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14 Enero, 2023 A infância define a vida adulta?

O ambiente onde se nasce pode ser problemático e até violento. Vamos então falar disso, pois é, muitas vezes, uma análise controversa.

A infância define a vida adulta?

Nos Estados Unidos, leva-se em atenção a infância das pessoas que estão no corredor da morte. É algo recente, pois a pena de morte era baseada no histórico criminoso do indivíduo.

Atualmente, muitas penas estão a ser comutadas a prisão perpétua devido à infância do indivíduo.

Nas várias entrevistas que dá, o indivíduo começa por contar como foi a sua infância, justifica assim os seus atos, personalidade e predisposição. É como se tivessem sempre vivido dentro de uma casa sem portas ou janelas, onde o sol nunca nasceu – nunca houve uma hipótese, alguém que confrontava o comportamento, alguém que ajudasse, um amigo, um professor, um patrão, e etc....

Depois, há aqueles que tiveram uma infância perfeita, cheia de oportunidades, amor, e, ainda assim, decidiram ser criminosos. Como se explica isso?

É aqui que a controvérsia entra, pois não se compreende com rigor analítico o que originou estas decisões. Tornam-se então axiomáticas, o que dá origem a uma explicação de vários distúrbios de personalidade. Para cada caso é dado um parecer da personalidade do indivíduo.

É então escrita, validada e dita ao indivíduo.

Agora, vamos falar de um outro exemplo...

O professor e escritor Frank McCourt que, em 1997, ganhou o prémio Pulitzer com o seu livro ”As cinzas de Ângela”. É um drama biográfico que está disponível na Netlfix e que retrata a sua infância vivida na Irlanda católica.

McCourt viveu em extrema pobreza, fome, com um pai alcoólico e, muitas vezes, ia para a escola sem sapatos. Apesar de tudo, tinha o sonho de ir para a América. Esse sonho, no meio de tanta dificuldade, torna-se esperança, uma pequena janela meio aberta, onde se via uma pequena luz a romper, mesmo nos dias mais escuros da sua vida.

Com fome 24h por dia, ia aproveitando as pequeníssimas portas que se iam abrindo - um patrão que acreditou nele e lhe deu trabalho; um professor que o disciplinava e também lhe ensinava princípios, valores morais, que aliviava a sua dor, dizendo-lhe para não ter vergonha de ser pobre; um padre que, através da confissão, o fez libertar da sua culpa e vergonha; uma tia que acreditou nele; uma menina enferma com tuberculose que fez amor com ele.

Finalmente, conseguiu ir para a América com 19 anos e, pouco tempo depois, entrou para a Universidade de Nova York.

Em vez de escolher tornar-se um criminoso com a justificativa da sua infância, decidiu ter um sonho e agarrar os ensejos que a vida lhe ia dando.

Não há nada mais cansativo do que ouvir histórias de infância que são usadas para justificar comportamentos e atitudes. Basicamente, é um grito: “tenham pena de mim”!

É muito bonito ouvir histórias de infância quando essas pessoas procuram as “tais janelas”. Quando isso acontece são levadas para ensejos maravilhosos.

É tudo por agora.

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