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09 November, 2015 Não lhe perdoam ter sido trabalhadora do sexo num filme...

Actriz brutalmente agredida. Polícia e médicos recusam-lhe ajuda.

A actriz marroquina Loubna Abidar está refugiada em França, depois de ter sido brutalmente agredida no seu país natal, onde a polícia e os médicos recusaram socorrê-la. Isto por causa do seu papel como trabalhadora do sexo no filme "Much Loved".

Não lhe perdoam ter sido trabalhadora do sexo num filme...

Loubna Abidar fez o papel da trabalhadora do sexo Noha no filme "Much Loved", do conceituado realizador franco-marroquino Nabil Ayouch.

O filme sobre trabalhadoras do sexo foi proibido em Marrocos por relatar a história de quatro mulheres que se dedicam à prostituição, tema tabu no país africano, sob um ponto de vista bastante realista e com um olhar humano sobre aquelas que se dedicam a esta prática.

Quando a polémica estalou, Loubna Abidar teve que ficar escondida e protegida por guarda-costas durante uns tempos, juntamente com as outras actrizes do filme.

Acabou por ter que sair de Marrocos, durante três meses, até a poeira assentar. E quando regressou, chegou a andar de burqa, para não ser reconhecida.

Mas acabou por ser vítima de uma violenta agressão, em Casablanca, como a própria Loubna Abidar denunciou através da sua página do Facebook, onde publicou também fotos que ilustram a barbaridade do que sofreu.

LoubnaAbidarAgredida

Loubna Abidar ainda publicou um vídeo onde explica, em árabe, aquilo que lhe aconteceu.

"Fui vítima de uma agressão em Casablanca. Nenhuma esquadra, nem o hospital me quiseram aceitar. Toda a gente se ria de mim e dizia: finalmente, bateram-te Abidar! Tudo isto porque fiz um filme que não viram. Viram aquilo que escolheram mostrar-lhes."

A polícia da Casablanca nega as acusações de Loubna Abidar e garante que foi a actriz que recusou assinar a denúncia e fornecer detalhes sobre o local e as circunstâncias da agressão.

Certo é que Loubna Abidar chegou a ameaçar pedir "asilo político", caso o Rei Mohammed VI ou o chefe de governo de Marrocos não a recebessem em 48 horas. Mas acabou por desistir da ideia e refugiou-se em França, onde está actualmente.

LoubnaAbidar

Em Setembro passado, ela tinha confessado numa entrevista que tinha sido preciso coragem para fazer este filme num país tão conservador como Marrocos.

"Eu disse para mim: um homem tem a coragem de fazer um filme sobre estas mulheres e eu, terei medo? Como mulher, também deveria ter coragem. E depois, o filme seria feito por Nabil Ayouch, o nosso grande realizador. Trabalhar com ele era um sonho... E dizia-me também: se não fizermos este filme agora, quando é que o faremos? Dizem-nos sempre que a sociedade marroquina vai mudar, que isso acabará por acontecer um dia. Eu prefiro que esse dia seja hoje."

Ela também confessou, noutra entrevista a um site francês, como tinha muita vontade de fazer este filme e como lutou pelo papel.

"No bairro onde cresci, vivia lado a lado com estas mulheres e sempre as respeitei. E, pela primeira vez, íamos falar delas sem as condenar, com boa vontade. Íamos mostrar que elas não são miseráveis, mas guerreiras."

O tráfico sexual de mulheres e o próprio trabalho sexual são actividades com interesse económico para Marrocos, embora ilegais, impulsionando um certo tipo de turismo.

E é por isso que as autoridades fecham muitas vezes os olhos. E a própria sociedade marroquina prefere olhar para o lado e fingir que não vê uma realidade bem presente.

Ora "Much Loved" colocou a temática no centro das discussões, tanto mais transformando as trabalhadoras do sexo em mulheres marroquinas como todas as outras.

Circunstância inaceitável para os mais conservadores e que levou até a família de Loubna Abidar a rejeitá-la, como a própria lamentou na referida entrevista.

"À excepção do meu irmão e da minha irmã, o resto da minha família, os primos, primas, todos me viraram as costas acreditando que fiz mal à mulher marroquina, que este filme lança o opróbrio sobre todas as mulheres árabes, quando é precisamente o contrário. Só espero que um dia, Much Loved seja exibido em Marrocos e que, então, todos mudarão de ideias."

Loubna Abidar também faz questão de se definir como muçulmana, ressalvando contudo que a forma como encara a religião é bem diferente do modo como alguns a vêem.

"Sou muçulmana, mas o Islamismo que pratico é o do amor. Fazer o bem ao outro e receber o bem, eis a minha religião. O Islão do ódio não é o meu."

Gina Maria

Gina Maria

Jornalista de formação e escritora por paixão, escreve sobre sexualidade, Trabalho Sexual e questões ligadas à realidade de profissionais do sexo.

"Uma pessoa só tem o direito de olhar outra de cima para baixo para a ajudar a levantar-se." [versão de citação de Gabriel García Márquez]

+ ginamariaxxx@gmail.com (vendas e propostas sexuais dispensam-se, por favor! Opiniões, críticas construtivas e sugestões são sempre bem-vindas) 

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