27 juin, 2021 Manter uma amizade colorida dá trabalho
Ser um "fuck buddy" não é um mar de rosas.
No variado espectro das relações humanas contemporâneas que vão desde a simples amizade entre um homem e uma mulher até à anilha no dedo e um compromisso perante uma entidade superior, temos as amizades coloridas que ficam ali como quem vai para o namoro, mas estacionam um quarteirão e meio antes. Para quem não sabe, amizade colorida não é o que acontece quando dois pintores se sentam a ver a bola, mas sim quando duas pessoas unidas pela amizade resolvem unir-se na cama de forma recorrente sem qualquer tipo de compromisso ou obrigação. Parece perfeito, não é? Todas as vantagens de ter uma relação, mas sem nenhuma das desvantagens.
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Ter uma amizade colorida ou "fuck buddy" - como alguns preferem - incorre no cumprimento de algumas regras que poderão ou não ser acordadas entre ambas as partes, sendo a principal (por norma) a completa e total certeza que ambos "não estão numa relação de compromisso". Uma espécie de "eu fodo com quem eu quiser, tu fodes com quem quiseres e nós fodemos um com o outro". Este é um rio que se apresenta como facilmente navegável, não houvesse uns quantos crocodilos e caminhos mais pantanosos pelo meio, ou seja, o que pode começar por ser uma coisa, rapidamente se transforma noutra e depois está - como se costuma dizer - tudo fodido.
Se uma relação assenta em primeiro numa amizade e depois em amizade com sexo, o terceiro estágio evolutivo seria o de uma relação. Não é preciso ser-se um génio para resolver a equação amizade + sexo = x em que (x) é igual ao que nós quisermos que seja que nasça daí e, por norma, o que nasce é uma relação de compromisso. É aqui que os "fuck buddies" contornam a norma ao estarem permanentemente à procura do (x), sem nunca o tentarem definir, mesmo sabendo a resposta. O que é que nós queremos desta vida? Alguém com quem falar e com quem foder, de preferência, na mesma pessoa. O que é que os "fuck buddies" procuram? O mesmo que nós, mesmo que não o admitam, a diferença é que fazem dessa procura um permanente estado de satisfação sexual mútua. E quem é que pode julgar? Têm todos os benefícios da coisa, menos as desvantagens.
E o sexo, por norma, é sempre do caralho. Se não for, então a vossa amizade colorida é uma merda, foda-se. Entre dois "fuck buddies" é tudo muito simples e directo, basta um SMS de pré-aviso com um simples "hoje?" e a coisa tende a acontecer de forma orgânica e descomplicada para ambos. Ele ou ela chega a casa de ele ou ela, cumprimentam-se. roupa sai e vai de dar de música aos vizinhos o resto da noite. Nos intervalos, os "fuck buddies" fazem uma espécie de resumo dos últimos acontecimentos da sua vida um ao outro e assim que a tusa volta, continuam a fazer o que realmente gostam. Ambos evitam pernoitar na casa um do outro, pois isso seria dar um salto para fora de pé na relação: há qualquer coisa de intímo em dormir na mesma cama. Foder é uma coisa, miminhos durante a noite é outra.
Mas não é fácil manter uma relação destas. Há que saber achar o equilibio neste barco. Tudo corre bem para os passageiros se ambos tiverem a certeza onde estão e para onde vão, o problema nasce quando um começa a pensar que uma coisa já não é mais uma coisa, mas sim outra e convence-se que o outro pensa da mesma maneira. Somos pessoas, somos seres humanos e fodas à parte, temos uma coisa chamada emoções. Sim, é chato, mas é o que é. E somos todos uns fodilhões e fodilhonas do caralho até começarmos a sentir falta da outra pessoa, sem ser para foder.
Quando esse dia chega - que pode ou não chegar, atenção - por norma a coisa termina ou transforma-se noutra coisa.
Sei que isto hoje foi meio lamechas e o caralho, mas já deu para perceber que isto foi uma espécie de desabafo pessoal.
Boas fodas e até quarta.
Noé
Noé
Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.