16 mai, 2021 Vamos falar de consentimento
Ás vezes "não quero" é mesmo "não quero"
Nestes últimos anos temos assistido ao desenrolar de sucessivos casos #MeToo associados a celebridades e outras personalidades da esfera pública, casos esses que normalmente envolvem homens em posição de poder que, de uma forma ou outra, usaram esse mesmo poder para obter algum tipo de favor sexual de alguém. E se bem que podemos todos bater palminhas a ricos e famosos por terem a coragem de terem trazido a público estas histórias horríveis, a verdade é que nós, comuns mortais, temos muitas mais (e piores, infelizmente) histórias para contar. Se calhar nem todas as mulheres que conheço têm um relato sobre um broche que tiveram de fazer para conseguir entrar num filme, mas algumas têm algo a dizer sobre aquela vez que não queriam foder e foram - quase - forçadas a tal.
Então o que é consentimento? Explicando de forma simples e rápida, é um entendimento mútuo entre as duas partes envolvidas que ambas querem foder uma com a outra. E este tal consentimento costuma ser alvo de chacota por se julgar que é alguma espécie de contrato escrito ou verbal de que A aceita foder com B, no entanto, todos sabemos que isso (apesar de ter alguma piada se assim fosse) é totalmente rídiculo.
O consentimento assenta na interpretação que cada um faz da situação, da linguagem corporal e de outras nuances da comunicação não-verbal entre as pessoas. Por exemplo, se uma gaja está nua à tua frente e diz "rebenta-me a cona", bom, podemos dizer que ela quer foder e que há consentimento. Se um gajo mete o nabo de fora e diz "chupa-me aqui o tolas" quando ela está prestes a sentar-se na mesa da pizzaria em que ambos combinaram o primeiro encontro, bom, podemos dizer que há consentimento de um dos lados e o outro vai provavelmente fugir sem deixar rasto. Contexto, meus senhores.
Já todos ouvimos a célebre expressão "não quer dizer sim" e é um pau de dois bicos (perdoem-me o trocadilho). Por vezes "não quer dizer sim", mas se vocês são uns nabos do caralho que não sabem ler pessoas, isso tem tudo para correr mal. Em que situações "não quer dizer sim"? Tantas como as que "não quer dizer não", foda-se. Tudo se resume à forma como as coisas são ditas e o contexto. Se estás sentado num sofá no marmelanço com dois dedos na cona da gaja, ela mete a mão dentro das tuas calças e diz sôfrega "ai, não devíamos fazer isto" enquanto geme e continua a mexer-te no narso sem parar, podemos QUASE concluir que é uma dessas situações de "não quer dizer sim". No entanto, se no mesmo cenário, tu lhes metes os dedos na rata, ela congela e diz "NÃO DEVÍAMOS FAZER ISTO" de forma fria, podes ter a certeza que "não quer dizer não" e cabe-te a ti parar de imediato com a investida.
Tudo se resume ao contexto, à situação e à forma como as coisas são ditas. Concedo que no meio da tusa um gajo tenha tendência para ouvir o que quer e ignora os sinais de que a outra pessoa está desconfortável com a situação em que se encontra. E nós homens, quando vemos que a coisa não se vai dar, fazemos birrinha porque somos umas crianças. Fazemos chantagem psicológica ou apresentamos alternativas a não foder que invariavelmente são broche ou punheta. Que cavalheiros.
Foder é fácil, chegar à foda também o pode ser se ambas as pessoas estiverem em sintonia. Se tens de forçar o que quer que seja em determinada altura deste processo, o mais provável é que a pessoa em que o queres meter não está a fim. E para dançar o tango são precisos dois. Não há vergonha nenhuma em abandonar o recinto, ir para casa e bater uma de consolação.
Vergonha é forçar alguém a ter sexo quando ela não quer.
Boas fodas consensuais e até quarta.
Noé
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.