12 Oktober, 2018 Violência Domestica: Eu também passei por isso...
No meu passado, também eu passei por isso...
Este mês a violência doméstica tem sido mais uma vez tema! É sempre daqueles assuntos sensíveis e polémicos! A minha opinião sobre o assunto? É mais complicado do que a maioria pensa!
No meu passado também eu passei por isso, todas nós parecemos muito duronas até estarmos numa situação mais fragilizada.
O nosso mundo desaba quando levamos a primeira chapada e a partir daí, tudo agrava e das chapadas ao murro e pontapés, a constantes humilhações verbais é muito rápido.
Quando o respeito se perde e se ultrapassa a barreira, não há como voltar atrás, nunca nada irá ser como antes e a situação só se irá agravar.
Quem nunca passou por isso interroga-se porque é que há mulheres que se sujeitam a isso e não se revoltam, não abandonam os companheiros, não fogem, etc.
Cada uma terá com toda a certeza a sua historia, eu só poderei contar a minha.
Inicialmente, demorei a assimilar o que me estava a acontecer, namorava há alguns anos, tinha-me juntado há menos de 6 meses quando fui agredida pela primeira vez!
Senti-me humilhada e envergonhada e por isso, guardei segredo. As agressões foram-se agravando e descontrolando, saindo inclusive das paredes da minha casa, e começaram a acontecer no meu local de trabalho, na rua, supermercados, etc...
Chegou ao ponto em que não tinha como esconder e todos à minha volta já se tinham apercebido, mas tal como eu, não sabiam lidar com a situação.
As partes práticas que me levaram a demorar anos a sair da situação: tinha uma casa comprada, uma vida a dois com tudo o que é inerente, contas conjuntas, carros, ordenados juntos que suportavam todos os custos de vida, e sim, uma vida confortável, sem me faltar nada, até com alguns luxos, empregada em casa, férias várias vezes ao ano, um nível de vida acima da média que o meu ordenado sozinho não conseguia suportar.
Quando resolvi dar um basta, perdi tudo, a minha casa, o meu carro, todos os bens que tinha na casa, dinheiro no banco...
Tive de iniciar uma nova vida apenas com algumas roupas numa mochila, e nós sabemos que isso não é fácil. Provavelmente, quem ler este texto vai pensar «perdeste tudo, mas ao menos não levavas porrada nem eras humilhada». Verdade, têm toda a razão, mas também não é fácil morar numa casa onde chove lá dentro, sem gás ou luz porque é aquilo que os nossos ordenados permitem pagar, e interrogamo-nos se valeu a pena.
Penso, muitas vezes, e se eu não tivesse posto um ponto final naquela altura, como seria a minha vida hoje? Provavelmente, nunca me teria tornado uma «webcamgirl», onde todos os dias sou humilhada devido ao meu trabalho. Às vezes, as agressões verbais, psicológicas, que a «sociedade nos provoca», a mim, principalmente, na actividade que hoje desempenho, magoam muito mais do que aquilo que passei!
Resumindo: Nenhuma mulher se deve sujeitar a ser agredida fisicamente ou verbalmente no seu lar, deve lutar por sair dessa situação, não sentir vergonha porque acontece mais vezes do que julgamos.
Mas são necessários mais apoios para estas mulheres - passar necessidades, ou ir viver para abrigos, muitas vezes, não é solução nem é suficiente e faz com que as vítimas voltem para os seus agressores, ou tomem rumos na vida como o meu.
E se leram este texto e estão a pensar que existem homens que são monstros e mulheres fracas, enganam-se! No meu caso, fui agredida pela minha «namorada» - mulher com quem tive uma relação durante 7 anos.
Se vivem num pesadelo e procuram uma saída, contactem a APAV - foi o que eu fiz e ainda que não seja perfeita, é a melhor associação de apoio a vítima em Portugal.
Muita força a todas: não estão sós!
LINHA DE APOIO À VÍTIMA
116 006 | Chamada gratuita | Dias úteis 09h-21h
TugaEris
www.tugaeriscam.com