13 June, 2019 O casal que fodia a papel químico
Esta história é verdadeira e tudo aconteceu como irei descrever.
Se a conheço foi porque me foi confidenciada pelos próprios protagonistas que a viveram, apesar de saberem do meu ofício de escriba pornográfico. Ou, se calhar, por isso mesmo…
Por respeito à sua privacidade, omitirei aqui os seus nomes, passando doravante a referir-me a cada um deles como Ele, Ela e O Outro.
Quando casaram, há quase dois anos, Ela não sabia que Ele era gay. Em boa verdade, Ele também não sabia. Quer dizer, tinha suspeitas, mas nunca as confirmara. Na infância e adolescência, não chegara a atravessar as tradicionais fases de interesse pelo sexo oposto. Mas fora educado de uma maneira conservadora, onde o pensamento sexual não era especialmente estimulado, pelo que não deu maior importância ao facto.
Os problemas manifestaram-se mais tarde, quando, já adulto, Ele conheceu Ela e começaram a namorar. Então, ao validar as suas suspeitas, não teve coragem de o assumir. Escondeu-o em nome de um sentimento que o dominava e que temia pôr em risco.
No início, enquanto tudo foi puro e casto, o relacionamento deles foi maravilhoso. Ele apaixonou-se genuinamente por Ela, pela companhia e cumplicidade d’Ela. E Ela também foi percebendo que o que crescia dentro de si talvez pudesse chamar-se isso: paixão.
Passavam todo o tempo que estavam juntos agarrados um ao outro, como se não se conseguissem largar. Beijavam-se sem parar, aumentando cada vez mais a ousadia das carícias.
Até que, depois de seis meses de preliminares, julgando que a timidez e puritanismo dele o impediam de fazer avanços mais conclusivos, Ela tomou a iniciativa e disse-lhe que estava preparada para consumar a relação. Esperava, naturalmente, a resposta entusiástica do macho que mal pode esperar para enfiar a pila numa rata nova. Mas, para seu grande espanto, e de uma forma beata que a perturbou, Ele recusou a oferta. Aliás, não apenas recusou como virou de tal forma o bico ao prego que, no final das contas, parecia que o estava a fazer para benefício d’Ela!
– Meu amor, agradeço o sacrifício que te dispões a fazer por mim, mas não quero que te sintas pressionada. Eu não tenho pressa. Quando estiveres preparada, acontecerá naturalmente.
– Mas eu estou preparada! – objectou Ela, que nos últimos dias mal tinha conseguido controlar a tesão que lhe encharcava constantemente a cona.
– Estás a dizer isso porque pensas que é o que eu quero ouvir... Eu conheço-te, estás sempre disposta a qualquer coisa para agradar os outros. É quem tu és… Mas comigo não precisas de ser assim. Eu amo-te e já te disse que não tenho pressa. Teremos muito tempo para isso quando a nossa relação estiver mais amadurecida.
Ela não lhe deu ali mesmo um par de estalos porque não era de violências… A arrogância da besta…! “Mais amadurecida”?, pensou. Andavam juntos havia quase meio ano, foda-se! “É quem tu és”? De onde teria o palerma tirado a ideia de que a conseguia “ler”, ainda por cima com aquele tom paternalista que parecia dizer:
– Eu não só te leio como te leio melhor que tu a ti mesma!
O desplante do estafermo! Teria ideia do arrogante e insensível que estava a ser?!
Depois de um par de semanas de amuo, Ela decidiu-se resolver a situação de uma maneira ou de outra. Era uma noite de Julho e apresentou-se em casa d’Ele com uma gabardina até aos joelhos (um clássico). Depois de um pequeno discurso, em que resumidamente contabilizava o meio ano que estavam juntos e a tesão crescente que cada vez lhe punha mais nódoas nas cuecas, despiu o casaco, ficando nua à frente dele, e virou-lhe o cu, rematando a introdução com um ultimato:
– Decide-te: ou fodes-me ou vou arranjar quem me foda!
O inesperado da situação funcionou como afrodisíaco e ele partiu desvairado para cima dela, lambendo, mordendo, metendo dedos e puxando cabelos em cima e em baixo. Ela, sentindo-se um objecto naquelas mãos fortes que a viravam para cá e para lá, não conseguia parar de rir. Só parou quando empurrou a cona contra a cara dele e começou a arfar como uma morsa.
Há muito que não sentia aquela fúria nuns preliminares. Estava pronta... Estava mais que pronta!
No entanto, quando chegou a hora H, Ele não o conseguiu meter... A vara foi-se abaixo!
Tentaram mais algumas vezes, ele já muito a contra vontade, até que decidiram atribuir a quebra ao nervosismo da circunstância e acabaram por adormecer nos braços um do outro.
Nos dias seguintes, com o desejo por saciar, Ela voltou ao ataque, mas a falta de consistência d’Ele continuava. Ou seja, Ele até começava bem, Ela chupava-lhe o caralho, que respondia lindamente, mas quando lhe dava a cona a lamber até se sentir pronta para a penetração, Ele “amolecia”.
Sem saber mais o que fazer, um dia Ela foi ter com Ele e, em verdadeiro desespero, ofereceu-se-lhe a seco, sem preliminares:
– Fode-me já! Fode-me agora!
E, finalmente, conseguiu que ele a penetrasse!
Estava tão carente que humedeceu imediatamente e ter-se-ia vindo numa questão de segundos, não se desse o caso de Ele “morrer” dentro d’Ela...
Sentir aquela coisa murcha dentro da cona, no lugar na vara de aço de que tanto precisava, despertou-lhe um ataque de raiva e apeteceu-lhe esmurrá-lo! Mas refreou o ímpeto e, em vez disso, abraçou-o. Afinal de contas, amava-o.
– Não faz mal, querido. Havemos de resolver isto…
Não resolveram e, apesar de o problema persistir, casaram um mês depois…
Ela tinha esperanças que a estabilidade de uma vida a dois acalmasse a ansiedade que o ia derrotando nas tentativas conjugais. O casamento era pois, no caso deles, não apenas a reunião de duas almas que se encomendam uma à outra, mas também uma medida terapêutica contra a disfunção eréctil. No mínimo, era original.
A cerimónia foi discreta, limitada a meia dúzia de amigos, pois Ela não se sentia com ânimo para anunciar em grandes festejos uma união que não sabia se iria resultar. Preocupava-a, mais do que o copo de água ou os arranjos florais, a noite de núpcias. Seria de péssimo agouro que ele voltasse a falhar nessa circunstância tão simbólica! Por isso mal o deixou beber… Queria-o com todas as forças que Ele fosse capaz de conjurar para lhe dar a foda que tanto ansiava.
Foi nessa noite que a ponta do véu – e do caralho! – se levantou relativamente à sexualidade dele. Desesperada com a sua dormência peniana, que não reagia agora nem sequer às suas lambidelas sábias, num gesto de pura inspiração acabou por enfiar-lhe sem aviso o dedo indicador no olho do cu! A resposta foi milagrosa… Em menos de dois segundos tinha à sua frente o maior pau que já tinha visto na vida, uma verdadeira picha de urso!
– Mas então… É disto que tu gostas? – interrogou-se Ela, mais para si do que para Ele.
– Não sei… Se calhar… – Ele ia começar a desenvolver o tema, mas Ela não deixou.
– Cala-te!
E intuindo, pelo que tirava do momento, a possibilidade (não a certeza) de Ele gostar de homens, recomendou-lhe que fechasse os olhos. Dessa forma, o imaginário d’Ele ficava livre para fabricar o parceiro que quisesse, enquanto Ela aproveitava a “parte sólida” da sua ilusão.
Ele assim fez e, sem emitir um único som que pudesse denunciar que naquela cena entrava uma mulher, Ela sentou-se em cima dele, sentindo finalmente o caralho entrar até bem fundo da cona. Com uma ginástica assinalável, pois era difícil fodê-lo naquela posição mantendo o dedo dentro do cu d’Ele, cavalgou-o durante muito tempo. Teve o domínio de espírito para só se permitir gemer no momento em que, finalmente, Ele lhe proporcionou um orgasmo! Então, revirou-se toda e veio-se ruidosamente, arrastadamente, sem conseguir distinguir se era um orgasmo muito longo ou se eram dois que se tinham pegado um ao outro! Foi estranho mas completamente satisfatório, pois traduzia um desejo acumulado há meses…
Como Ele mantivesse a picha mais ou menos tesa, Ela tirou-se do seu colo e abocanhou-o. Iniciou então um vai e vem muito rápido com um dedo dentro do seu cu, enquanto com a outra mão lhe batia uma punheta firme, bem agarrada e com ritmo forte e constante.
Nunca deixou de o chupar e foi com grande prazer que recebeu uma abundante descarga de esporra quente na boca.
Ele grunhiu como um porco e, mentalmente, ela visualizou uma plateia a bater palmas… Agora sim, eram um casal!
Nos dias seguintes, sem pudor, radiantes por terem encontrado uma forma de se satisfazerem, repetiram o ritual, variando-o dentro do possível. Por uma questão de conforto, decidiram passar a vendar-lhe os olhos. Ele mantinha o cuidado de andar sempre de cu lavado e Ela, sempre que lhe apetecia, arrombava-o à base de dedos.
Agora fazia-o pôr-se em pé com facilidade, aproveitava-lhe a firmeza para saciar a racha e fazia-o vir-se sempre que queria. Tinham igualmente ensaiado outras modalidades, como a simulação masculina, em que Ela o enrabava com um grande vibrador à cintura, o que o fazia delirar.
Foram tempos felizes, porque a casa deles parecia enfim o ninho de uns recém-casados: uma casa que cheirava a suor, a pés, a cona, a cus, e onde se multiplicavam evidentes vestígios de esporradelas nas paredes, no resguardo do edredão e no forro dos sofás. Ela adorava aquela porcalhice, excitava-a, fazia com que passasse os dias a pensar em sexo… Um paraíso em toda a ordem!
Tinham entretanto, obviamente, discutido a questão dele. O facto de gostar de carícias anais não fazia dele, como não faz de nenhum homem, homossexual. Quanto muito, define esse homem como alguém aberto a explorar sem preconceitos a sua sexualidade. Se um homossexual sente prazer na estimulação da próstata, não há nenhuma razão física para que um heterossexual não o sinta também. A biologia é exactamente a mesma, o centro do prazer tem a mesma origem, pelo que é apenas e absolutamente natural.
Mas, seria esse o caso d’Ele? A resposta era… não! Na realidade, a partir de uma certa altura ele resignara-se à evidência de que não respondia aos apelos femininos. Não no que ao sexo dizia respeito, porque no resto era um confesso amante das mulheres. Preferia a sua sensibilidade à camaradagem masculina e encontrava muito mais prazer na sua companhia que em qualquer evento de male bonding. Por isso se apaixonara por Ela, por isso desejara mais do que qualquer outra coisa na vida casar com Ela. Tinha, no entanto, aquele problema de solidez que limitava a total expressão do seu amor…
Assumida a questão nesses termos, mais força e legitimidade sentiu Ela no processo que tinham arranjado de comunicar sexualmente. E sentiu-se orgulhosa da maturidade de ambos!
Foi no final de uma das suas sessões que Ela teve então a ideia que mudaria para sempre as suas vidas. Por satisfatório que fosse aquele estado de coisas, ia-se tornando repetitivo. Ele não funcionava sem algo a penetrar-lhe o ânus e Ela estava um pouco cansada de ter que esconder o seu lado feminino. Para além disso, foder assim obrigava-a a contorcionismos que o seu pobre corpinho nem sempre conseguia articular, o que amiúde resultava frustrante para os dois. Assim, sugeriu que acrescentassem à mistura o elemento que evidentemente estava em falta: outro homem!
Sabiam exactamente o que queriam e não foi difícil encontrar candidatos, que responderam às dezenas ao anúncio que colocaram no jornal:
«Casal jovem e bem resolvido procura homem bissexual para encontros românticos.»
Simples e sugestivo. Mais difícil acabou por ser eleger, dentre todos, o que parecia mais “certo”. A escolha acabou por incidir num jovem de raça africana, com uns dentes muito brancos e um pau muito preto, e bastante bem dotado.
O Outro confessou que nunca tinha feito aquilo que lhe pediam, mas acrescentou que achava amorosa a forma original que tinham encontrado para resolver aquele problema que, para a maioria dos casais, teria transformado o casamento num pesadelo.
– Realmente, o amor é capaz de vencer todos os obstáculos. E de aproximar as maiores diferenças…
Foi esse lado sensível que os cativou.
A partir daí, os 3 dedicaram-se a criar, explorar e desenvolver todo um novo léxico sexual. No primeiro dia, Ela deitou-se de lado, Ele penetrou-a por trás e O Outro enrabou-o a Ele.
Mas foi no dia seguinte que perceberam a fórmula que melhor convinha a todos... Então, ela continuou no fim da fila, penetrada agora pel’O Outro e Ele, com aquele cu preto aberto e à disposição, enrabou-o com potência e delícia!
Observada pelo grande espelho que tinham no quarto, aquela “sanduiche” resultava numa imagem bastante excitante e curiosa. Foi Ela quem primeiro reparou:
– Olhem!
E eles viraram-se para ver aquele estranho compósito que, às camadas, dispunha um corpo branco, depois um corpo preto, depois outro corpo branco…
– Parece que estamos a foder com papel químico!
E riram todos às gargalhadas.
O que era para ser uma simples prestação de serviços, rapidamente redundou em paixão. Isso mesmo, verdadeira paixão! Tanto Ele como Ela se apaixonaram pel’O Outro, e este correspondia inteira e genuinamente a ambos.
Tanto quanto sei, vivem na mesma casa há praticamente ano e meio. Aproveitando uma aberta providencial, conseguiram alugar o andar superior ao deles e, com muita discrição, à revelia do senhorio, fizeram uma entrada vertical que liga ambos os apartamentos. Desta forma, ninguém no prédio desconfia que a ligação deles vai mais além de meros vizinhos. De resto, pouco tempo passam no andar de cima, que basicamente lhes serve de arrecadação.
Os três vivem como “casal”, dormem na mesma cama, partilham tarefas e fodem-se em todas as variantes possíveis numa equação a 3.
Não há limites nem variações proibidas e só uma regra foi imposta: têm sempre que estar os 3 presentes! Ou seja, não são permitidas escapadinhas em dupla que possam de alguma forma pôr em causa aquela harmonia tão bem conseguida.
Tirando isso, todos os broches, minetes, fodas e enrabadelas são democráticos e em regime de livre-trânsito. O nível de intimidade evoluiu de tal forma entre todos que Ele já consegue foder qualquer um dos outros dois sem ter que sentir um pau no cu. Para Ela, isso significa a perfeição, pois praticamente já só admite ser fodida em dupla penetração. É das tais coisas que, uma vez experienciadas, se torna difícil voltar atrás...
Segundo me disseram, o maior desejo de todos era poderem casar oficialmente. Seria a forma mais plena de consumarem os seus sentimentos. É uma pena que a sociedade, condicionada pelo moralismo religioso que a vem assaltando ao longo dos séculos, não o permita legalmente. Porque Ele, Ela e O Outro são a prova final de que não existe uma única fórmula de institucionalizar os vínculos amorosos entre os Homens.
Ou, melhor, existe: a fórmula do amor, a que decorre dos nossos desejos mais honestos. Essa é a única que estará sempre certa!
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com