28 Enero, 2015 A carta de uma trabalhadora do sexo a uma esposa
Escrita confessional para ser lida por esposas, maridos e por demais trabalhadoras do sexo...
Uma trabalhadora do sexo da cidade de Nova Iorque escreve uma carta pungente e avassaladora sobre a realidade da sua profissão. April Adams, o pseudónimo desta mulher, usa o pretexto de uma missiva escrita à esposa de um dos seus potenciais clientes para abordar vários pontos essenciais sobre o "métier" do sexo e sobre a sua importância social.
A carta de April Adams foi publicada na revista Vice e pode ser lida, na íntegra, de seguida...
"Cara esposa,
não te conheço, mas sei que é possível que o teu marido te vá enganar com uma trabalhadora do sexo. Digo isto porque sou uma e não tenho falta de clientes.
Mas não o teu marido, dizes, não ele! Outros maridos, claro, mas a vossa relação, a vossa vida sexual, é diferente. Tiveram um "trio" com a vossa colega de quarto há 10 anos. Têm uma babysitter e vão até Vegas em todos os Agostos. Têm aquela coisa especial com as maratonas de "Lei e Ordem". Têm um grande casamento!
Deixa-me perguntar-te: quando foi a última vez que tiveram sexo três vezes numa semana? Quando foi a última vez que ele se queixou sobre isso? Não achas que, talvez, seja possível que ele esteja, antes, a tirar o problema das tuas mãos, o que quer dizer, para as minhas?
A boa notícia é que, se o teu marido anda a ver-me, é porque ele quer continuar casado. Ele está a escolher obter alguma afeição sucedânea da forma menos confusa possível. Imagina que, em vez de mim, era a babysitter, a tua vizinha, a tua melhor amiga. Podia continuar a lista, mas já percebeste a ideia.
Sou uma profissional. Sou discreta, mas, mais do que isso, sou distinta: o meu tempo, a minha atenção e sexualidade são medidas em horas, para lá das quais ele é teu. E mais importante, eu não amo o teu marido e nunca amarei. É muito improvável que eu, alguma vez, venha a sentir por ele mais do que o nível de afeição que se sente pelo empregado de café favorito.
Nunca serei uma ameaça ao teu casamento, porque, quando desligo o relógio, não quero ter nada a ver com nenhum de vós. Nunca vou sair para jantar com ele, ou telefonar-te a meio da noite ou falar do divórcio. Não vais descobrir nada sobre mim. E se descobrires por ele, ou é estúpido ou está zangado contigo.
Sim, alguns clientes viajam e caiem em sentimentos, mas é uma poça superficial, já que eles sabem que aquilo que andamos a fazer é falso. Tu não achas que o teu picheleiro adora sanitas, pois não?
Os homens sabem que a minha afeição por eles é condicional para com a afeição deles em darem-me dinheiro. Ele não está a visualizar ter A Conversa contigo e com os miúdos e, depois, correr para o meu quarto de hotel e amorosamente suspirar o meu nome inventado. Eu estou fora da vida. Eu sou uma empregada. Mesmo que ele esteja muito fixado sexualmente em mim, as suas emoções não vão investir profundamente no que fazemos juntos.
Se as coisas ameaçam tornar-se "complicadas", como os putos dizem, para o seu lado, há uma saída de segurança: eu custo dinheiro.
Segundo a minha experiência, os homens, geralmente, só gastam o que podem no sexo. Se o teu marido precisa dele de duas em duas semanas, e pode esgueirar 1000 dólares do orçamento doméstico mensal, ele encontra alguém que cobra o que eu cobro. Mesmo que queira mais, ele não pode conseguir um extra do ar. O tipo de montanha russa que termina em, "Querida, tenho uma coisa para te contar", requer aceleração, o que requer imprudência.
O que quer que ele pense que sente, ele vai-se esquecer em duas semanas, como com qualquer outro desejo. Se ele liquidar o seu plano de reforma para comprar o meu tempo, espero que o mergulhes no divórcio, porque ele não tem nada que mexer no dinheiro.
E então as doenças? Apesar do que vês nos filmes, a maioria das trabalhadoras do sexo são, hoje em dia, provavelmente mais saudáveis e mais conscientes da segurança do que a média das secretárias amorosas. Lembras-te do que disse sobre a minha extremamente limitada afeição por ele? Isso inclui o seu perfil epidemiológico. E também não há preocupações com crianças do amor. As hipóteses de eu carregar um bebé relacionado com o trabalho são, aproximadamente, de 0 por cento de Absolutamente Não, com um desvio standard de Tens Que Estar a Brincar Comigo.
Talvez ainda não queiras que ele durma comigo. Eu pergunto de novo: quando foi a última vez que tiveram sexo três vezes numa semana?
Não estou a dizer que mantê-lo feliz é o teu trabalho. Digo que talvez não queiras dormir com ele tantas vezes. Estás ocupada, stressada, ou ele já não é o que tu queres. Eu percebo; ele, certamente, não é o que eu quero.
E esse é o ponto. Eu sou o ingrediente secreto em muitos casamentos saudáveis, porque quando ele está comigo, ambos estão a ter a quantidade de sexo que querem. Desde que deixes o telemóvel dele em paz, talvez consigam chegar ao vosso 50.º aniversário. Não tens de quê.
Gina Maria
Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.
"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]
+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas)