24 février, 2022 A cativa
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A bela cativa que me pôs cativo
Passava os dias debruçada no postigo
Deixava os homens de queixo caído
Assim mandava o fetiche do marido
Ciumento, duro e possessivo
Amava-a como a uma Cinderela
Reservava-a para seu uso exclusivo
Mas gostava de exibi-la na janela
O mundo inteiro passeava nos seus olhos
Acendendo-lhe as carnes e os desejos
Os homens humedeciam-lhe os entrefolhos
As mulheres arrepiavam-lhe os pintelhos
Então já todos a conheciam
A mulher que gemia na janela
Desesperada, pois ninguém se atrevia
A abrir a porta e dar-lhe uma encavadela
Até ao dia em que tudo se alterou
E um ladrão lhe assaltou as moradias
Pregou-lhe uma tal enrabadela
Que a cativa voou para outra freguesia
Quando o marido regressou a casa
Cheio de tesão de a encontrar ao fim do dia
Deu com a parede esporrada
E a sua bela janela vazia…
FIM
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com