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29 Mai, 2016 Relax para um

Nem todas as galerias têm quadros.

Quando falamos em Gallery no contexto de relax, podemos estar a referir-nos tanto à última exposição de arte moderna na zona de Belém como também à casa mais icónica da nossa capital e onde também se pode contemplar arte viva. 

Relax para um

A casa fez o seu nome, a sua clientela e também a sua reputação, porque mesmo para quem não seja um habitué da vida noctívaga de flute de champagne na mão, o nome continua a ser sinónimo de qualidade. Perguntem a qualquer um dos vossos amigos se consegue dizer o nome de um Night Club em Lisboa onde se consiga reunir glamour, requinte e perfume francês e o nome que surge é sempre o mesmo.

Não sou cliente habitual, confesso.

Nem do Gallery, nem de outra casa que ganhe vida quando a cidade desliga o interruptor do trabalho e acende a luz da diversão. Talvez seja da idade, do cansaço ou de já ter vivido a minha quota parte de aventuras. Por entre a também conhecida vizinhança da Duque de Loulé, o discreto Gallery dispensa o brilho exterior do neon porque emite uma luz muito própria, luz essa que só entrando nos consegue cegar.

A minha aventura no Gallery (e única até à data) surge no inicio da década de 2000, quando um grande amigo meu me convida para ir fazer de figurante no público de um reality show numa noite de fim de semana. Para quem nunca esteve nesse tipo de programas para além do sofá, deixem-me dizer-vos que é uma tremenda seca. Bate palmas. Não bate palmas. Bate palmas. Não bate palmas. Por “sorte”, ficamos sentados em dois lugares perfeitamente visiveís na transmissão em directo e recebo um “sms” da minha namorada da altura a dizer que nos estava a ver. Bate palmas. Não bate palmas. Bate palmas. Fartámo-nos, passado pouco tempo desta monotonia e começámos os dois a trocar SMS lado a lado a escolher algum sítio para nos escapulirmos.

“Vamos ao Gallery!”

Gallery? Nome passado por entre conversas de amigos e nas histórias dos mais velhos, mas nunca antes me tinha passado pela cabeça ir visitar o “tal” sítio. Aproveitamos um intervalo para nos esgueirar-mos entre as cadeiras do restante público e apressamo-nos a ir buscar o carro. Na minha cabeça, tantas perguntas. Vamos ao Gallery? Mas vamos lá fazer o quê? E vou bem assim vestido? O que é que eu digo à porta?

“Aquilo é um sítio igual aos outros. Dizes boa noite, entras e sentas-te a beber um copo e a falar. O que é que tem de especial? Tudo o resto. Mas já vês.”

Fiquei na mesma. Se é para me sentar a beber um copo, mais vale ir para um bar como os outros. Estacionamos com alguma dificuldade, mas isso é uma tradição tão lisboeta como as marchas. Por alguma razão, tenho a sensação que me esqueci de algo mas assim que passo as portas do Gallery não pensei mais nisso. A luz ambiente recebeu-nos como uma anfitriã em vestido de noite e convidou os olhos a percorrer o resto da sala. Mas mais impressionante do que o bom gosto na decoração do espaço, é a decoração da companhia feminina que ornamentava de forma sublime a sala. Tremi. A forma como me olhavam, faziam-me sentir o homem mais importante do mundo, como se tivessem estado todo este tempo à espera. Aproxima-se uma rapariga, uns anos mais velha que eu mas com cara de menina. Ela cumprimentou-me. Disse-me o nome, mas eu não me recordo. Nem agora e nem na altura, porque fiquei estático da cabeça aos pés. Ela cheirava tão bem. Meteu a mão no meu ombro e disse-me para relaxar, tendo achado piada ao meu nervosismo adolescente. Sentámo-nos, rimos, bebemos. Não tirei os olhos daquela rapariga, nem ela de mim.

“Onde é que estás? Não te estou a ver…”

Mensagem recebida da minha namorada que, naquele momento, era uma vaga memória de uma vida rotineira terrena e longe deste paraíso no Céu.

Tivemos de ir, porque ser apanhado em fuga em directo pela televisão é algo que não desejo a ninguém. Fui despedir-me da desconhecida que me parecia cada vez mais conhecida de longa data.

Ainda não foi desta que apanhei o nome dela, mas jamais esquecerei aquele perfume.

Um dia, vou voltar ao Gallery. Talvez hoje.

Bom fim de semana.

Noé

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