15 février, 2016 A fantasia de a foder e foder nela...
Uma conversa sem tabus sobre sexo e cadeiras de rodas...
Três mulheres que precisam de cadeiras de rodas para se deslocarem falam sem pudores sobre sexo e incapacidades. Uma conversa sem fugir aos assuntos que importam e com todos os nomes no lugar...
Lyric Seal, Bethany Stevens e Stella Palikarova dão verdadeiramente o rosto ao manifesto, para passarem a ideia de que a incapacidade não é sinónimo de assexualidade ou de qualquer outra coisa estranha que possa passar pela cabeça de alguns.
Estas três mulheres vêm dar força ao movimento Sim, nós (os deficientes) fodemos!, ilustrando com palavras que não fogem aos nomes - enfrentando "o touro" pelos corpos - um tema que pouco espaço encontra na comunicação social mundial e que persiste como um bicho de sete cabeças na mente de muita gente.
Elas falam da sua vida sexual como mulheres que precisam de cadeiras de rodas.
Partilhamos aqui as suas reveladoras declarações em entrevista ao site Autostraddle.
Lyric Seal
Esta escritora queer cujo "nome de guerra" é Neve Be, é também artista performativa e faz filmes porno com uma produtora independente cuja marca é o estilo diferente, nomeadamente apostando em corpos femininos que fogem dos cânones da pornografia mainstream.
"Já tive pessoas a pensarem coisas estranhas sobre a minha sexualidade que estão absolutamente ligadas com a minha incapacidade, mas a experiência não foi de que não tinha sexualidade - foi de que tinha uma sexualidade marada.
Muitas pessoas que trabalham no mundo da sexualidade e da incapacidade querem chegar ao objectivo: sexualizar a pessoa incapacitada; vamos garantir que eles sabem que eles têm corpos. Eu sou tipo, não, é um pouco mais complicado do que isso.
Eu tenho duas cadeiras. A cadeira poderosa chama-se Gianna e é metálica e rosa Barbie. É uma alta femme aleijada. É quente e rápida e contudo, uma performer súbtil.
A minha outra cadeira é Michelangelo. É mais um rapaz perdido e aventuramos-nos juntos durante 9 anos. E embora o envolva nas coisas sexuais que faço, ele não é um sex toy para mim. E outra pessoa não o pode usar da mesma forma que eu o uso.
Podemos usá-lo como um aparelho assistencial no nosso momento e também como um aparelho sexual, mas ele é o meu parceiro, não o parceiro de outra pessoa. A minha relação com ele tem sido muito romântica.
Com o meu principal parceiro, fazemos muito role-playing. Sou um crocodilo de estimação, somos ambos tigres, também sou um rapaz adolescente jovem...
Sinto que a minha cadeira desempenha personagens humanas, personagens de madeira, de árvores, animais... Tem sido uma extensão de mim mesma.
Identifico-me como multi-género e embora não sinta que tenha sido dessexualizada, já senti o aguilhão de ser infantilizada. Já tive pessoas de múltiplos géneros e masculinas a decidirem, sem consentimento, interagir comigo de formas que foram muito protectoras ou pisando-me ou sendo muito cavalheirescos. Tipo, não me levem a mal, quero dizer, se tens o teu jogo no cadeado, com o sorriso de lado e a fumar um cigarro contra uma parede com um casaco de cabedal... Se fosse a rainha do baile de 1950... então OK.
A minha incapacidade está a tornar-se uma parte sem emenda de como posso interagir a nível do género e num âmbito sexual. A forma como tenho romanceado a fisicalidade teve que ser temperada com base na realidade do meu corpo e esse é um papel que a minha cadeira jogou de uma maneira incrível - a ajudar-me a dizer, OK, esta é a forma romântica como te moves pelo mundo, é a forma sexy como te moves pelo mundo. Sinto que a minha longa relação com esta cadeira, Michelangelo, tem sido de romance e parceria."
Bethany Stevens
Esta sexóloga e blogger adora "gerar conversações sobre o nexo dos temas tabus incapacidade e sexualidade", conforme a própria diz no blogue Crip Confessions, onde escreve regularmente sobre estes assuntos.
"A minha cadeira de rodas é uma ajuda de assistência sexual, o que soa a uma forma clínica de dizer que tento fodê-la e foder nela. Apesar dos meus esforços para tentar perceber como me penetrar a mim própria com partes dela, nunca funciona com os ângulos da minha vagina e as partes da minha cadeira.
Funciona maravilhosamente bem a assistir em actividades sexuais com outros, as pessoas podem inclinar as pernas na minha cadeira, enquanto penetro várias partes do corpo.
As minhas rodas grandes são mais altas do que o meu assento, por isso, as pessoas podem inclinar-se nelas enquanto me escarrancham sem terem que suportar o peso do meu corpo.
Tenho uma fantasia de fazer sexo com a minha cadeira de rodas. Ela é uma extensão do meu corpo e por isso existe ao nível das fantasias de masturbação. As suas linhas são sexy... A minha cadeira de rodas está comigo nestas aventuras, mas não é um topo ou baixo, se qualquer coisa, é um interruptor!
Dentro da comunidade BDSM, parece haver um pressuposto de que temos que ficar por baixo por causa da ideia ridícula de que não temos o poder para mandar. Com toda a negociação que uma vida BDSM saudável requer, parece lógico que a incapacidade encaixe aí - já que, muitas vezes, precisamos de uma negociação quanto ao que os nossos corpos e mentes podem ou não fazer.
Se as pessoas abrissem as suas mentes, aprenderiam que o poder não existe na fisicalidade, existe na personalidade e na expressão. E posso dominar quase qualquer pessoa sem me levantar, sem ser mais alta do que elas e sem qualquer das marcas típicas da dominação.
Sexualizar os aparelhos de assistência parece ser uma parte da actualização sexual como pessoa incapacitada, para alguns, pelo menos. Durante demasiadas luas, quis separar-me da minha cadeira de rodas e da minha incapacidade porque tive que partir uma tonelada de deficiências internalizadas.
O meu processo de despojamento dessas merdas não está terminado, mas, pelo menos, posso ver o valor das linhas elegantes da minha cadeira de rodas e de como se move com o meu corpo.
Recentemente, recebi uma nova cadeira de rodas, depois de esperar um ano inteiro pela aprovação do seguro, e encontrei-me a sentir que estava a conhecer o corpo de um novo amante."
Stella Palikarova
Escritora e cineasta, é também oradora em eventos internacionais sobre o tema da incapacidade e co-fundadora do movimento Deliciously Disabled que pretende colocar o tema da deficiência e da sexualidade na ordem do dia, abordando-o sem tabus e sem preconceitos.
"Refiro-me sempre à minha cadeira de rodas como uma mulher porque é rápida e eficiente. Penso em formas de a tornar sexy ou em maneiras de tornar estar nela sexy. As lap dances são óptimas.
Danço bastante, com a minha cadeira a ser acariciada como parte de uma dança erótica. Isto parece excitante para as outras pessoas e penso que pode ser verdade, porque a estrutura da minha cadeira de rodas serve como um substituto visual genital para os meus parceiros - eles sentem-se acariciados quando as minhas mãos arranham a estrutura para cima e para baixo.
Também se pde incorporar a cadeira de rodas como parte dos preliminares. Para muitas pessoas, a cadeira de rodas é o local do seu prazer sexual.
Pessoalmente, gosto de incorporar a cadeira no role-play. Como se a minha cadeira fosse o meu trono ou a minha charrete e o meu parceiro me estivesse a adorar nela. Lembro-me de fazer um jogo sexy, uma vez, onde a cabeça do meu parceiro não podia estar mais alta do que a minha. Foi divertido!
Também gosto muito de Bondage. As pessoas têm-me dito que isso é estranho porque, de certa forma, já estou "presa" à minha cadeira de rodas, a não ser que alguém me retire de lá fisicamente. Por isso, o que significa para mim estar interessada nesse tipo de jogo?
Habitualmente, gosto mais de ser o lado submisso com o meu parceiro, mas isso, surpreendentemente, pode deixar as pessoas desconfortáveis porque, aparentemente, a minha incapacidade física já me coloca numa posição vulnerável.
Muita da fisicalidade do sexo vem do que o meu parceiro pode fazer. Por isso, se gostas de ser submissa e tens uma incapacidade, as pessoas pensam que estão a aproveitar-se de ti."
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Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)