27 May, 2021 Capuchinho Vermelho
Armando Sarilhos revisita os clássicos! Episódio um...
ERA UMA VEZ uma linda menina que vivia no bosque e a quem todos chamavam, carinhosamente, Capuchinho Vermelho. Chamavam-lhe assim porque, fizesse chuva ou fizesse sol, nunca tirava aquela merda, que se algum dia a despisse ficava de pé sem precisar de corpo que a sustivesse, tamanha era a sujidade que a modelava. Aquilo metia nojo mas, como as pessoas na época destas histórias eram pouco asseadas, não se metiam com ela.
Na verdade, a Capuchinho Vermelho precisava daqueles trajes para tapar um pequeno problema que tinha, que era ser peludinha muito para além de onde as meninas o devem ser. Aliás, quando nasceu a mãe pensou que tinha dado à luz um bezerro. Depois lavaram-na e viram que não era assim tanto, era mais como um rato pelado. Mas, como andava sempre tapada, ninguém sabia e achavam-na muito ladina.
Um dia a mãe chamou-a e pediu-lhe um favor:
- Coloquei neste cesto um bolo e um pote de mel. Leva-o à avozinha, que tem andado adoentada. Mas Capuchinho, tem cuidado! Não te desvies do teu caminho e não fales com desconhecidos.
- Sim, mãe, farei como dizes - prometeu a Capuchinho Vermelho.
- És uma boa menina, Capuchinho. Agora anda, lambe a cona à mãe antes de ires.
- Sim, mamã, com prazer – mentiu ela, porque a mãe nunca se lavava por baixo e meter a cabeça entre as pernas dela era pior do que ir ao aterro despejar os penicos.
Finalmente pôs-se em marcha e ia alegremente a coçar as miudezas pelo bosque quando, de repente, lhe salta um pintas de trás de um arbusto. Era um marau conhecido por todos como o Lobo Mau, não por ser de má índole mas por gostar de espalhar a semente pelos rebanhos das vizinhanças.
A Capuchinho reconheceu-o logo. Ficou conhecido quando o apanharam a ir ao cu à Rosi, que era a ovelha premiada do presidente da junta. Quando lhe perguntaram porque tinha enrabado o animal em vez de lho meter pela racha, já que era fêmea, respondeu que era por saber bem demais por onde ela tinha andado. Disse-o sem tirar os olhos de cima do presidente da junta, o que imediatamente silenciou os protestos dos outros pastores, todos eles sabedores de que, se o julgamento algum dia lhes chegasse, não seriam considerados menos culpados que os agora visados.
O amor ao rebanho não era coisa que se escondesse muito naqueles lugares e até já salvara casamentos.
A partir daí, os homens passaram a temer o Lobo Mau e as mulheres a olhá-lo com curiosidade, desaconselhando-o umas às outras mas cada uma delas desejando sucumbir às más inclinações que a sua aura rebelde lhes sugeria.
Este era pois o personagem que interpelava a nossa heroína e que, antecedido pela sua fama, a fez deliberadamente escorrer uma gotinha para a cueca.
Com a sua voz mafiosa, o Lobo disse-lhe:
- Olá Capuchinho Vermelho! Prazer em conhecer-te, finalmente. Já tinha ido bater à tua porta, por ouvir falar da tua candura e beleza. Mas a tua mãe nunca me deixou entrar. Sinceramente, não me pareceu minimamente interessada na tua educação. Já eu, interesso-me muito pela natureza humana e há muito tempo que não via um cuzinho tão redondo como o teu.
A Capuchinho Vermelho achou que o Lobo Mau era muito simpático, ao contrário do que toda a gente dizia, até mesmo a sua mãe. Mesmo assim, respondeu-lhe:
- Desculpe Sr. Lobo, mas a minha mãe proibiu-me de falar com pessoas que não conheço.
- E como podes conhecer-me se não falas comigo? Vês, é um paradoxo.
Claro que não era paradoxo nenhum, o Lobo Mau nem sabia o que paradoxo queria dizer, mas sabia que usando a sua estupidez como arma sobre a estupidez dos demais acabaria por parecer sempre o mais esperto. Era assim que enganava toda a gente e muitos pensavam que ia acabar na política.
A Capuchinho ficou logo caídinha por ele.
- Diz-me, coisa linda, onde vais com essa cesta?
- Vou ver a minha avozinha e levar-lhe um bolo e um pote de mel.
- Ai sim? Volta e meia passa aqui malta com mochilas, mas é sobretudo ganza. Tens a certeza de que não tens praí um charrinho para a malta?
A Capuchinho riu, mesmo sem ter fumado nada.
- Olha, e onde vive a tua avozinha?
- Vive numa casinha perto do lago, junto a uma grande árvore.
O lobo, já com água na boca, pensou:
- Nham nham, hoje não vou passar fome!
E disse-lhe:
- Bem, Capuchinho Vermelho, gostei de te conhecer mas agora vou andando…
- O quê?! - estremeceu a Capuchinho - Então é isto? O perigo contra o qual todas as minhas amigas me avisaram? O afamado cretino detecta uma jovem inocente e desprotegida pelo bosque, mete o rabo entre as pernas e vai-se embora sem tomates sequer para a violar!? Que bela merda de lobo me saíste! Tu não és um lobo mau, és um lobo péssimo. És um mau Mau!
- Mereço tau tau...
- Para além disso, tens cara de cão e esse palito que usas ao canto da boca fica-te ridículo. Não és propriamente o Jack Nickolson, isso não é para ti...
O lobo ao princípio ficou chateado com as afirmações desafiantes da Capuchinho, mas conseguiu controlar-se e mostrar toda a sua experiência e maturidade, em vez de sucumbir à afronta.
- Ainda és muito nova para perceberes muita coisa. Mas não perdes por esperar. Algo me diz que nos voltaremos a ver.
- Espero já perder os óculos quando esse dia longínquo chegar.
E o lobo lá abalou a correr muito decidido, deixando a Capuchinho Vermelho com os pintelhos todos empapados. Teve que subir as saias e baixar as cuecas e bater duas meias punhetas para acalmar. Todo o bosque ficou em silêncio, fixo no flap flap que os seus dedos ágeis produziam no sexo, o único murmúrio perceptível em redor.
Lá sei veio para cima das coníferas e, mais aliviada, a Capuchinho seguiu então caminho para casa da avozinha, que a estas horas já devia estar a trepar pelas paredes pelo bolo e pelo mel. Desde muito nova ficara viciada em açúcar e coisas más aconteciam quando não era alimentada a horas certas.
Por esta altura, o Lobo, que era muito esperto e manhoso, já tinha chegado pelo atalho até casa da avozinha. Bateu e de dentro da casa responderam:
- Quem é?
E o lobo disse, com voz fina:
- É a Capuchinho Vermelho e trago um bolo e um pote de mel para ti, avozinha.
A avó, que já estava deitada na cama a ver os seus sites kinky, respondeu:
- Porque é que estás com uma voz tão fina, filha? Tens bronquite? Geralmente pareces o Leonard Cohen. Deixa lá de fazer essa voz parva de menina com que falas com a tua mãe e fala com a avó como a avó gosta. A mim não tens que enganar!
O lobo, sem perceber nada, pigarreou e experimentou falar normalmente.
- Tenho estado naqueles dias do mês. Assim está melhor?
- Assim, sim. Podes entrar minha querida, a porta está aberta.
O Lobo Mau abriu a porta e, sem fazer barulho, foi direito ao quarto da avozinha. Mal abriu a porta, deu com a velha de joelhos preparada para se lhe lançar à gaita! O lobo nem teve tempo de pestanejar...
A brochista chupava com tanta força que se viam os vincos da dentadura nas bochechas. O lobo até tinha a impressão de ver a barriga a esvaziar, tão sugado se sentia pelo pipo.
Finalmente a idosa levantou-se, pôs-se de gatas, desviou só um bocadinho o cuecame e abriu os lábios do cu, que lhe saltavam até mais ou menos a meio das nádegas.
- Só a avó sabe os belos tomates que tens entre as perninhas. E esse belo cacete que todos os dias parece mais fortalecido. Tens metido o pepino no cu como a avó ensinou, não tens? Mete que faz os olhos bonitos e a verga dura. Vá, minha querida, come a avozinha!
Quase a desmaiar, o lobo só a muito custo chegou a entender o que se passava. Que era o seguinte: a avozinha não desconfiava de nada, pensava que o Lobo era a sua neta, porque era a única que sabia que Capuchinho Vermelho não era uma menina! Era, em vez disso, um belo rapaz, humano arraçado com Toni Ramos. Era a outra razão porque nunca largava a sua capa escarlate. Debaixo daquela coisa sebenta e entre as perninhas peludas de marsupial, não se camuflava afinal a gruta da virtude, antes pendulava um belo marzapio, alegre totem de tantas passadas e futuras depravações.
Finalmente o Lobo percebia tudo. Isso fê-lo sentir-se socialmente deprimido, sem esperança na humanidade e, por uma vez, sentiu-se mesmo mau.
Perdido por perdido, pensou, fechou os olhos para não ver as misérias e enfiou a narça tesa no cu da avozinha. Já não estava para contemplações.
- Mete que faz os olhos bonitos!
E comeu-lhe o cu até ela se vir pela boca. Esse foi o problema...
A avozinha há que tempos que não se vinha assim e foi aí que se deu a tragédia. Atirou-se a um último gemido que já não parecia dela e não conseguiu voltar. Ficou-se ali mesmo, no acto, padecida de todas as coisas e de si mesma. Começou logo a inteiriçar e só não cheirava mal porque naquela altura as pessoas pouco se lavavam e mínimos eram os ambientes perfumados onde pudessem conviver e contrastar.
Nisto, bateram à porta - porque nas histórias, nas piores alturas, há sempre alguém que bate à porta. Sem tempo para respirar, o Lobo somou rapidamente dois mais dois mas não conseguiu chegar ao resultado. Menos mal que calculou que devia ser a Capuchinho. Provavelmente tinha estado no bosque a batê-las e decidira por fim seguir para a casa da avozinha, com o seu rabinho redondo e a sua cesta com bolo e mel.
Então o lobo, que também tinha os seus kinks, vestiu às pressas um roupão da avozinha, enfiou a touca que lhe arrancou da moleira, colocou no nariz os óculos da velha e enfiou-se na cama, cobrindo-se muito bem com uma manta. Ficou com ar de quem se prepara para falar exaustivamente sobre doenças e remédios.
- Está alguém em casa? Avozinha?
Ao que o lobo, respondeu:
- Entra, minha querida netinha, estou no quarto. A Capuchinho dirigiu-se ao quarto e ao chegar lá viu o Lobo Mau disfarçado de avozinha. Vá-se lá saber que tipo de cogumelos tinha encontrado no bosque, mas achou que era mesmo ela. Aproximou-se da cama e só então achou que qualquer coisa estava diferente. Só não sabia o quê. Por isso, pôs-se a dar palpites:
- Ó avó, é impressão minha ou as tuas orelhas estão maiores?
E o lobo disfarçado, respondeu:
- São para te ouvir melhor.
E a Capuchinho continuou:
- E tens uns olhos tão grandes!
Ao que o lobo respondeu:
- Isso é da branca. Já disse a mim mesmo que ia parar, mas não consigo.
- Mas ó avozinha, porque tens uma boca tão grande?
- É para te comer melhor!
Nisto, a Capuchinho puxou muito subitamente as cobertas da cama, desmascarando o Lobo Mau – ou isso pensava ele.
- Comer-me como?!
Agora era a Capuchinho que tinha os olhos muito arregalados, tentando procurar entre os pequenos testículos do lobo qualquer coisa que se assemelhasse a um caralho. Se era frio ou timidez não sabia, a verdade é que o lobo de repente parecia realmente diminuído.
- Mostra-me uma maminha que isto já arrebita – implorou o lobo, murcho e em desespero.
- Espera lá, tu não és a minha avozinha!
- Como é que sabes?
- Porque só a minha avó sabe que eu não tenho maminhas!
O lobo deu uma chapada na própria testa.
- É verdade, porra! Esqueci-me…
- Assim como ela também não. É tão macho como eu!
O lobo ficou atónito. Pensava que tinha ido ao cu a uma velha mas afinal fora ao cu ao... avozinho!
Não era que fosse esquisito nessas coisas, mas não se conformava que naquela família andassem a enganar toda a gente. Pelos vistos, todas as mulheres da família tinham uma verga no meio das pernas, como um sinal de nascença.
- Foi a minha avó que me começou a vestir de menina quando era pequeno. Ninguém queria saber de mim e ela fazia comigo o que lhe apetecia. Era a boneca dela. Depois ensinou-me que era muito mais divertido “ser uma menina”. Tenho 27 anos e tirando o facto de ter que me barbear todos os dias, não tenho razões de queixa.
- Irra, que me levaste bem, meu grande maroto.
O lobo ficou mais bem disposto, agora que sabia toda a verdade.
- Tens a certeza que a tua mãe é uma gaja?
- Estás a dizer o quê, que nasci pelo cu?
E riram muito os dois da piada, agora cúmplices por partilharem o segredo da Capuchinho.
- Queres que te chupe o caralho à mesma? - disse a Capuchinho, sempre amável.
- Se depois me deixares ir-te ao cu…
A Capuchinho anuiu e dedicaram-ser contiguamente às artes do broche e da enrabadela.
Quando apareceu o caçador (não pensem que ficava esquecido) também lhe foram ambos ao cu, mas neste caso não era amor, foi mesmo porque o lobo não gostava de pessoas que tiravam uma licença do governo para dar tiros aos animais.
Toda esporrada, a Capuchinho Vermelho abraçou o lobo e prometeu que nunca mais ia ligar ao que a mãe dizia. Só a voltava a visitar para lhe gamar o cheque da Segurança Social.
Depois, ela, o lobo, o avozinho, mesmo um bocado falecido como estava, e o caçador comeram-se todos uns aos outros com o bolo e o mel e uma pinguinha de early grey, felizes por tudo ter acabado bem.
FIM
Armando Sarilhos
Armando Sarilhos
O cérebro é o órgão sexual mais poderoso do ser humano. É nele que tudo começa: os nossos desejos, as nossas fantasias, os nossos devaneios. Por isso me atiro às histórias como me atiro ao sexo: de cabeça.
Na escrita é a mente que viaja, mas a resposta física é real. Assim como no sexo, tudo é animal, mas com ciência. Aqui só com palavras. Mas com a mesma tesão.
Críticas, sugestões para contos ou outras, contactar: armando.sarilhos.xx@gmail.com