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30 mars, 2016 As mães das gajas que comemos

Sogras. Bicho temido e amado. Culpa delas, culpa nossa. Uma guerra eterna.

Acho que muito se demoniza a figura da sogra e de forma injusta. Não concordo com os Mata-Ratos porque os bois não têm culpa da miséria que algumas senhoras fazem atravessar tanto bom homem por esta terra fora.

As mães das gajas que comemos

E isto a propósito do quê?

Porque é muito fácil estar aqui semanalmente a cagar postas de pescada sobre foder e não foder, pilas, conas e por aí adiante, mas tudo tem uma explicação. Um gajo com uma vida normal não poderia ter este tipo de actividade. Mais ou menos. Contudo, queria deixar aqui o meu testemunho de como é que há pessoas talhadas para viverem numa permanente espiral de problemas e tudo com uma origem: foder. Era isso que eu queria fazer a uma gentil filha de uma senhora que mais tarde se tornou sogra no verdadeiro sentido da palavra, sendo que o episódio que se segue marcou para sempre o rumo desta relação.

Eu sempre tive uma relação fria com todas as minhas sogras e na minha opinião, de forma muito injusta. Coincidência ou não… eram todas divorciadas (UAU… QUE “ESTRANHO”). Na realidade, o que eu nunca tive foi um sogro. Isso é que me fez falta. Um bigodudo para mamar uns copos e às tantas eu gerar um ambiente de merda com uma saída de merda:

“A tua filha tem um par de chuchas… sai à mãe!”

E tudo até correu bem com quase todas. Houve uma que a coisa não foi lá muito algodão doce. A que sempre me infernizou os cornos e que fazia questão de bradar aos sete céus que eu não era bom para a “princesa”. Pois é… a “PRINCESA”. Se tivesse passado uma luz negra na cara da filha a cada sábado de manhã tinha a confundido com um dálmata em vez de uma princesa, mas cala-te boca. O evento que me perseguiu para todo o sempre com esta senhora foi como a conheci. Todos nós temos aquele momento X em que somos apresentados aos pais da nossa cara-metade. Tomamos mais atenção à farpela, à nossa postura e até pensamos em duas ou três coisas para falar naqueles momentos de silêncio desconfortáveis caso fiquemos a sós com os jarras.

Nos meus saudosos 21, ainda não vivia a sós. Contudo gostava muito de foder. Todos nós sabemos das implicâncias que esta situação tem e era só apanhar uma casa livre para manchar de meita tudo o que é sofá, cama e cortinados da sala. Em plena degustação de cona de 20 aninhos de enfermeira recém-licenciada, deixo-me ficar naquele pós-orgasmo com a cara a descansar no peito perfumado e de corpo exausto. Não sei quanto tempo se passou entretanto mas eu tenho um sexto sentido para perigo iminente de “vou ser apanhado com a piça na mão” e assim que oiço o trinco da porta a começar a sua rotação, espeto uma sapa na gaja para a acordar:

- “FODA-SE… ENTROU ALGUÉM. TÁS A OUVIR?????”´
- “Não pai, não me faças isso. Não gosto que me toques assim” (ela estava a sonhar).

Oiço 3 vozes distintas. Ela sai da memória reprimida em que estava e acorda para a vida. Rapidamente veste o pijama e diz-me:

 “NÃO SAIAS DAQUI. TIPO… FICA AÍ.”

Que excelente conselho, MacGyver. Estava num 3º andar. Numa cama daquelas tipo japonesas sem onde me esconder. O roupeiro cheio de merdas e sapatos e mais sapatos. Nem o Michael Scofield saía desta. Fiquei com o coração a mil e embrulhei-me no lençol fazendo de mim um pequeno fantasma nudista sentado na cama. Tentei em vão ouvir a conversa e percebi que era a mãe dela, a irmã e o merdas do sobrinho que era um pequeno Hitler de 5 anos. Só faltava ter vindo a avó, o senhor da mercearia e o padre da Igreja para isto se tornar numa cena do “American Pie”.

De repente, o pequeno Hitler entra no quarto e fica a olhar para mim. Durante uns segundos não desviámos o olhar até que eu muuuuuuito suavemente meti o meu indicador junto aos lábios e proferi um “shhhhhhiiiiiuuuuu” muuuuuuuuuito amigável e sereno (não queria espantar o merdinhas).

“OH MÃE TÁ AQUI UM MENINO!!”

Filho de um escroto encardido, e não é que o puto se chibou de mim? A sorte é que aquele trio Odecabras estava a falar tão alto que não ouviram o pequeno Judas. Espantei aquele filho de pai desconhecido para fora do quarto e tapei-me com o edredom (barriga para baixo, com as unhacas das mãos e dos pés a fazerem uma espécie de Quechua). Recordo que estava nu durante todo este processo e nunca desejei tanto que me nascessem asas (mais tarde nasceram-me cornos mas isso não é para aqui chamado). Oiço uns passos de botas a vir em direcção ao quarto e agarro-me com toda a força ao edredom.

“Ai carallho… ai caralho… ai caralho!!!” – penso eu com o coração a mil e desejando por tudo que fosse a irmã (era bem boa por sinal) e não a mãe. Na minha mente tentei emagrecer-me ao ponto de ficar com a espessura de um lençol de seda mas estranhamente não funcionou. Fico imóvel. Sou um autêntico monge shaolin naquele momento. Nada me incomoda. Eu e o edredom somos um. Namaste. Até que uma mão me agarra na canela!

“MAS O QUE É ISTO???? O QUE É ISTOOOOOOOOOOOOOOOO?”

E raio da velha tenta-me puxar o edredom enquanto eu me agarro a ele com todas as forças que tenho.

“NÃAAAAAAAAAAAAO... É MEEEEEEEEEEEEEU!"

A mãe dela assusta-se e dá um salto para trás e sai do quarto trancando a porta. Oiço gritaria. Muuuuuita gritaria. Bom não é nada comigo, vou mas é dormir. A princesa volta ao quarto com lágrimas nos olhos e diz-me que posso ficar ali a dormir.

- “Oi… olha a minha mãe queria falar contigo. Depois antes de saíres passa ali na sala”.
- “E se eu não quiser falar com ela? Sabes que para um diálogo é preciso concordância de ambos e sinceramente eu preferia ir falar com o Kadhafi neste momento do que com ela”

- “Faz-me esse favor, Noé. Ok?”

Sou um coração mole e lá concordei em ir ter, até aquela data, a conversa mais embaraçosa de sempre. Faço um reparo que isto foi lá para 2001: casaco de cabedal Chevignon, manga cava, Levi’s e uns Nike de côr “discreta”. Só faltava ter uma seringa e um limão em cada mão para estar apresentado. Não enganava ninguém a não ser a mim mesmo.
Só tive tempo de dizer “Bom d….”

“OLHA… EU NÃO SEI QUEM TU ÉS. NEM QUERO SABER. ISTO É UMA CASA DE RESPEITO, ENTENDIDO RAPAZ? NÃO SEI O QUE ÉS À MINHA FILHA NEM QUERO SABER. MAS SITUAÇÕES DESTAS NUNCA ACONTECERAM AQUI NEM FAÇO INTENÇÕES DE VOLTAR A SABER QUE ACONTECEM. FAÇA FAVOR DE SAIR”

“…ia. Chamo-me Noé. Muito prazer minha senhora”.


Saio como se tivessem a oferecer Playstations 2 na Worten e guio até casa. Pelo caminho oiço a Mix FM e acendo um cigarro e vou sem saber se devia rir do que aconteceu ou chorar. Ao entrar em casa estava, como habitualmente, a minha mãe a preparar a janta e o meu pai a roncar no sofá.

Entrei mudo em casa. Branco como a cal. Cama comigo.

Sim, estive a rir debaixo dos lençóis. Bati uma e adormeci. Sossegado!

"Noé, devias comido a velha!" - dizem vocês. Talvez.

Até domingo e boas fodas.

Noé

Noé

Trintão miúdo de coração ao pé da boca. Perdido em fantasias concretizadas e concretizáveis apenas preso por amarras do anonimato. Relatos passados de opinião libertina é um santo pecador por excelência.

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