiro, Jorge apresentava-lhe o chinelo à altura dos olhos. Depois enterrava-lho no nariz para que Jerónimo asfixiasse com o cheiro assado do chulé. E daí, sem contemplações, começava a desferir-lhe violentas chineladas no rabo, que lhe deixavam as nádegas instantaneamente vermelhas.
- Isto é para não meteres o nariz onde não és chamado, ouviste!? Queres ver o “papá” a foder a “mamã”? Então, sabes o que te espera!
A voz de Jorge não era tão agressiva, mas não deixava de ser imperativa. Tão imperativa como o caralho que, grosso e meio animalesco, já tinha completamente teso a babar os pêlos da barriga...
Mas era Rute quem realmente partia a loiça toda:
- Quem te veja pensa que também queres foder a “mamã”! É isso que queres, meu depravado?!
E posto isto, enquanto o “pai” lhe ia dando sapatadas no cu vermelho, a “mãe” ia pôr-se à frente dele, levantava a saia e, puxando-o pelos cabelos, enterrava-lhe a cara no meio das pernas.
Depois de o comprimir um bom bocado contra o papo da vulva, bem preenchida por uma volumosa pintelheira negra que lhe sobrava abundante pelos elásticos, ordenava:
- Baixa as cuecas à “mamã”!
E então colava-se-lhe à cara e fazia-o a aspirar os suores densos da cona libertada.
Só passado um bocado o mandava lamber. A racha de alto a baixo, era como exigia o serviço. E Jerónimo demandava, lambia-a primeiro como ela queria, na vertical, logo chupava-lhe a lábia e o clitóris, muitas vezes mordiscava mesmo os nacos moles da greta fluída de Rute, que revirava os olhos e arfava em consonância.
Todas as nuances deste desenho sexual, consensualmente visto na gama dos preliminares, plasmavam quando Jerónimo se montava em cima de Rute, já de pernas bem abertas sobre o sofá e, missionário, para que o rabo continuasse disponível para os açoites de Jorge, a fodia aos sacões.
Era capaz de estar meia hora a comê-la assim, variando o ritmo bruto e os movimentos da anca, elevando a excitação de Rute até ao quase-abismo.
Quando a “mãe” começava a gemer mesmo a sério, mesmo na iminência do orgasmo, o “pai” aumentava o ritmo das chineladas no cu de Jerónimo até este gritar e fugir de cena, dorido e de pau feito, a pingar mel de cona e óleo de caralho pelos tapetes.
Estavam tão bem ensaiados que Jerónimo chegava a ganhar velocidade quando Jorge estendia o braço e o agarrava. Então atirava-o abruptamente para cima do sofá, ao lado da “mãe” e, sem dizer água vai, sem lubrificantes, enfiava-lhe o caralho grosso no cu.
Enquanto enrabava o “filho”, o “pai” enfiava os dedos na cona da “mãe”, e umas raras vezes aconteceu virem-se assim os três ao mesmo tempo.
Mas, regra geral, eram Rute e Jorge que se vinham em momentos mais uníssonos, e o jogo acabava com ambos a correrem atrás de Jerónimo pela sala, batendo-lhe cada um com o seu chinelo, e só aí Jerónimo se vinha, copiosamente, em passo de corrida, espirrando tudo o que encontrava pelo caminho, esporrando-se para onde estava virado...
Findo os rituais, iam ao duche e tomavam o pequeno almoço juntos. Eram uma “família”. A família onde Jerónimo não era um esposo, mas uma fénix em perpétuo ciclo que só nascia depois de levar umas valentes chineladas!
Só depois de tudo isto sentia ânimo para ir para o trabalho, onde passava o dia a vender chinelos a pessoas que não os compreendiam, e a sufocar pela constante necessidade de fingir que não era especial. Que era, na aparência, uma pessoa igual a todas as outras.
Armando Sarilhos
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Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com