06 June, 2019 O intruso
Este podia ter sido o início de uma história de encantar. Mas as coisas não foram tão pacíficas como tinha imaginado...
Depois de anos a fio a viver em algumas das maiores capitais europeias e do mundo, ambicionava há muito viver numa zona mais pacata, a salvo do bulício típico das grandes cidades. E, apesar de algumas dúvidas, sobretudo devido ao facto de me encontrar sozinha depois de um relacionamento de 18 anos, decidi-me quando vi uma casa no campo a menos de 50 quilómetros do lugar onde então morava.
Apaixonei-me de imediato! Não era grande, mas estava rodeada por imensa vegetação e os vizinhos mais próximos estavam a mais de dois quilómetros de distância em qualquer dos sentidos.
Tudo inspirava paz e tranquilidade, exactamente o que eu procurava. De forma que, depois de fazer o teste que faço em todas as minhas novas casas – pedir por favor ao agente imobiliário para me deixar sozinha por um momento e masturbar-me com um vibrador num recanto da casa, para sentir a vibe! – tomei a decisão de avançar.
O preço estava dentro do que tinha estipulado e mudei-me rapidamente para o meu novo lar, sentindo grande entusiasmo em abraçar mais esta etapa da minha vida.
Este podia ter sido, resumidamente, o início de uma história de encantar. No entanto, as coisas não foram tão pacíficas como eu tinha imaginado. Pelo contrário, ficaram estranhas logo no primeiro dia…
Não era nada muito óbvio. Aliás, a subtileza dos equívocos sugeria menos uma anormalidade exterior que uma simples distracção da minha cabeça. Começou com objectos que encontrava fora do lugar: as chaves do carro dentro do frigorífico; uma caixa de jóias no armário dos medicamentos; uma cenoura, que tinha a certeza de ter deixado intacta na despensa, meio comida na gaveta das peúgas...
Como já referi, pus a hipótese de ser apenas uma confusão da minha cabeça, pois estava em pleno processo de mudança e tinha muito em que pensar. No entanto, com o passar dos dias os estranhos eventos foram-se repetindo e comecei a sentir-me cada vez mais inquieta e atenta a qualquer pormenor insólito em meu redor. A gota de água foi quando comecei a encontrar a minha roupa íntima nos locais mais inesperados: um soutien pendurado num espanta-espíritos; umas meias pretas expostas, muito direitas, no meio da cama; umas cuequinhas muito pequenas e quase transparentes na jarra do açúcar…!
Das duas, uma: ou estava a ficar maluca, talvez devido ao isolamento, pois há uma semana que não via vivalma; ou então, o que estava mais inclinada a admitir, alguém tinha andado a mexer nas minhas coisas! A partir desse momento, não mais consegui deixar de me sentir observada, vigiada e em perigo...
Apesar disso, os dias seguintes passaram sem qualquer novidade. E uma noite abri uma garrafa de vinho e tudo pareceu menos opressivo. Talvez, afinal, fosse mesmo um problema do isolamento. A verdade é que não me lembrava de, em nenhum outro momento da minha vida, ter estado tanto tempo sem ver pessoas... Tudo aquilo era novo para mim. Acabei a garrafa e decidi que no dia seguinte iria dar um passeio pelas aldeias próximas, para ver gente e conviver. Com esta decisão em mente, adormeci serenamente, quase a rir-me de mim própria pelas conspirações mirabolantes que a minha pobre cabecinha tinha fabricado.
E esse foi o último momento em que me lembro de sentir alguma paz na minha vida…
No início não percebi o que estava a acontecer. Estava acordada, mas tinha ainda a mente entorpecida pelo sono e, provavelmente, pela garrafa de vinho que tinha bebido.
Então comecei a distinguir um volume com um peso absurdo que ia e vinha em cima das minhas costas e senti um calor repentino, quase insuportável, nas minhas partes baixas. Eu estava deitada de bruços e, manietada por aquele peso, praticamente não conseguia mexer-me.
Só depois de uns segundos percebi exactamente o que se passava: estava a ser violada!
Ele deve ter percebido que acordei e que o lógico era que tentasse gritar. Assim, antecipou-se ao que eu pudesse fazer, colocando-me a enorme palma da mão sobre a boca e o nariz. Comprimia-me com tanta força que senti dificuldades em respirar. Estremeci e ele afrouxou um bocado a mão, parando por momentos as suas investidas. Então agarrou-me nos cabelos com muita força e aproximou a sua cara da minha. Sei-o porque senti a sua respiração lenta e quente muito perto. Não disse uma única palavra, nem um som. Pôs-me o que me pareceu uma toalha em volta do pescoço e apertou. Aquilo era o seu aviso! E funcionou, porque senti-me imediatamente dominada por aquela “mensagem silenciosa”. Vendo-me assim subjugada, recomeçou os seus movimentos…
Não era o caralho mais comprido do mundo, mas também não seria dos mais pequenos. Mas era extremamente grosso! Acabei por notar que, antes de me penetrar, se dera ao trabalho de me colocar uma almofada debaixo da barriga. Dessa forma eu ficava com o rabo espetado e isso devia facilitar-lhe a posição. Sentia-o entrar muito justo dentro da minha vagina, preenchendo-a por completo. Raramente tinha tido um caralho com um tamanho tão ideal dentro de mim. Não consigo garantir se era eu que estava tão molhada ou se ele tinha usado lubrificante, mas lembro-me de pensar que ele entrava e saía sem o mínimo de resistência, com toda a fluidez e sem nenhuma dor.
Mas, se a minha cona parecia cativada, o meu espírito encontrava-se nos antípodas desse desejo. Sentia-me petrificada pelo terror e passei momentos de verdadeiro pânico. Ainda assim, fosse porque os torpores alcoólicos do vinho permanecessem em mim, fosse pelo facto de há muito tempo não ser possuída por um homem, a dada altura percebi que me debatia com menos intensidade contra o meu violador.
Não me entendam mal: eu estava a odiar cada segundo! E no entanto, uma parte de mim parecia disposta a entregar-se àquela violência: a pôr-se nas mãos de um prazer que ameaçava trair todas as qualidades do meu ódio, do meu medo, da minha resistência…
Não sei quanto tempo ficou a foder-me contra a minha vontade. Não sei quanto mais ficou em cima de mim quando a minha recusa começava a duvidar dela própria… Sei que me vi a lutar contra o prazer com o mesmo sucesso com que tentava lutar contra o meu atacante: nenhum!
Tudo acabou para mim quando, sem querer, me vim com a sua pila grossa dentro da cona...
E tudo acabou para ele quando senti um jacto quente atingir-me as costas – abundantes golfadas de um líquido pesado, numa torrente que parecia não ter fim… Então, tão silenciosamente como tinha chegado, o “intruso” eclipsou-se.
Por longos instantes não consegui mexer-me. Até que, num lapso de coragem, levantei-me, toda ensopada em esporra e com a cona dorida, e marquei o número da polícia.
Quando a polícia chegou eu ainda estava no duche. A água quente sobre a pele era o único bálsamo que parecia fazer algum efeito sobre o meu espírito destroçado. Por isso, havia uma boa meia-hora que me abandonara debaixo dela.
A primeira coisa que me disseram foi que não o devia ter feito. Todas as provas orgânicas da violação já tinham provavelmente desaparecido pelo ralo… Claro que fazia sentido, mas então encontrava-me incapaz de pensar.
Teria de ir imediatamente ao hospital fazer um exame vaginal. Enquanto isso, eles ficariam em minha casa a conduzir as suas peritagens forenses.
Só no final da tarde, depois de todos os procedimentos efectuados, os inspectores, um homem e uma mulher jovens, voltaram a minha casa, rendendo um carro de patrulha que ficara à porta o dia inteiro.
– Como se sente?
– Como se tivesse acordado de um pesadelo… Ou antes… Como se estivesse num pesadelo do qual não consigo acordar.
Não gostei logo da reacção deles. Pareciam… hesitantes.
– As notícias que lhe trazemos não são boas, minha senhora. Os exames que fez no hospital foram inconclusivos.
– O que é que isso quer dizer?
– Quer dizer que não há quaisquer indícios de que tenha sido violada. Não foram encontrados sinais traumáticos de penetração...
– Eu expliquei à enfermeira… Ele penetrou-me enquanto eu estava a dormir. Para além disso, sempre fui muito flexível. Recebo bem qualquer tipo de… membro.
– A somar a isso, não havia sinais de luta ou qualquer vestígio estranho de DNA. Nem na vagina nem nas unhas…
– Também expliquei… Eu estava de costas, nem sequer tive hipóteses de lutar! E depois… sentia-me suja, não conseguia parar de me lavar!
– Seja como for, a verdade é que não conseguimos recolher qualquer indício de que uma penetração tenha sequer acontecido.
– Está a sugerir que eu inventei tudo?! Que estou a mentir?!
– Não estamos a dizer nada, minha senhora. Estamos só a apresentar-lhe as provas. Ou, neste caso, a falta delas…
– Compreendo!
Tive vontade de os estrangular!
– A nossa investigação no local também não determinou nada suspeito. Passámos a casa a pente fino e não encontrámos quaisquer sinais de entrada forçada ou qualquer prova física de que alguém, para além de si, tenha estado no edifício nas últimas 48 horas. Infelizmente, não tem vizinhos que possam corroborar de alguma forma a sua pretensão de…
– A minha pretensão?! Compreendo… Portanto, na óptica da polícia, não se passou nada! Fui eu, a gaja maluca, que inventou isto tudo para dar trabalho à polícia!
– Mais uma vez, não estamos a desconfiar de si. No entanto, não seria a primeira vez que o isolamento prega partidas a uma mulher solitária… Para além disso, a senhora mesmo disse no seu primeiro depoimento que bebeu uma garrafa de vinho. É algo que costuma fazer? Bebe recorrentemente uma garrafa de vinho antes de ir para a cama…? Minha senhora, está a ouvir-me?
– Não. Não é algo que costume fazer...
Levantei-me, querendo com esse gesto vincar que não tinha mais nada a dizer. Sentia-me ruir. Derrotada pelo violador e vencida pelas autoridades de quem esperava a devida resposta da justiça. Se não era capaz de provar ou sequer fazer compreender àquelas pessoas o flagelo por que tinha passado... o que mais podia esperar?! Só queria que eles saíssem dali, que me deixassem em paz!
E eles deixaram, não sem antes prometerem que passariam de vez em quando pela casa para ver se estava tudo bem. Aquele “cuidado” deu-me vontade de rir.
Não me perguntem porque o fiz. Naquele momento pouca ou nenhuma racionalidade me poderia ajudar a melhorar as coisas. Por isso, fui direita à despensa e abri outra garrafa de vinho! Não sei porquê, mas só esse gesto me fez sentir melhor. Sorri, como se aquilo me vingasse, se não do meu violador, pelo menos dos meus descrentes agentes da autoridade!
Mas não cheguei sequer a acabar o primeiro copo... Com todos os acontecimentos da madrugada anterior, ao tempo que não pregava olho. Fui para o quarto e caí na cama de chapa, disposta a entregar aos sonhos o esquecimento de todo aquele drama…
Contudo, apesar do enorme cansaço, não consegui dormir. Sentia a alma inquieta, mas o corpo mais inquieto ainda. Não pude evitar revisitar os acontecimentos da noite maldita. Por muito que os tentasse afastar, os pensamentos voltavam como um íman. Sentia, como se ele estivesse ali de novo, o seu peso em cima de mim… Não era gordo, ou teria sentido a sua barriga nas costas. Devia ser alto e musculoso, para ser tão pesado. E o seu caralho era duro!
Duro como poucos caralhos me tinham fodido. Sempre odiei caralhos moles...
Sem sequer dar por isso, comecei a tocar-me em baixo.
Tão duro, tão grosso… E, no entanto, deslizava tão bem! Ele deve ter usado lubrificante… Mas, segundo a enfermeira, apareceriam resíduos nos exames toxicológicos se ele tivesse usado qualquer produto químico. Então, se não usou um lubrificante, isso queria dizer que eu estava excitada, muito excitada… Não havia como saber. Em todo o caso, estava dormir. Se estivesse acordada, o medo não me deixaria sentir prazer. Ele apanhou-me a dormir e a cona não quer saber quem é que se mete lá dentro: a cona gosta é que lhe metam coisas lá dentro!
Continuava a masturbar-me e percebi que estava encharcada. Enfiei dois dedos lá dentro, como a cona gosta, e parecia que não tinha posto nenhum! Meti mais um e outro no cu…
Acho que foi aí que libertei o primeiro gemido. O gemido que ouvi no momento imediatamente anterior ao daquele outro som: o da chave a girar na porta!
Desta vez estava perfeitamente acordada e percebi logo do que se tratava. Ele não disse nada. Não o podia ver na escuridão, ouvia-o simplesmente respirar. Eu também fiquei calada. Fiquei calada quando senti a sua presença e continuei calada quando senti o seu volume pesado em cima de mim. Deixei-o penetrar-me de frente. Abri as pernas o mais que pude e desta vez ainda me pareceu maior. Agarrei-lhe os braços quando o senti bater no fundo, e pude confirmar que eram densos e musculosos.
Primeiro fodeu-me devagar. Depois aumentou a intensidade das estocadas. Ouvi a sua respiração aumentar muito e pensei que se ia vir dentro de mim. Mas não. Eu não o via na escuridão. Ele puxou o caralho do meu buraco central e senti as suas pernas subir por mim acima. Segundos depois tinha a sua picha bojuda, humedecida pelo visco da minha cona, a cheirar a ambas as coisas, a picha e a cona, pousada nos meus lábios!
Abri a boca para o deixar entrar e deixei-o avançar até encontrar o fundo da minha garganta. Então chupei com toda a força! Chupei sem o largar, apertando-o como um torno para não o deixar ir nem vir. Não durou muito… Com um urro lancinante, começou a bombear esporra para dentro do meu esófago. Quase me engasguei, mas aguentei estoicamente, chupando com força aquele pescoço gigantesco de caralho que me enchia a boca toda!
Quando saiu fez o som de uma rolha a destapar um vinho verde! E, como na primeira vez, desapareceu sem deixar rasto…
Desta vez não resisti: enfiei as mãos na cona e o vibrador no cu e esfreguei-me toda até explodir de prazer!!
Semanas depois acordei com um telefonema da polícia. Ao que parece, um agente mais velho, ao ouvir falar do meu caso, recordara-se que muito tempo atrás, cerca de 40 anos antes, tinham sido apresentadas naquela mesma casa diversas queixas por violação, mas nada nunca ficara provado. Talvez, sugeria o jovem agente que me ligou, eu tivesse ouvido falar do sucedido e, impressionada pelo mesmo, o meu subconsciente me tivesse levado a experienciar uma ilusão relacionada com ele.
Agradeci ao agente a sua psicologia de cordel e confirmei que sim, poderia ter sido isso. Pareceu contente consigo mesmo…
Fosse como fosse, pela minha parte era então indiferente saber quem poderia ser o meu amante fantasma. Bastava-me saber que ele “estava lá”…
Já moro ali há mais de 4 anos e nunca sei quando, onde ou de que forma ele me vai atacar. Nunca sei se me vai à cona quando estou na horta, se me vai à boca quando estou na cama, ou se me vai ao cu quando estou no duche. O que sei é que, desde então, nunca me falhou.
Nunca o vi. Ele vem quase sempre quando estou no escuro e, quando me ataca de dia, é sempre por trás.
Também nunca me disse uma palavra, mas não é preciso. O que ele não diz com a boca diz com o caralho. E eu respondo como posso: com todos os meus buracos sempre humedecidos de expectativa pelas suas visitas… As visitas do meu fantasma: as fodas do meu intruso!
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com