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05 Septiembre, 2024 A tesão chega aos 60

Nem era capaz de dizer há quantos anos não tinha um orgasmo...

A vida não começa só uma vez, começa e recomeça muitas vezes, quando as circunstâncias e a necessidade assim o ditam. No meu caso, depois de uma vida familiar que ocupou todas as minhas energias durante décadas, entrei nos 60 anos à vista duma realidade que para mim era inédita...

A tesão chega aos 60

Pela primeira vez, vi-me sozinha, sem ninguém a meu cargo, livre para perseguir os meus próprios sonhos e desejos.

Em menina, era muito espevitada, em adolescente, muito curiosa e à entrada do estado adulto, pouco depois de fazer os meus 19 anos, ninguém se admirou que um dia, chegasse a casa e anunciasse que estava noiva. Foi um choque para a família, claro, mas nem por isso uma grande surpresa, pois todos eles conheciam o meu espírito independente.

No período do noivado, aproveitámos o que os nossos votos nos permitiam. Já que estávamos encomendados um ao outro, não havia razão para esperar e claro que eu não queria desperdiçar a oportunidade de aprender o que não sabia.

Ele já tinha alguma experiência mas, no final, julgo que lhe ensinei tanto a ele como ele a mim. Fizemos tudo e mais alguma coisa, muitas delas por minha iniciativa.

Não exagero quando digo que era a única entre as minhas amigas que sabia o que era um felácio, que já tinha recebido as boas graças dum cunnilingus, que conhecia as sensações de um bom par de dedos a excitar-me o clitóris e a vagina.

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Inclusivamente, permitira diversas vezes que ele me penetrasse atrás, porque o desejo era muito, mas eu tinha decidido que queria ir virgem para o casamento. Por esses tempos, fez-me doer o rabo, embora aos poucos fosse ficando mais fácil, mas consenti como forma de compensar a sua paciência e a adoração que sentia por mim.

Nessa altura, o sexo não era algo que as mulheres discutissem livremente, a maioria delas não sabia sequer o que era um orgasmo. Pois bem, eu cedo descobri o que era o clímax amoroso, e quando não me era providenciado pelo meu companheiro, atingia-o pela masturbação, que praticava em solitário e com regularidade.

Então, podia dizer-se que, além de bastante curiosa, ou também por via disso, eu era uma mulher muito sexual, para meu benefício e do meu noivo, pois então não havia muitos homens que se pudessem assumir realizados nesse capítulo.

Claro, eram tempos diferentes, de muita repressão política e social. Mas eu era uma exploradora nata e ele amava-me também por isso.

Em retrospectiva, ainda hoje é difícil entender como aguentámos tanto tempo sem chegar ao coito propriamente dito, tais os níveis de tesão e entusiasmo que então suscitávamos um ao outro. Até ao dia em que o inevitável aconteceu...

Mal senti o rompimento do hímen, quase não senti a dor, apesar do sangue abundante. Ele foi muito gentil e paciente e rapidamente entrei em absoluto delírio ao sentir-me perfurada pela primeira vez pelo meu amor...

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 Mas bastou essa vez para mudar tudo. Casámos dois meses mais tarde, eu com 20 anos, de vestido branco a tapar a barriga que já se começava a notar. A minha filha nasceu saudável sete meses depois.

Com a gravidez, primeiro, e o bebé depois, as coisas mudaram significativamente. De repente, a vida de descoberta e aventura tornou-se um oceano de responsabilidades. Entre a depressão pré-parto e a depressão pós-parto, a nossa vida comum transformou-se numa rotina seca e amarga, onde rapidamente se diluiu o desejo.

Eventualmente, com o passar dos anos, pudemos recomeçar, mas nunca mais foi o mesmo.

Durante os 20 anos seguintes, fomos pais, amigos, cúmplices e só de quando em quando, amantes.

Chegámos àquele ponto, não tão incomum quanto isso, de estabelecer um dia para fazermos amor. Mas quando a espontaneidade não está presente, tudo é mais difícil e menos apetecível. Logo começaram as desculpas de parte a parte - hoje não me dá jeito, agora não me apetece, tenho tanta coisa na minha cabeça, amanhã tenho que me levantar cedo...

Aquela chama inicial, que fazia de nós os amantes mais apaixonados do mundo, apagara-se sem sequer darmos por isso. Aquela tesão que nos inflamara, que me inflamara, passou a ser apenas uma memória. E isso contagiou tudo. Cada vez sentia menos vontade de me ver ao espelho e até de me tocar.

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Até que deixámos pura e simplesmente de nos procurar. Íamos para a cama, no máximo, duas ou três vezes por ano, que mal davam para nos lembrar do que estávamos a perder.

Foi quando nos preparávamos para entregar a nossa filha, já mulher, ao seu futuro universitário, que surgiu, acidentalmente, o segundo acto do nosso drama.

Numa dessas noites avulsas, provavelmente precedida de uma qualquer festa e com uns copos a mais, engravidei de novo.

Aos 40 anos, foi uma decisão difícil. Por um lado, pelos riscos associados. Mas, sobretudo, pela mudança que, mais uma vez, inevitavelmente, uma nova criança traria às nossas vidas.

O caso é que, nas discussões que mantivemos durante o mês seguinte, na análise dos prós e contras, acabámos por nos reaproximar muito. Até ao ponto de pensarmos que aquele acidente talvez fosse a melhor coisa que nos pudesse ter acontecido. Quem sabe se não era a vida a dar uma segunda oportunidade ao nosso amor...

Decidimos, pois, ter o bebé, e os primeiros meses foram uma espécie de decalque nostálgico de quando nos conhecemos. Não nos conseguíamos largar, fazíamos tudo, broches, minetes, masturbação simultânea... Voltámos, inclusivamente, ao sexo anal, que, entretanto, aprendi a apreciar com grande prazer e nenhum desconforto.

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Até que o bebé nasceu e, confirmando o ciclo da vida, voltámos às velhas rotinas da responsabilidade e, sem nem darmos por isso, o amor extinguiu-se de vez.

O meu marido não aguentou a carga (a mim também já tudo me irritava nele) e antes mesmo do primeiro aniversário do nosso filho, concordámos que seria melhor ele sair de casa.

Ele continuou presente como pai, partilhando as responsabilidades, mas o nosso enlace amoroso terminara definitivamente.

Não sei pessoalmente o que me aconteceu. Perdi completamente a líbido ou o interesse pelos homens.

Apenas uma vez, nos 20 anos seguintes, me permiti ir para a cama com um colega do trabalho, mas não correu bem. Apesar de sentir algum prazer (ou de recordar o que era), resvalou tudo num grande acto falhado.

Há muito tempo que não me despia para ninguém, senti-me muito desconfortável, envergonhada, tímida, presa de movimentos e disposição, e a forma que ele encontrou de superar as minhas barreiras foi endurecer o carinho e apressar as coisas.

Queria porque queria que eu o chupasse - eu recusei. Então, virou-me ao contrário, montou-me por trás sem mais preliminares, deu meia dúzia de estocadas rápidas e veio-se dentro de mim. Depois disso, nem eu, nem ele conseguimos dizer palavra.

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Foi como um aviso do meu corpo e da minha mente a dizer-me para desistir. E fiz isso mesmo. Inclusivamente, deixei em definitivo de me masturbar, algo que sempre fizera, mesmo nos anos de casada.

Só muitos anos mais tarde, quando entreguei o meu filho, já homem, ao seu destino universitário, isso mudou. De repente, vi-me sozinha no mundo, sem outra responsabilidade que não pensar em mim própria. E aos poucos, fui percebendo que o meu desejo voltava...

Não foi de um dia para o outro, aconteceu a pouco e pouco. Às vezes despia-me para tomar banho e o meu cheiro excitava-me... Ou saía para ir ao café e dava por mim a observar a postura dum homem, a medir-lhe o pacote nas calças e o volume do rabo... Nos apertos do metro ou dos autocarros, o contacto físico e a pressão dos corpos era-me agradável...

E uma noite, sem pensar muito nisso, voltei a masturbar-me até ao orgasmo. Nem era capaz de dizer há quantos anos não tinha um orgasmo...

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Com 60 anos, tudo é diferente. Qualquer prática de cortejo já não assenta numa base de segurança na nossa beleza feminina. Porque olhamos para o nosso corpo e apenas vemos os seus defeitos, as rugas, a flacidez, as estrias da pele...

A confiança, aquilo que nos faz sentir eventualmente sedutoras, passa a residir noutros aspectos. Vem mais da nossa postura, do nosso charme, da nossa cultura, da nossa experiência.

Notei, ao abandonar o semblante fechado que me acompanhou, naturalmente, pelos meus "anos de seca", como lhes costumo chamar, que havia uma receptividade dos homens se eu lhes desse a oportunidade.

Estando quase sempre sozinha nos mesmos sítios, reparei que suscitava curiosidade naqueles que me observavam. Não sei se me viam como uma dama misteriosa, ou uma cota apetecível, uma gilf, como agora se diz, mas a verdade é que comecei a reparar nos sinais, nos olhares, no interesse que gerava.

Passei então pelo dilema, natural, julgo eu, de aceitar ou não a realidade das minhas próprias constatações. Era mesmo possível que aos 60 anos ainda pudesse atrair alguém? Era possível que apesar das rugas na cara, das mamas descaídas, do rabo flácido, da cona meio pelada, o meu corpo ainda pudesse despertar tesão a um homem?

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Tive a resposta quando um dia, na pastelaria onde tomava o meu café diariamente, um cavalheiro se aproximou de mim e me disse que há vários dias me observava secretamente e que tinha estado a reunir coragem para me abordar. Perguntou se podia sentar-se comigo, o que aceitei, e disse-me que me achava muito bonita. Apreciava a minha tranquilidade e o que chamou "os meus olhos sábios".

Não recordo bem o que mais usou como táctica de engate, mas funcionou, porque me senti seduzida, apreciada, desejada.

Não quis assustá-lo convidando-o imediatamente para a minha casa, que em boa verdade era o que me apetecia, mas três dias de muita e boa conversa depois, estava ao meu lado na minha cama, ambos nus e excitados, cheios de paciência e curiosidade, explorando-nos sem pudor.

Ele ficou muito tempo só a olhar-me, encantado com as promessas do meu corpo, das minhas bocas despertas e pulsantes. Obviamente, isso fez-me sentir vaidosa e excitada, de novo disponível.

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Fodemos, claro, não uma, mas várias vezes, com carinho, com paixão, com conversa, com vigor, com muitos risos e muita alegria. E no final, depois de vários orgasmos, suspirei pela primeira vez em muitos anos aquele prazer simples que a vida me tinha levado a abandonar.

O curioso é que, depois dessa longa tarde, ao despedirmo-nos, não senti que queria estar com ele de novo. Penso que ele o notou, com certa tristeza, apesar de nunca o ter verbalizado. Mas era essa a minha verdade. Eu não queria relacionar-me com alguém, não mais.

Queria mais sexo, isso sem dúvida, mas já não com ele. Queria outro!

E assim foi. Eventualmente, esse cavalheiro e eu estivemos juntos mais duas ou três vezes, mas apenas sexualmente, sem nenhum tipo de compromisso.

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Desde então, estive com vários homens, diferentes, diversos, com diferentes e diversos níveis de paixão e de prazer. Mas com uma consequência em comum: todos eles me fizeram sentir mulher! A mulher que eu pensava perdida...

A vida não começa só uma vez, começa e recomeça muitas vezes, quando as circunstâncias e a necessidade assim o ditam.

No meu caso, recomecei aos 60, com a líbido de duas mulheres de 30, com essa magia recuperada e absolutamente natural e sem idade, que é acordar todos os dias molhada de tesão.

Não sei quando ou se este ardor um dia me voltará a abandonar. Se ou quando tudo se acabará de vez. Nem penso muito nisso. Para já, sinto-me sexy, sinto-me kinky, sinto-me aberta aos prazeres que a vida me reserva. À espera do que possa vir.

O meu desejo hoje é apenas aproveitar. Desfrutar dos meus anos dourados.

Amanhã logo se vê...

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Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

Armando Sarilhos

O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.

Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.

Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com

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