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29 Septiembre, 2022 Produção de conteúdos: porque as mulheres andam a gravar mais com outras mulheres?

Na última semana, vi uma publicação no Twitter que gerou uma certa polémica entre os criadores de conteúdo de língua inglesa...

Produção de conteúdos: porque as mulheres andam a gravar mais com outras mulheres?

Tratava-se de um rapaz a dizer algo como:

"Se as criadoras de conteúdo quisessem mesmo ajudar os criadores de conteúdo, deveriam fazer mais vídeos H/M. E se não fazem este tipo de conteúdo porque têm namorados, é porque o parceiro é inseguro."

Não é preciso dizer que o rapaz em questão foi massacrado de várias formas por várias criadoras de conteúdo. E, sinceramente, não tiro a razão delas e vou citar aqui alguns argumentos dados em diversos tweets:

  • Ter um relacionamento com regras não é sinal de insegurança do parceiro
  • Viveram experiências desagradáveis e traumáticas durante gravações com homens
  • Sentirem-se inseguras em estar sozinhas com um homem desconhecido
  • Sentirem-se mais à vontade em gravar com mulheres
  • Serem heterossexuais, mas gravarem com mulheres apenas pelo dinheiro.

Se existe aqui alguma insegurança, nada tem a ver com namorados ou maridos, mas sim com o facto de não nos sentirmos seguras com alguém que não conhecemos, ou com quem sequer temos alguma intimidade.

Quando um homem se relaciona com uma criadora de conteúdo e sabe sobre o trabalho dela, pode ou não aceitar que ela grave com outros homens, como ele pode ou não querer gravar com ela também. Tudo depende do que eles acordaram dentro do relacionamento deles e, está tudo bem - o que eles acordaram é somente entre eles e isso não é da conta dos outros.

Vejam bem... Eu, como webcam girl e criadora de conteúdo adulto, como não faço encontros fora da Internet, prefiro muito mais trabalhar com mulheres e, esta escolha segue até para quando algum fotógrafo entra em contacto comigo a oferecer uma sessão de fotos em troca de divulgação. E isto nada tem a ver com os parceiros que eu tive.

Sou eu quem prefiro não me relacionar profissionalmente neste mercado com outros homens e, o motivo disto é simples: a minha própria segurança.

Como é óbvio, eu sei que conteúdos de sexo e web shows de casais dão mais dinheiro do que a solo e não preciso que ninguém me explique isso quando me vêm abordar, como sempre acontece. Se eu e outras criadoras de conteúdo e webcam girls preferem trabalhar sozinhas é pela nossa própria segurança.

Todas nós recebemos propostas de rapazes para trabalhar connosco quase diariamente, propostas estas que vão desde namoro associado a trabalho - produzir conteúdos e fazer shows na webcam, até algumas mais na lata, onde já mandam logo mensagem a dizer que querem começar a criar conteúdo adulto e que querem gravar connosco.

Houve ainda o caso de um rapaz que mandou mensagem a mim e a várias outras meninas, a oferecer alimentação e cama para dormir, caso estivesse muito tarde para voltar para a casa depois de gravar. Este fez-me rir porque se o que ele ofereceu é o mínimo que já se espera em dates comuns, imaginem para criar conteúdo, que demora e é cansativo!

É necessário perceber que o motivo pelo qual é mais fácil para mulheres ganharem dinheiro com a produção de conteúdo adulto, é porque quem consome mais pornografia são homens. Por isso, quando algum cliente vem a mim e diz que vai começar a produzir conteúdo adulto a solo, eu pergunto se ele está aberto para atender a pedidos de outros homens, especialmente homens gays e bissexuais e, isto volta para uma resposta que algumas criadoras de conteúdo deram ao rapaz do tweet mencionado no início:

  • Que ao invés de reclamar que as mulheres andam a produzir mais conteúdo com outras mulheres do que com homens, ele deveria passar a produzir conteúdo com rapazes.

Sim, eu sei que para homens heterossexuais é mais difícil produzir conteúdo para outros homens, mas a verdade é que se quer fazer apenas com mulheres, é melhor ter lá uma conversa a sério com a sua própria namorada e propor de fazer isso com ela, ao invés de sair a mandar mensagens para várias criadoras de conteúdo, que sequer viram a sua cara na vida.

Se não tiver uma namorada para fazer conteúdos, o jeito é quebrar tabus e dançar conforme a música, ou seja, produzir conteúdos voltados para outros homens.

Nós, como mulheres, não nos sentimos seguras ao estarmos sozinhas com um homem desconhecido e, até mesmo quem faz convívio, dificilmente vai dizer que se sente plenamente segura quando está com algum cliente.

Se tem dúvida e acha que estou a exagerar, faça às mulheres do seu convívio a seguinte questão:

“Se a colocassem num quarto trancada e sozinha com alguém totalmente desconhecido, você se sentiria mais segura se fosse com um homem ou com uma mulher? E porquê?”

Depois de obter as respostas, faça as contas e tire as suas próprias conclusões.

Mas, voltando ao assunto principal, alguém deve estar a pensar que é muito mais fácil duas mulheres totalmente desconhecidas produzirem conteúdo juntas.

E a minha resposta é: depende.

É sexo na mesma, às vezes há química, outras vezes não. Portanto, pode correr bem e ficar algo natural, como pode parecer forçado e isto é facilmente notado por quem assiste.

Já vi tantos vídeos de lésbicas onde tudo era tão falso, que dava para ver a cara de nojo de algumas atrizes ao ter de lamber a outra e a tensão em fingir que estavam a gostar. Ao invés de dar-me tusa, fazia-me voltar à pesquisa e procurar algo que parecesse mais real.

Como exemplo pessoal, quando finalmente resolvi gravar com uma rapariga, queria fazer algo realmente verdadeiro e inspirei-me num filme da Angela White com a Kissa Sins. Esse filme foi produzido por uma diretora e mostrava entrevistas a contar como foi todo o processo, desde o momento em que comunicaram às duas que elas iriam gravar juntas.

Antes do dia das gravações, as duas conversaram muito, criaram uma conexão e, quando finalmente gravaram, a coisa toda foi tão intensa que dá para ver essa intensidade real nas duas, é lindo!

E claro, eu queria ter uma conexão com alguém que fosse pelo menos parecida com o que a Angela e a Kissa criaram. Portanto, não podia ser qualquer pessoa.

A escolha de com quem eu queria gravar não foi difícil: Ariel Rose.
É uma mulher que, para além de ser gira e fazer meu tipo, é maravilhosa em todos os aspetos!
Nós já conversávamos há algum tempo e estávamos a tentar produzir algo juntas desde março, mas por uma incompatibilidade de agendas e por morarmos em zonas diferentes do país, nunca deu certo, até que finalmente aconteceu.

E posso dizer que foi umas das experiências mais prazerosas que tive, não só pelo prazer de estar com ela, mas pela recepção, pelas horas de conversas, pelos passeios que fizemos na cidade dela, pela cumplicidade e intimidade que criamos ainda mais naqueles poucos dias.

Foram apenas 4 dias que passei com ela, mas quando há química entre duas pessoas, as coisas fluem e pode-se aproveitar bem! E aproveitamos tanto que gravamos 3 vídeos, 2 já lançados e, muito brevemente, vamos lançar mais 1 e gravar mais outro.

Agora que já contei um bocado da minha experiência pessoal em gravar com outra mulher, finalizo com a resposta para a pergunta que já deve estar a pairar na cabeça de alguns rapazes que chegaram até este ponto da leitura:

"Não, não estou disponível para gravar com rapazes e, se for para fazê-lo, será com alguém do meu círculo pessoal de amigos, ou seja, com alguém que eu já conheça pessoalmente, frequente os mesmos sítios por onde ando e com quem eu já tenha intimidade.”

E lembrem-se, assim como as criadoras de conteúdo independentes do estrangeiro preferem gravar com mulheres ou com homens que elas já conhecem, cá em Portugal, todas as que eu tenho contacto, também preferem.

Por mais que Portugal seja mais seguro, a exposição à violência sexual é a mesma em qualquer lado do mundo e em qualquer classe social. Portanto, como mulheres, colocaremos sempre a nossa própria segurança em primeiro lugar quando formos escolher alguém para produzir conteúdo junto.

Quanto ao rapaz do tweet, sinceramente nem sei que fim tomou. Mas acho que com aquela reclamação, talvez ele tenha conseguido cancelar-se a si mesmo e anular qualquer chance que tinha de produzir conteúdo com outras mulheres. Afinal, como bem sabemos, “a Internet não perdoa” e vai sempre ter alguém com um print para expor qualquer coisa depois.

Um beijinho!

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F.

Suzana F. é mente aberta, observadora e crítica por natureza. Apaixonada por literatura, ama ler e escrever sobre sexo. 

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