11 Diciembre, 2020 O estranho caso do enigma misterioso - Parte II
(Ilustrações de Xana Pascual)
Já tinha ouvido falar dos gostos “excêntricos” das pessoas com poder… Não sei, chamem-me antiquado, mas para mim o sexo...
...não é o retrato de um alguidar de carne a fazer lembrar as Páscoas da infância.
Sentia-se o cheiro de borracha queimada através do vidro da janela.
Os amantes esfregavam-se, beijavam-se, mamavam-se...
Os amantes esfregavam-se, beijavam-se, mamavam-se...
Os amantes esfregavam-se, beijavam-se, mamavam-se...
O espectáculo podia ser entretido para um doente terminal, mas a mim estava-me a trabalhar o estômago. Para além disso, não via Don Clericúzio no meio dos outros.
Só reparei nele depois, no canto oposto ao centro das orgias, a dar às nalgas em cima duma loura. Menos mal. Não sei até que ponto seria digno de um criminoso do seu calibre envolver-se em certas actividades, muito menos de um representante de uma instituição que punha a família antes de tudo. Mas enfim, cada um com a sua pancada e liberdade para todos, sempre foi o meu lema.
Fosse como fosse, estava-me lixando para as inclinações sexuais do meu alvo. Esta era a prova de que precisava e disparei uma boa sequência de instantâneos para mais tarde recordar.
Mas, no preciso momento em que acabava de clicar, A Besta voltou a cabeça na minha direcção! Pensava estar bem escondido na bruma, atrás da janela, mas agora já não tinha tanta certeza.
Puxei logo da fusca, não fosse o diabo ter ideias manhosas sobre o meu estado de saúde.
A equação era de quarta-classe: se ele me tivesse visto, a coisa acabava aqui e agora, numa inevitável tragédia de romance de cordel.
Triste maneira de morrer, no vislumbre duma sala cheia de papadas suadas e paus tesos...
Mas, para meu alívio, o Don virou a cara e voltou empenhadamente à sua ocupação de empalar a pobre donzela que marinava por baixo dos seus 200 quilos.
Pirei-me dali o mais depressa que pude e andei muito tempo na cidade, respirando os venenos do ar para me ajudarem a esquecer as imagens que tinham ficado gravadas no meu espírito. Até os meus colhões estavam com refluxo.
Restava a última parte da missão e confesso que não a desejava com particular devoção.
Ter que dizer a uma mulher que o marido a anda a trair, mesmo que ela saiba, nunca é uma tarefa agradável. No meu círculo costuma dizer-se que as mulheres matam os mensageiros. Diz-se, porque há lendas que o confirmam.
A diva fez-se esperar, como é apanágio das cujas.
Aproveitei o interlúdio para estudar a melhor forma de dizer o que tinha que ser dito. À bruta, mais ao meu estilo de resolver as merdas, ou de mansinho, mais propício ao final feliz que o meu cacete, com o meu aval, fantasiava. Não cheguei a nenhuma conclusão, pois fui subitamente interrompido...
...com uma pistola apontada à cabeça.
As razões para aquela emboscada, segundo ela, prendiam-se com o facto de não confiar em mim. Nenhum homem é de confiança, disse. Estava obviamente a precisar duma lição.
Desarmei-a com um golpe rápido e ameacei esbofeteá-la se não parasse com a histeria. Havia duas coisas que toda a gente sabia sobre mim, disse-lhe. Primeiro, que nunca deixo de fazer o trabalho a que me comprometo; e segundo, que não tenho paciência para gajas. Ou querem comer ou querem ser comidas. Se não querem nenhuma das coisas, putas daqui para fora, não perco mais tempo com elas.
Subimos para o escritório e mostrei-lhe as provas. Não pareceu nada agaradada com o pitoresco das evidências e a resposta foi fechar-se em copas como se tivesse entrado em transe.
Pelo menos estava sossegada. Em todo o caso, era a minha aberta...
A maneira mais popular de vingar uma traição era traindo por sua vez, aconselhei, com a entoação de um monge budista. Era sabedoria popular, mas sabedoria em todo o caso.
O meu trabalho estava feito, mas se ela quisesse a minha ajuda...
…por exemplo, para aquitectar a sua vingança, eu estaria disponível.
Para além disso, havia a questão do pagamento, mas isso agora era secundário, não era minha intenção perturbá-la enquanto ainda se encontrava em choque…
Como veem, quando quero sou um falinhas mansas.
No entanto, ela continuou sem palavras, como se estivesse atordoada.
Então percebi que não ia lá com lenga-lengas.
O primeiro toque fê-la gemer de imediato!
Quando lhe agarrei a perna, pensei que se vinha para cima de mim...!
Nunca tinha vista uma mulher em tal estado. Parecia que estava ligada a uma central eléctrica cujas ramificações, estendidas a todo o corpo, a tornavam uma zona erógena total, da cabeça aos pés.
O seu próprio choque pareceu acordá-la e o instinto fê-la retrair-se...
Mas eu tinha o ouro na ponta dos dedos e não ia deixar passar a oportunidade de validar esta fascinante descoberta. Era como uma oferta que os próprios deuses me enviavam na forma duma mulher mal-amada, que reagia ao toque como as coisas a Midas.
Assim que a agarrei na cona...
...serpenteou como uma cobra, com todos os centros de prazer do seu corpo bruscamente activados! Se estivéssemos nos escuro tinham-se-lhe acencido as luzes todas.
Ao mínimo toque…
…parecia encaminhar-para o abismo da explosão.
Quando lhe abri as cuecas...
...e lhe enfiei dois dedos, vi que estava alagada como as cataratas de um cego.
Ainda assim algo estava errado...
Uma ténue linha, mas ainda assim suficiente para nos impedir de cruzar novos horizontes.
Puxei e...
Sem dúvida Evax, calibre 45. Estava num daqueles dias do mês.
Felizmente para ela, eu também...
Fiz-me a ela e encontrei-a receptiva. Mais do que receptiva...
A transformação foi radical: de repente já não se via o rosto da mulher magoada pela traição ou possuída por sentimentos de vingança; era apenas uma mulher cheia de volúpia, que sentia uma necessidade absolutamente inadiável de foder! E ser fodida...
Assim sendo, pus-me ao serviço. Apresentei armas...
...e investi tudo no centro nevrálgico do combate.
O impacto foi profundo. Ela disparou salvas por todos os lados, gritando as piores imprecações que já ouvira na vida. Note-se o particular: sabia manter a classe de uma rainha enquando dizia as coisas mais porcas. Berrou a plenos pulmões...
...até que se demanchou a rir!
Não me perguntem. Limitei-me a continuar a luta como um homem com uma missão e o maior sentido patriótico possível.
Imprimi vontade às estocadas e passou-lhe a vontade de rir. Estava a pedi-las, e ia tê-las.
Um ataque à rectaguarda estava na ordem do dia.
Primeiro nos canais oficiais...
...mas depois, também, pelos subterrâneos que conduzem geralmente ao pináculo de gemidos bem arfados, como um urso a foder uma gazela. Uma mulher, quando aprende a gostar no cu, só não esquece a cona porque tem que a lavar. E a minha dama haveria de gostar no cu.
Uma primeira inspecção. Perfumada como o cocó arco-íris de um unicórnio.
Depois o canhão, cheiroso, fução, a abrir brechas, romper linhas, penetrar defesas...
...enterrar-se bem no centro da peida e assim concretizar a grande invasão!
Quando ambos o sentimos lá dentro, explodindo sintomas irreais...
...soubemos que dali em diante iríamos tratar-nos por tu.
Há níveis de intimidade entre homem e mulher que só se alcançam com a devida esporradela no anel anal. Falo por experiência, vivi anos com a mesma mulher e ela foi puta que nunca pariu.
Vim-me com a certeza dessa amizade eterna...
...e o curioso é que ela fez o mesmo! Começou a espirrar como uma agulheta e a declamar poesias de cabra montanhesa.
Ao observar a descarga dela fiquei tão teso que parecia que me vinha por 10 caralhos ao mesmo tempo!
A catarse era abundantemente líquida e pensei para comigo: a primeira vez que dispo a gabardina e apanho logo uma molha das antigas!
Não via um pau tão satisfeito desde os tempos em que esgalhava o bicho com os posters da Charlotte Rampling.
Já a minha diva, continuava num frêmito sexual que parecia imparável...
...enquanto desaguava por baixo como uma sopeira.
Há cigarros que nos sabem a ambrósia...
Saciada nas suas necessidades predatórias, a minha puta vestiu-se como se tivesse acabado de sair do banho e voltou àquela pose soberba de quem tem o caralho que quer à hora que mais lhe convém.
Arrependi-me de não lhe ter dado umas nalgadas.
Mas tinha mais em que pensar. A verdade é que, de repente, me tornara um alvo. Se constasse a Don Clericúzio que a mulher lhe pusera os cornos com um detective de meia tijela, a vida desse detective teria o destino shakespereano dos grandes génios mundiais que agora apodrecem debaixo da terra.
Havia, pois, questões a considerar. Tendo-me usado a seu belo prazer, continuaria a minha lady a fazê-lo, para disputar os ciúmes a Don Clericúzio? Ou, pelo contrário, saberia manter a discrição e usar as provas que lhe tinha dado para sair do divórcio com as vantagens que procurava? Este foi o dilema que me assaltou mal acabei de limpar a cabeça da gaita à ponta da gravata.
Interroguei-a quanto aos seus projectos futuros, mas claro que a a resposta não poderia ser mais dúbia.
- Nunca saberás, pois não?
Assim me vinculava também às responsabilidades e consequências do nosso acto carnal.
Se eu falasse, estava feito. Se ela falasse também. Portanto, restava-me ficar manso e deixá-la com essa carta para jogar como lhe desse mais jeito.
Depois da foda épica que tínhamos partilhado, considerou também que o meu trabalho ficava pago.
Peguntei-lhe se isso não fazia dela uma puta. Mas limitou-se abanar o rabo para fora do gabinete, como se isso fosse uma resposta.
E daí, talvez fosse. Bem vistas as coisas, quem neste mundo é que não se comporta como uma grandecíssima puta, vendendo os géneros ao seu dispôr para conseguir o que quer? Todos o fazemos. Apenas uns o fazem com mais classe do que outros.
Uma coisa ouvi de fonte segura: hei-de bater muita punheta à conta deste caso, revisitando nas minhas tardes bucólicas a racha molhada e o cu guloso que receberam dentro de si o meu mais que tudo.
E sei que ela também. Não me perguntem como sei. Sei.
O pouco que sabemos sobre nós tem que ir chegando. O resto são freiras a enrabar padres.
O estranho caso do enigma misterioso - Parte I
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com